A reforma ministerial feita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta semana colocou dois nomes da política do Distrito Federal no primeiro escalão nacional. A ida de Anderson Torres da Secretaria de Segurança Pública para o Ministério da Justiça e da deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) para a chefia da Secretaria de Governo confirmam que as recentes mudanças no cenário, como a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara, fortaleceram atores do cenário local.
Nos bastidores, a avaliação de parlamentares e de nomes ligados ao poder no Distrito Federal é de que é inegável que as mudanças dão força para o governo local e devem facilitar o trânsito para pleitos do DF com o Palácio do Planalto. O movimento reforça a postura do governador Ibaneis Rocha (MDB) de evitar desentendimentos com o presidente. Chegou a haver um movimento para que Ibaneis se filiasse ao PP, presidido por Ciro Nogueira, e pleiteasse uma posição como candidato a vice de Bolsonaro em 2022. A ideia arrefeceu, mas não está completamente fora de questão.
O cientista político André Rosa ressalta que a chegada de dois nomes do DF ao ministério consolida lideranças da capital em posição de destaque no cenário nacional. “Isso é interessante para o DF, porque o coloca em altos postos do poder. É bom para o DF para termos players no âmbito federal no mais alto escalão e estimula outras lideranças a buscar ocupar esses espaços”, defende.
Rosa destaca que a posição ocupada agora por Flávia Arruda pode facilitar a busca por investimentos para a capital, pois a parlamentar mantém bom diálogo com o governo local. “O DF vai conseguir ter acesso maior às lideranças. A Segov é importantíssima para o DF porque hoje, pela forma como estão distribuídos os recursos para os estados, governadores precisam de contato com o Governo Federal para conseguir mais”, observa. “A postura do governador também vai nesse caminho. Há divergências, mas há um entendimento e alinhamento de ambas as partes, o que pode ser bom para Ibaneis conseguir recursos para Brasília e mais agendas com o Planalto.”
Laços mantidos
Anderson Torres trocou a secretaria de Segurança Pública pelo Ministério da Justiça, mas continuou sendo ouvido no GDF. Ele defendeu que ficasse à frente da pasta o, até então, secretário executivo, Júlio Danilo Souza Ferreira. Os dois são delegados da Polícia Federal. Ibaneis concordou com a indicação e efetivou Ferreira no cargo. No início do mandato, o governador buscou a bênção de Bolsonaro para a escolha de Anderson.
A manutenção de um nome próximo ao agora ministro é um sinal de que o diálogo entre as pastas local e nacional seguirá aberto. O novo secretário afirmou que a gestão será de continuidade do trabalho conduzido por Anderson (leia Três perguntas para).
Uma fonte próxima ao governador e ao novo secretário garantiu que a única mudança mais significativa na segurança será a troca do comando da Polícia Militar. Ainda não há um nome definido. Policial militar da reserva, o deputado distrital Hermeto (MDB), líder do governo na Câmara Legislativa, participará do processo de escolha do novo comandante.
Substituto
Na Câmara dos Deputados, Flávia Arruda será substituída por Laerte Bessa (PR). Bessa deixou a Câmara em 2018 e chegou a ser cotado para assumir um cargo no governo Ibaneis, mas ficou fora do quadro. O parlamentar se afastou dos holofotes em 2020. A última aparição de destaque de Bessa foi um registro, em vídeo, de ameaça dele a um porteiro do prédio em que mora, em novembro de 2019.
Flávia Arruda estava na presidência da Comissão do Orçamento, o que já abriu portas para que o DF conseguisse emplacar recursos na previsão do Governo Federal. Entretanto o texto do grupo presidido por ela foi aprovado na semana passada, e um novo presidente já seria eleito em breve para comandar as discussões para a peça de 2022.
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Três perguntas / Júlio Danilo Souza Ferreira, secretário de Segurança Pública do DF
Qual será a linha da sua gestão?
A ideia é dar continuidade ao trabalho. O doutor Anderson conduziu sempre muito bem a secretaria. Isso se vê pelos resultados obtidos e pelos projetos em andamento. As palavras principais são continuidade e aprimoramento. Temos uma equipe bem coesa e vamos trabalhar juntos em busca de melhora dos índices.
A ida do ex-secretário Anderson para o Ministério da Justiça abre portas para o DF?
A presença dele no governo federal vai também estreitar os laços. O Ministério da Justiça pode ter esse vínculo direto. Isso possibilita não só que se possa trazer recursos, mas também que o DF possa ser um ambiente aberto para os projetos desenvolvidos lá. A ida dele para o ministério não só coroa o trabalho na secretaria como traz benefícios para o DF.
Houve um trabalho em busca de pacificação entre as corporações até agora. Isso seguirá como prioridade?
Uma grande marca da gestão foi a integração das forças. Isso impacta diretamente nos bons índices. Quando se tem forças trabalhando de forma integrada, os resultados que temos são positivos. Esta é uma das metas que vamos continuar perseguindo e trabalhando de forma conjunta. A própria diretriz é que continuemos numa política de integração.