LITERATURA

Resistência no mundo literário, sebos se reinventam durante a pandemia

Com o abre e fecha do comércio durante a pandemia, donos de sebos tiveram de se reinventar e partiram para as vendas on-line. Apesar do cenário, livreiros mantêm-se positivos

Ana Maria da Silva
postado em 01/04/2021 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

As dúvidas e medos dos empresários com o abre e fecha do comércio durante a pandemia também afetaram os sebos do Distrito Federal. Afinal, como reinventar o negócio em meio à crise? Sem poder receber clientes durante boa parte da crise sanitária, os vendedores de livros raros e antigos, também conhecidos como livreiros, tornaram-se símbolo de resistência da leitura no quadradinho.

Apesar dos grandes desafios, o mercado tem conseguido se adaptar às novas realidades, segundo pesquisa promovida pelo Painel do Varejo de Livros no Brasil. De acordo com levantamento, 2021 começou com forte crescimento em volume e valor. O faturamento do mercado brasileiro de livros, em fevereiro, cresceu 10,43%, e o número de unidades vendidas aumentou 19,02%, em relação ao mesmo período do ano anterior.

Além das grandes livrarias, o reflexo desse aumento atinge os sebos de Brasília. Os estudantes universitários e livreiros Carolina Sales Cardoso, 25 anos, e Geraldo Edson Gomes dos Santos, 31, são donos do Sebo Linhas Brasília, que funciona desde 2014. “O sebo funcionava presencialmente na Universidade de Brasília (UnB), mas durante a pandemia nos adaptamos para ser um sebo virtual”, explica Carolina.

As mudanças ajudaram no faturamento. “Teve um aumento interessante na procura e nas vendas. Aparentemente, algumas pessoas resolveram aproveitar o momento de isolamento para ler”, conta a livreira. Ela defende que o aumento das vendas é mérito das histórias contadas nos livros. “Além de ser uma maneira fantástica de o leitor viajar sem sair do lugar, se prevenindo em casa, é uma válvula de escape e oportunidade de adquirir novos conhecimentos. Os sebos, no geral, são uma excelente alternativa, tanto pela questão de economia, uma vez que os preços de livros novos no Brasil são bastante inflacionados, quanto pela maior diversidade de títulos de diferentes épocas, temas e assuntos”, defende. Ela conta que mantém os cuidados para manter a clientela. “Os livros sempre são esterilizados com álcool 70 quando chegam na nossa residência, durante a curadoria e depois, quando saem para a entrega ou envio”, diz.


Importância

A professora da UnB especialista em psicologia da leitura Diva Albuquerque Maciel explica a importância da leitura no período de pandemia. “É algo fundamental. Mesmo que estejamos mergulhados na leitura informativa, os textos mais ligeiros e superficiais também são lidos. Nesse período de isolamento, quem gosta de ler não tem motivo para ficar entediado. O livro é sempre uma boa companhia”, defende.

Para a professora, o aumento nas vendas de livros físicos se justifica, principalmente, nas leituras infantis. “Acredito que as pessoas devem estar comprando muito pela internet, e que as escolas estejam orientando os pais para que busquem mais livros para os filhos. O texto literário torna-se, durante o isolamento que estamos vivendo, uma forma de entretenimento”, completa.

Dona do Sebo do Gama, a professora e livreira Alana Nunes Viana, 30, conta que a ideia de abrir o sebo surgiu da falta de livrarias na cidade. “Comecei como vendedora, desde o início da loja. O fundador não conseguiu conciliar com o outro trabalho, e então me fez a proposta de tocar o projeto. Como era apaixonada pelo sebo e pela feira, aceitei na hora”, diz. De acordo com Alana, o sebo foi aberto em uma feira, justamente para ter acesso a todos os públicos. “Ninguém espera ir numa feira e encontrar um local que venda livros”, pondera.

Por ser do grupo de risco, a livreira conta que desde de antes do primeiro lockdown já havia adotado medidas de segurança. “Com o fechamento obrigatório, eu fiz o que a maioria das pessoas que são autônomas fizeram: investir em redes sociais, e eu mesma faço as entregas uma vez por semana”, diz. Apesar das reclamações de parte dos comerciantes, a livreira defende o fechamento do comércio. “Os números são assustadores! Esse abre e fecha apenas piora a situação econômica, atrasa ainda mais a tal retomada. O governo tem que fazer seu papel e auxiliar novamente as áreas não essenciais”, explica.

Para ajudar nas vendas, Alanda mantém os atendimentos on-line e entregas em domicílio, com bilhetes lembrando os clientes para manter o cuidado com o distanciamento, o uso correto de máscara e a higiene. “A arte e a cultura em geral são fundamentais nesse período de distanciamento social. Foi com o isolamento que as pessoas puderam perceber a importância de ler um bom livro”, acredita.

Sobrevivência

Para muitos leitores, a escolha de um livro é um ritual. É preciso ir à livraria, folhear as páginas e sentir o cheiro das folhas marcadas pelas histórias que transcenderam a escrita e alcançaram o coração dos apaixonados pela leitura. Localizada em Taguatinga, a banca Sebo Cultura Universal oferece essa experiência. Há 12 anos, o livreiro Adriano Brandão de Souza, 34, saiu da cidade natal, Ibicarai (BA), para vender livros na rua. Para isso, decidiu ganhar a vida em Brasília, pois sabia que, na capital federal, as pessoas gostavam de ler.

“Sebos sempre tiveram grande valor e importância no nosso dia a dia. O livro sempre foi o refúgio e a ponte para uma sociedade que carece de conhecimento”, acredita Adriano. Nos períodos de loja fechada, o jeito foi se reinventar. “Sempre busco deixar os clientes antenados quanto às novidades dos livros. De fato, a pandemia tem atrapalhado bastante, mas não deixo de usar as redes sociais para aproximar os cliente do mundo literário”, conta o livreiro.


Sobre rodas

Quantas histórias uma kombi pode guardar? Há 16 anos, a livreira Eloíza Omar, 54 anos, carrega uma infinidade de livros em seu veículo vermelho, que ficou conhecido como Tesouro na Rua. O ponto de encontro para os apaixonados pela leitura também fica em Taguatinga, mas tem sofrido com a pouca circulação de pessoas devido à pandemia da covid-19. Eloíza defende a abertura dos sebos. “São muito importantes nesse período de isolamento. As pessoas ficam deprimidas, ansiosas, e nada como a leitura de um bom livro para que possam distrair a mente”, diz.

Para ajudar nas vendas, a livreira conta que criou promoções nas redes sociais. “Com um real você pode comprar livro aqui na banca”, diz.


Serviço

Banca Sebo Cultura Universal

Contato: 9 9196-2441; www.estantevirtual.com.br/seboculturauniversal; Instagram @seboculturauniversal
Endereço: C-7, Taguatinga Centro (em frente à loja Ricardo Eletro)


Sebo Linhas Brasília
Contato: 9 9925-6725; www.sebolinhasbsb.lojavirtualnuvem.com.br; Instagram @sebolinhasbsb


Sebo do Gama
Contato: 9 9813-5387;
Instagram: @sebodogama


Tesouro na Rua
Contato: 9 8158-2124
Endereço: CNB 12 - Área Especial 2/3 - Taguatinga Norte (em frente ao Sesc)

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