SOLIDARIEDADE

Rede do bem: saiba como ajudar instituições de acolhimento do DF na pandemia

Abrigos e creches que cuidam de menores em situação de vulnerabilidade precisam arrecadar dinheiro, alimentos, roupas e material de higiene e limpeza para manter atividades durante a crise sanitária

Jéssica Moura
postado em 30/03/2021 06:00
As brincadeiras se dividem com a necessidade de garantir o alimento na mesa -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
As brincadeiras se dividem com a necessidade de garantir o alimento na mesa - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

“Tio, já acabou (a pandemia)? Quando vai chegar a vacina para a gente?”. São essas as perguntas que fazem as crianças que vivem no abrigo Nosso Lar, no Núcleo Bandeirante, diante da ansiedade pelo fim da pandemia do novo coronavírus. Mas para esses jovens que vivem em abrigos ou são assistidos por creches, há, ainda, outra preocupação: vai ter comida para o mês inteiro?

A economia doméstica nessas instituições é semelhante à de uma residência, só que a proporção é multiplicada em várias vezes, pois nas casas acolhedoras a “família” é formada pelas crianças e funcionários. Com o agravamento da crise sanitária e a queda de quase 50% nas arrecadações, os administradores do Nosso Lar, tiveram de se adaptar.

“A gente tem de se reinventar e ir mudando o cardápio. Não podemos viver só de arroz e feijão, tem a proteína que a gente precisa também. A gente instituiu dois dias sem carne e colocou ovo. Macarrão tem quase todos os dias, mas, às vezes, falta o molho”, relata o administrador Paulo Sérgio Cerqueira. “Precisamos de leite em pó, suco, biscoito, flocão e roupas, que estão usando mais”.

Além disso, com as escolas públicas fechadas, Paulo Sérgio adaptou dois cômodos da instituição que viraram uma sala de informática e outro, uma sala de aula, onde podem fazer as atividades escolares. “Compramos computadores e recebemos alguns tablets e vamos tentar usar”, acrescenta. Para entreter as meninas e meninos ao longo do dia, ele diz que eles já possuem muitos brinquedos. “Conseguimos doações de bicicletas e eles se revezam. O bom mesmo é doar itens coletivos”.

  • Paulo Sérgio Cerqueira relata que, algumas vezes, tem de ligar para algum amigo e pedir ajuda
    Paulo Sérgio Cerqueira relata que, algumas vezes, tem de ligar para um amigo e pedir ajuda Minervino Júnior/CB/D.A Press

Assistência

No Lar São José, em Taguatinga, são 70 crianças e adolescentes assistidos, de 0 a 18 anos. “A gente vive em parte de doações em parte da ajuda do governo”, frisou a coordenadora do local, Lunia Lopes. Por lá, as doações vêm caindo desde setembro.

Além das crianças, a instituição apoia os jovens que completam a maioridade e têm de deixar o local. “No começo da pandemia, a gente conseguia dar uma assistência a esses meninos egressos, entregar cesta básica e kit de limpeza. Com a queda das doações, isso a gente não consegue mais”, diz Lunia. E a redução nas arrecadações também é percebida no prato dos que ficam: “Eles perguntam: ‘Tia, não tem biscoito? Ou estou com vontade de comer pipoca’. Doces, que as crianças gostam, não tem mais”, relata Lunia. “Esperamos que as doações continuem chegando para que a gente possa dar esse suporte”.

Variedade

“Com o início do ano letivo, a gente faz campanha por material escolar, estamos precisando muito, não tem suficiente para todos”, reforça Lunia. Móveis, utensílios de casa, roupas íntimas e roupas para adolescentes também são necessários. “Recebemos todo tipo de doação, novos ou usados”.

Quando os estoques baixam e as doações não são suficientes, o jeito é contar com a rede de contatos. “Volta e meia tenho que ligar para algum amigo para socorrer”, diz Paulo Sérgio. As doações têm sido recebidas nos portões para evitar o contato entre as pessoas, ou por transferências bancárias.

  • Outra preocupação é higienizar os alimentos para manter o coronavírus do lado de fora dos lares de acolhimento
    Outra preocupação é higienizar os alimentos para manter o coronavírus do lado de fora dos lares de acolhimento Minervino Júnior/CB/D.A Press

Outro item que se tornou mais raro em meio à pandemia, que exige o distanciamento social, é o abraço. “As visitas diminuíram e têm duração menor. Os meninos ainda participavam de atividades no contraturno escolar, mas tudo foi cortado e também não estamos mais recebendo voluntários que faziam atividades com eles”, explica Lunia.

No Nosso Lar, o contato das crianças se restringe aos funcionários. “Acabou essa história de ir para a aula, não tem visita, estão bem isolados. A gente teve que sair para vacinar alguns deles, fomos de máscara, e saíram comemorando porque estávamos indo ao posto. Foram tomar injeção e ficaram felizes, brincando com os outros que não saíram”, lembra Paulo.

Creches

As creches e organizações não governamentais também contam com o apoio da comunidade e de programas do governo para a manutenção das atividades, e, sem as arrecadações, muitas operam no limite. Na creche Pedacinho do Céu, no Itapoã, os estoques estão quase zerados, e ainda tenta se recuperar das perdas de um assalto.

“Nossa luz está cortada, nossa (conta de) água é de quase R$ 10 mil. Essa doença afetou também os pais dos alunos, estamos correndo para conseguir padrinhos para manter as portas abertas. O que tem chegado é pouco, não tem dado para ajudar”, lamenta Cleonice Silva, que dirige o local.

Uma das opções para ajudar é doar os alimentos, ou depositar o valor na conta da instituição. “Às vezes, chegam arroz e feijão, mas faltam a fruta, a verdura, o frango, o ovo para a gente comprar”. Toda a alimentação vai para as crianças de 6 meses a 10 anos que frequentam a creche.

Comida é prioridade

O Instituto Doando Vida, na Estrutural, recebe gratuitamente crianças de 2 até 6 anos incompletos, moradoras da Santa Luzia. “A gente faz a seleção de acordo com a condição financeira nutricional da família”, ressalta a diretora Luciana Andrade. Lá, as crianças passam o dia: chegam cedo e fazem quatro refeições. “Não fosse isso, ficariam na rua”, diz Luciana. Durante a pandemia, a creche passou por períodos de fechamento e, nesses casos, as ações eram voltadas para a distribuição de cestas básicas. “Alimento, para mim, é o ponto número 1 para elas”, destacou. “Se doarem leite, seria excelente, porque não vem na cesta básica”.

As doações vêm de todos os lados: “Uma pessoa da própria Estrutural trouxe uma vez uma caixa de sabão em pó. Ganhou três caixas da patroa e doou uma”, conta Luciana. “A gente só está de pé, nessa pandemia, graças à bondade no coração das pessoas. Tem outras contas também: a gente vive de aluguel, paga luz, água e 15 funcionários, tudo isso com doações”, afirmou.

Além das 66 crianças, a creche apoia outras 200 famílias, que não conseguiram vagas na instituição, repassando alimentos, que, além de doações de pessoas físicas e empresas, a instituição recebe oriundos do Banco de Alimentos do Ceasa e do Mesa Brasil. Assim, além da cesta básica, são entregues frutas e legumes e, também, kit de higiene pessoal.

Por isso, o celular de Luciana não para de tocar com novas notificações. “Recebo muitas mensagens de gente pedindo ajuda”. “Não só da Estrutural, mas pessoas de Ceilândia, Brazlândia, ligam para se cadastrar”. Em busca de apoio, muitos vão à porta da instituição. “Pedem para cadastrar”. Ela tem esperança de que mais doações virão para ampliar a oferta. “A população de Brasília tem o coração do tamanho do mundo e tem nos ajudado”.

Instituições que precisam de apoio

Lar São José - Taguatinga - 3491-0265

Nosso Lar - Núcleo Bandeirante - 98483-6854

Creche Pedacinho do Céu - Itapoã - 99236-9027

Instituto Doando Vida - Estrutural - 98114-2211

Abrigo dos Excepcionais - Ceilândia - 3585-1905

Casa de Ismael - Asa Norte - 3272-4731

Lar Infantil Chico Xavier - Núcleo Bandeirante - 3386-0460

Saiba como fazer a diferença

» Antes de fazer a doação, entre em contato com as instituições para saber a necessidade de itens
» Na dúvida, o ideal é depositar o valor em dinheiro para que as instituições comprem o que falta

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