Quem passa pelo balão do Recanto das Emas com certeza já reparou nas esculturas que ficam na entrada da região, dividindo o Recanto e o Riacho Fundo. Mas, há alguns dias, os moradores e motoristas estão sentindo falta das obras de arte e se perguntando: onde estão as emas? O Correio esteve no local para “procurar” as aves de concreto e descobrir a opinião da população sobre o cartão-postal da cidade.
Quem está preocupado pode ficar tranquilo. As emas estão guardadas temporariamente no gramado da Administração Regional até que a construção do viaduto seja finalizada. De acordo com a gestão da cidade, a previsão é de que a obra acabe em até um ano. O objetivo é desafogar o trânsito dos quase 60 mil veículos que trafegam por dia na via. “Tivemos que fazer a remoção por causa do início das obras, no começo deste mês. Elas estão na sede da Administração, em um lugar seguro e acessível para a comunidade”, afirma o administrador da cidade, Carlos Dalvan.
Durante o transporte, foram retiradas as pernas de uma delas. Segundo Dalvan, a estrutura estava fraca e podia colocar em risco os responsáveis pelo deslocamento. “No final das obras, elas serão restauradas. O artista que as criou já se colocou à disposição para fazer essa restauração”, assegura o administrador.
O artista plástico Carlos Alberto Mendes, mais conhecido como Roberto da Ema, foi o responsável por criar o símbolo da cidade. Ele conta que foi o segundo morador da região e que recebeu o convite para criar as obras assim que chegou ao local, em 1992. “Tenho uma filha e fazia vários artesanatos para ela, como corujas e outros bichinhos. E aí me perguntaram se eu tinha condições de criar uma ema de 4 metros. Eu aceitei”, lembra.
Durante o transporte, as pernas da ema se quebraram e o escultor fez um ninho para colocá-la em cima. No ano seguinte, o artesão fez outra escultura para acompanhar a primeira. “Como o nome da cidade é no plural, vimos a necessidade de fazermos mais uma para acompanhar”, explica.
Carlos Alberto afirma ter orgulho do trabalho até hoje: “Todo o material foi cedido pelo comércio local da época. Depois, teve a minha mão de obra. Foi muito gratificante e, em seguida, veio o crescimento do Recanto”. Não é para menos, afinal, o sucesso das obras atravessa fronteiras. “Minhas emas são reconhecidas. Amigos da Flórida (EUA) já me ligaram dizendo que elas apareceram na TV de lá, que são referência internacional.”
Futuro
O destino das emas estará nas mãos da população. A gestão local vai abrir uma enquete para que os moradores possam votar se desejam as irmãzinhas no balão ou próximas ao viaduto construído. “Vamos ter alguns canteiros e a comunidade vai decidir em qual vai ser”, diz Carlos Dalvan.
Para a aposentada Neusa Alves, 59 anos, as emas devem ficar na entrada da cidade como referência. “É um ponto mais estratégico, na divisa do Recanto com o Riacho Fundo. Esse é o certo, porque é um cartão-postal. Eu sempre falo para quem vem me visitar ‘olha, é onde tem duas emas’”, opina.
A autônoma Ivone Sá, 54, tem a mesma visão sobre o destino das obras. “Sou neutra, mas eu acho que fica mais bonitinho na entrada mesmo. É o símbolo da cidade e não fica legal no viaduto. Eu acho bonito. É uma forma de dizer: ‘pode entrar, seja bem-vindo’”, pontua.
Mas há quem discorde. O comerciante Victor Lucas Santos Soares, 20 anos, acredita que as obras no viaduto podem dar outra cara para a cidade. “Pode ser bem interessante em outro local. Só não podem tirar”, ressalta. Victor também comenta sobre o simbolismo das aves de concreto na região. “Essa escultura é muito importante aqui. Toda vez que tem algum evento, elas são pintadas. Quando tem Copa do Mundo, por exemplo, colocam uma camisa do Brasil”, destaca.
E as pernas?
A pergunta que não quer calar é: as duas emas vão ter pernas ou não? Segundo Carlos Dalvan, o administrador da cidade, apenas a ave mais leve vai ter as pernas reconstruídas. A outra permanece do jeito que está, afinal, a população se acostumou a vê-la assim.
Roberto das Emas diz que não gostou de ver suas esculturas retiradas do balão. “Vamos aguardar esse viaduto sair, que eu esteja lá para retomar minhas obras de arte, que foram praticamente demolidas. Eles cortaram as pernas e ficaram duas emas anãs, do mesmo tamanho”, desabafa.
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