A pandemia de covid-19 trouxe ao mundo (e às pessoas) grandes desafios. De fato, é surpreendente a velocidade com a qual a ciência conseguiu desenvolver vacinas eficazes, cuja aplicação já está mostrando resultados nos países que conseguiram disponibilizá-las à sua população, como Israel, Reino Unido e Estados Unidos. Mas resta sempre a dúvida, espalhada por aqueles que não (re)conhecem a ciência, se todas são eficazes e seguras.
As vacinas que estão hoje sendo aplicadas em diferentes países, não importa de qual fabricante, passaram por rigorosos testes. O Brasil participou de vários destes testes, que foram auditados pela nossa agência reguladora, a Anvisa. Aliás, fomos escolhidos como população — alvo destes testes — porque, de fato, sempre tivemos uma grande circulação do vírus dentre nós (infelizmente).
Pois bem, os testes mostraram que as vacinas protegem as pessoas de sintomas graves da doença de maneira inequívoca. Isso é fato, não achismo. Portanto, a adesão e a ampliação da vacinação são absolutamente mandatórias. Qual seria então o ‘prazo de validade’ dessas vacinas? Ou seja, por quanto tempo elas se manterão eficazes e os indivíduos vacinados protegidos (mesmo dos efeitos graves)?
Essa pergunta não tem uma resposta fácil, até porque não tivemos tempo ainda para respondê-la, mas os estudos mostram que a imunidade dos indivíduos recuperados da doença e vacinados é robusta, sendo ativados os diversos componentes do sistema imune. Isso sugere uma durabilidade comparável aos padrões de outras vacinas já em uso, como a da gripe. No entanto, a duração da imunidade também depende de um outro fator fundamental: o vírus.
Os vírus, como todos os seres vivos, sofrem modificações, chamadas de mutações. Como eles se reproduzem mais rapidamente que qualquer outro organismo vivo conhecido, em pouco tempo muitas mutações podem ser acumuladas no seu genoma. Essas mutações levam a modificações no próprio vírus que podem ter várias consequências, por exemplo o aumento da transmissibilidade, a capacidade de infectar diferentes células humanas e até a capacidade de burlar, pelo menos em parte, as defesas do nosso corpo.
Como os vírus não conseguem se reproduzir fora de nossas células, ou seja, só se reproduzem e acumulam mutações quando estão nos infectando, o acúmulo de mutações e o surgimento das novas variantes estão intimamente relacionados ao grau de circulação do vírus na população. Portanto, a ausência de medidas restritivas eficazes e a ineficiência em disponibilizar vacinas para a população aumentam a infecção, a reprodução do vírus e o risco de que muitas mutações sejam acumuladas.
Isso nos leva, desde já, à preocupação com a atualização das vacinas, introduzindo as mutações das novas variantes, como fazemos anualmente com a vacina da gripe. Quanto maior for a circulação do vírus e quanto mais demorarmos a vacinar as pessoas, mais chance daremos para o surgimento de novos vírus mutados e resistentes às nossas defesas. Portanto, por pior que seja o cenário econômico, não há alternativa: temos que diminuir a circulação do vírus usando as medidas sanitárias já amplamente divulgadas, restringindo com rigor a circulação das pessoas e conseguir, de fato, vacinar, o mais rápido possível, toda a população brasileira.
Andréa Maranhão é
professora de imunologia
no Instituto de Biologia da
Universidade de Brasília (UnB)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.