TRABALHO SOCIAL

Projeto que ajuda mulheres de baixa renda a empreender busca financiamento

Projeto Todas Elas, da Fundação Assis Chateaubriand (FAC), abre campanha de financiamento coletivo para receber recursos destinados à formação profissional das participantes. Iniciativa atende mulheres de baixa renda de todo o Distrito Federal

Pedro Marra
postado em 22/03/2021 06:00 / atualizado em 22/03/2021 10:56
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Desenvolvido pela Fundação Assis Chateaubriand (FAC), o projeto Todas Elas — voltado para ajudar mulheres de baixa renda do Distrito Federal a empreender — está com uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar R$ 36 mil. A quantia será destinada para a capacitação de 70 participantes, que poderão investir no próprio desempenho profissional. A proposta contará, ainda, com reforço do Fórum Impacta+, de iniciativa nacional, que triplicará a ajuda monetária, oferecendo R$ 2 para cada R$ 1 doado.

Em 2020, o Todas Elas transformou a vida de 600 mulheres do DF. Uma delas é Maria Ana Gomez da Silva Oliveira, 27 anos, vendedora de chocolates desde os 15. Em 2004, ela trabalhou como auxiliar administrativa em uma empresa de engenharia, mas largou o posto para investir no próprio negócio. “Eu comercializava os bombons para pagar meu curso de administração, que havia deixado no primeiro semestre por não conseguir pagar as mensalidades. Agora, com meu negócio mais organizado, quero fazer serviços sociais e investir no trabalho de mães solo em cidades carentes, ensinando a arte da culinária para que elas possam ter renda também”, diz a dona da loja Bombom Crochê da Mary.

Maria Ana mora na Estrutural, com o marido e os dois filhos: uma menina de 5 anos e um menino de 2. “Meu esposo trabalha no aeroporto (de Brasília) por quatro horas e ganha menos de um salário-mínimo (R$ 1,1 mil). Essa era a maior renda de minha família. Quando participei do Todas Elas, consegui ver meu trabalho de forma mais profissional. Então, na parte da tarde, passei a cuidar da empresa, da produção e das entregas — feitas pelo meu marido. Essa é minha rotina após o curso. Antes, eu fazia as coisas na hora em que eu podia e no dia que era necessário”, relata.

Nas aulas do projeto, Maria Ana desenvolveu habilidades administrativas e financeiras. As dicas ajudaram-na a detalhar o balanço mensal das vendas e a separar a vida comercial da pessoal nas mídias sociais. “Agora, vejo meu negócio como um negócio. É uma pequena empresa, mas me vejo como uma empreendedora. No curso, trabalhamos a parte motivacional também. Primeiro, a das mulheres em si; depois, a das mulheres profissionais”, comenta a vendedora.

Coordenadora do projeto, Mayane Burti adianta que a expectativa para este ano é de apoiar 4 mil mulheres no Distrito Federal. “Vamos viabilizar outros apoios para divulgar a primeira turma, em maio, com cerca de 300 a 400 participantes. O curso é todo gravado, então tivemos facilidade com acesso às aulas, mas elas também podem tirar dúvidas ao vivo”, detalha.

Novo olhar

Moradora de Sobradinho, Vanuzia Santos, 29, dá aulas particulares por ensino a distância para 15 estudantes que não têm assistência presencial de professores. Formada em administração de empresas, ela está no último semestre do curso de pedagogia e conta que o projeto Todas Elas a ajudou como profissional. “Quando comecei a faculdade, prestava auxílio para colegas, mas não sabia como cobrar. Às vezes, eu tinha de elaborar plano de aula, mas não sabia administrar minhas finanças pessoais, por um preço em meu serviço, valorizar-me e não ter medo de estabelecer um valor condizente como fiz”, observa.

Em maio, Vanuzia havia deixado um trabalho como secretária em uma loja de portões eletrônicos, mas, ao lado do marido, precisava garantir o sustento dos filhos. “Fiquei em casa no meio da pandemia e fiz o curso com a ideia de passar o tempo. Mas, nas primeiras aulas, vi que era algo que impactaria minha vida e me ajudaria durante a crise. Com o dinheiro que ganho dando aula, ajudo minha família em casa, onde moro com três crianças, de 12, de 10 e de 3 anos”, conta a empreendedora.

Devido à criação que teve, a professora chegou a acreditar, por um período, que apenas homens tinham espaço no mercado de trabalho. No entanto, essa visão mudou. “Dentro de mim, alguma coisa me falava que eu podia, sim. Esses pensamentos marcaram minha vida. Eu ficava travada por não conseguir conversar com as pessoas, algo que era uma influência do passado. Só que a mulher tem vez, sim. Ela pode estar no lugar em que quiser. Então, daquele tempo para cá, mudei minha mentalidade sobre nosso papel na sociedade”, acrescenta Vanuzia.

Incentivo

A coordenadora Mayane Burti explica que os grupos incluem, ainda, a figura da mobilizadora social. Cada time de 100 futuras empreendedoras de uma região administrativa conta com uma dessas participantes, escolhida para prestar auxílio em todas as atividades. “Ela é a melhor amiga da mulher do início ao fim do curso, dando apoio na matemática e na organização dos planos. Elas atendem todos os dias, pelo WhatsApp e pelo Facebook. As inscritas saem se sentindo mais fortes e enxergando o próprio potencial”, destaca Mayane.

Diana Maria Gama Costa, 46, é uma das mobilizadoras; ela acompanha um grupo de Ceilândia. “Meu trabalho é baseado na acolhida e no empoderamento das mulheres assistidas pelo programa. E também ofereço auxílio em questões pessoais. Digo sempre que elas são capazes de concluir o curso e que, apesar de fazerem faxina ou de venderem produtos de porta em porta, já são empreendedoras, pois conciliar o curso com a rotina de mãe, chefe de família não é fácil”, comenta Diana.

Janaína Pereira, 43, conhece bem essa situação. Formada em comunicação social, ela foi demitida de um escritório de serviços administrativos em janeiro de 2020, pouco depois de ter o segundo filho. Com o projeto, pôde dar primeiro passo para abrir o próprio negócio, a loja virtual Doces da Jana DF. “Foi um presente, porque eu precisava dessa atividade. Fiz o curso e comecei a aplicar tudo que aprendi. Criei formas de atender as pessoas na pandemia, com kits de aniversário, por exemplo. E as aulas me ajudaram muito, porque comecei a ter outra visão das coisas. O projeto me fez acreditar que vender doces podia ser uma atividade profissional”, completa a moradora de Samambaia Norte.

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