Aglomeração de clientes e incerteza de comerciantes com a possibilidade de novos fechamentos. Esses dois fatores marcaram a véspera do feriado da Sexta-feira da Paixão no comércio, ontem, no Distrito Federal. A reportagem presenciou aglomeração de pessoas ao redor das peixarias, um dos comércios mais procurados nesta época do ano, principalmente na Feira do Guará.
A servidora pública Ângela Maria Ferreira Brasileiro, 55 anos, foi à feira com duas máscaras de proteção e uma face shield (capacete de proteção, em inglês). Preocupada em contrair o novo coronavírus, ela compara o que economizou na Semana Santa do ano passado em relação a deste ano. "Comprei mais de três quilos de pintado neste ano. No ano passado, eu levei para casa camarão e pescado. Eu tenho economizado bem por conta dessa crise. Outra coisa que me preocupa nessa pandemia é esse grande movimento de pessoas. Eu sabia que pegaria aglomeração, mas uso máscaras de tecido para não dar chance ao vírus. Também trago álcool 70% na bolsa para borrifar em tudo que compro e encosto”, relata.
O analista de sistemas Rafael Vieira, 41 anos, está desde janeiro desempregado, e conta como tem feito para economizar nas compras nesta Semana Santa. “A gente tentou comprar um peixe que a gente gosta, mas numa faixa de preço mediana, até porque a condição não está favorável. Lá em casa, só a minha esposa está trabalhando, e eu perdi um emprego na pandemia. Em função do feriado e da nossa religiosidade como católicos, não deixamos de comprar os alimentos dessa data. Vim comprar três quilos de pescadinha e um quilo de camarão. Ano passado, a gente foi mais cauteloso que agora, porque não viemos pessoalmente para comprar. Pedimos por delivery aqui da Feira mesmo”, descreve Rafael, que mora em Águas Claras.
Franck de Souza, 44 anos, gerente da Peixaria Ueda, na Feira do Guará, diz como o estabelecimento tem orientado os funcionários a atenderem os clientes com as medidas de segurança contra a covid-19. “Temos uma pessoa só para cuidar da limpeza. Mas devido à quantidade de pessoas que ficam no local, fica impossível controlar a movimentação delas. Do lado de dentro, todos os funcionários trabalham com máscara e usam luvas nas mãos. Passei ordem para os funcionários atenderem os clientes o mais rápido possível. Se uma pessoa estiver sem máscara, ou com ela no queixo, não atendemos”, afirma.
Menos 10% nas vendas
A abertura do comércio foi possível, ontem, após o GDF conseguir reverter, na quarta-feira, a liminar da Justiça que determinava a volta do lockdown em Brasília.
O vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), Sebastião Abritta, traça um panorama para as vendas do comércio neste período. “O ano passado, em relação a 2019, vendeu 33% a menos na semana da Páscoa. Em 2021, acreditamos que vá vender 10% a menos do que em 2020. Aí chegamos o que aconteceu há 13 anos. Sem contar que o comércio está dando vários descontos para se manterem em funcionamento. Por isso que precisamos de abertura de leitos urgente e a vacinação em massa, porque o varejista não pode trabalhar com essa incerteza. Os comerciantes precisam saber se podem investir em nova coleção, calçados, vestuário e perfumes, por exemplo. Se tiver que fechar de novo, é um desemprego e desastre total”, comenta Abritta.
Sebastião reforça a necessidade dos comerciantes se preocuparem com as medidas de segurança contra a covid-19. “A gente tem que salvar a economia, mas primeiro salvar vidas, respeitando regras sanitárias. Se a pessoa tiver alguns sintomas, não saia de casa. Passamos para os funcionários do varejo que, se o transporte público estiver cheio, pegar um próximo veículo, tanto para os funcionários quanto para os consumidores se prevenirem”, finaliza.
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Incertezas no comércio
A expectativa de venda para o comércio no DF deve acompanhar a pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), que prevê a pior Páscoa desde 2008. No segundo ano da pandemia, o levantamento mostra que a data comemorativa deve movimentar R$ 1,62 bilhão no país, o que representa uma retração de 2,2% na comparação com 2020. Este é o menor volume desde 2008, que registrou R$ 1,59 bilhão naquele período do ano.
Perguntado sobre a expectativa de vendas para esta semana santa, o presidente da Federação de Bens, Comércio e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido, cita a relevância da pesquisa da CNC e dá dicas de como os comerciantes podem sanar as dívidas. “A expectativa de vendas é boa, apesar do longo período anterior à Páscoa. Mas, mesmo assim, deverá ser a pior venda de Páscoa desde 2008. Para empresas endividadas, o ideal é a renegociação e diálogo para conseguir enquadrar as dívidas dentro da realidade atual de cada um. Campanhas de vendas sempre são importantes, mas fica difícil, devido ao abre e fecha. As incertezas geram falta de mercadorias, devido a dúvida de investimentos, o que é muito ruim", complementa Aparecido.
Dono da loja de roupas Milhomem Modas, na Feira do Guará, Elpideo Coelho dos Santos, 56 anos, há três meses comprou o espaço para venda de roupas e confecções. Ele relata que o abre e fecha do comércio gera insegurança para os clientes também. "A gente não tem respaldo do governo, mas temos aluguel para pagar e imposto para recolher. Eu abri na quarta-feira porque estava há 30 dias fechado. Eu também preciso comer, a minha loja tem que estar aberta", opina o lojista.
"Tenho um comércio de confecções, que não causa aglomeração. A gente controla bem o distanciamento social. Normalmente não tem muitos clientes porque não ficam mais de cinco pessoas aqui dentro. Mas você vê os comércios essenciais causarem, como é o caso das peixarias", contesta Elpideo.
A proprietária da Vitalisse Boutique de depilação e estética, Tainá Ribeiro, 24 anos, está à frente da loja há nove anos na Quadra 300 do Sudoeste. Para driblar a crise, ela conta que teve de baixar os preços dos serviços para atrair as clientes. "Tivemos bastante retorno, de quarta-feira para quinta. Estamos com cerca de 100 agendamentos para esta semana até sábado. Fizemos bastante promoções. Com esse lucro, a prioridade são as funcionárias de carteira assinada e o aluguel da loja, porque as demais coisas estão em atraso, como compra de materiais, pagamento de fornecedores, água, luz, e todas as despesas estão nessa situação, inclusive o atraso de impostos", relata.
Com três manicures, duas depiladoras e uma recepcionista na loja, Tainá lamenta o clima de incerteza de manter o estabelecimento aberto nesta pandemia. "É um descaso com a nossa área, até porque nós sempre tomamos todas as medidas possíveis, mesmo no começo da pandemia. O ideal é que permanecesse como está, tomando as medidas de segurança para que todos consigam trabalhar e manter a sua família", finaliza a comerciante.
O que abre e fecha no Feriado
O Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista) informou, ontem, que as lojas do Distrito Federal ficarão fechadas hoje. Amanhã, o comércio funcionará normalmente, obedecendo as medidas de restrições fixadas pelo governo do DF no combate à covid-19.
Na noite de quarta-feira (31), o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) acatou um recurso apresentado pelo GDF contra a decisão que proibia a reabertura de comércios, mantendo as atividades não essenciais liberadas. Diante disso, continua a valer o decreto de 19 de março, que autorizava o funcionamento de estabelecimentos como restaurantes, bares e shoppings, com horários específicos e jornadas reduzidas.
Shoppings
Todas as lojas dos shoppings da capital estão fechadas hoje. Apenas a praça de alimentação do Brasília Shopping ficará aberta, de 11h às 19h. No sábado e domingo, todos os estabelecimentos comerciais funcionarão normalmente, atendendo às normas e horários definidos pelo decreto do GDF.
Fique atento
Veja dicas do Procon-DF de como não comprar peixe podre:
Verificar a aparência do produto;
Os peixes devem estar com a carne em boa consistência e elasticidade, e com pele úmida;
As escamas devem estar firmes;
Os olhos não podem estar turvos, mas sim brilhantes e salientes;
Nas feiras, os peixes frescos devem ficar imersos em gelo picado para correta conservação. E, nos supermercados, eles devem estar expostos em balcão frigorífico.
A higiene do local e o modo de armazenamento são itens importantes, e a utilização de luva para o manuseio do produto é obrigatória;
O consumidor deve sempre conferir a embalagem, no caso de peixes congelados, verificando a data de fabricação e de validade, e se a mesma está intacta sem sinal de violação.