VIOLÊNCIA

Cinco feminicídios em 2021

A vítima mais recente, Tatiane Pereira da Silva, 41 anos, não resistiu às agressões do companheiro, cometidas na sexta-feira, e morreu ontem. Ela foi enterrada no cemitério de Taguatinga. O suspeito, Manoel Paulo Severino, 35, está preso

Darcianne Diogo
postado em 13/04/2021 22:11 / atualizado em 13/04/2021 22:14
 (crédito: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)
(crédito: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)

A família da empregada doméstica Tatiane Pereira da Silva, 41 anos, assassinada pelo companheiro, Manoel Paulo Severino, 35, tenta entender a motivação do crime. Ela foi espancada, no Núcleo Rural do Paranoá, sexta-feira. A vítima, sepultada ontem no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, deixa quatro filhos, sendo um deles, de 4 anos, fruto do relacionamento com o criminoso. O homem está preso e responderá por feminicídio. É o quinto caso este ano.

O casal estava junto havia cerca de seis anos e, desde o começo, a relação foi conturbada, segundo relatos de parentes. Os dois moravam em um barraco, na Chácara Francisco, na DF-250. Na última sexta-feira, Tatiane e Manoel foram até um bar, a poucos metros da residência. Tatiane queria voltar para a casa, mas Manoel, não. Com a negativa, o homem se irritou e começou a agredi-la com chutes, murros, mordidas e a atacou com um facão. “Ouvimos o cachorro latindo e já imaginamos que poderia ser uma briga. Ela gritou para o irmão, que mora perto. Pedimos para ele parar. Foi tudo muito triste, ela estava muito machucada”, contou, ao Correio, a prima da vítima Andreia Ferreira, 40.

Depois das agressões, Tatiane registrou boletim de ocorrência contra o marido na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). Em depoimento, ela narrou a situação e disse que era agredida pelo homem há, pelo menos, um ano. A vítima passou por exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML) e pediu medidas protetivas contra o agressor.

O casal morava em um barraco pequeno com porta de madeira. Lá, Tatiane viveu ao lado do marido por mais de seis anos. Uma relação, segundo parentes e vizinhos, conturbada. “Víamos, aqui, na rua, ele a machucando e tentávamos impedir”, conta um morador que não quis ser identificado.

A prima da vítima mora a poucos metros da casa da família. “É muito triste. Ela vivia sob a guarda dele e tentava nos esconder as agressões. Às vezes, fazíamos cultos na minha área, e ela aproveitava a hora que ele estava no bar para cantar hinos a Deus. Quando ele chegava, ela saia correndo”, revela.

Ferimentos

Sentindo dores abdominais, náuseas e vômitos, Tatiane procurou no Hospital da Região Leste (HRL) para atendimento médico. Segundo familiares, os profissionais de saúde a mandaram voltar para a casa, pois ela estava bem. A empregada doméstica, depois, retornou ao hospital, mas, de acordo com os parentes, a equipe deu a mesma orientação.

“Ela procurou atendimento do Paranoá e mandaram ela voltar, pois a suspeita seria de que ela estava com dengue. Depois, conseguiu ser internada e teve uma parada cardiorrespiratória. Entendemos que ela veio a falecer em decorrência das lesões sofridas e, por isso, o crime é tratado como feminicídio”, explica o delegado-chefe da 6° DP, Ricardo Viana.

Questionada pela reportagem, a Secretaria de Saúde (SES) informou que a paciente procurou o Hospital da Região Leste na quinta-feira, apresentando quadro de febre, náuseas, cefaleia e mialgia. Disse que a mulher tinha os sinais vitais estáveis e foi encaminhada à unidade básica de saúde (UBS) da região. De acordo com a pasta, Tatiane retornou ao HRL no domingo, com relato de astenia (perda ou diminuição da força física) e dispneia (dificuldade de respirar caracterizada por respiração rápida e curta, geralmente associada a doença cardíaca ou pulmonar), sinais vitais estáveis e foi classificada como gravidade nível amarelo.

Segundo a Saúde, a paciente só relatou as agressões na segunda-feira, quando procurou o Hospital Regional de Planaltina (HRPL), apresentando os mesmos sintomas. “A pasta esclarece que a paciente teve toda assistência necessária nas duas unidades e lamenta o óbito, que ocorreu apesar do atendimento prestado pelas equipes médicas das unidades da rede pública”, finalizou.


*Colaborou Caroline Cintra


PMs condenados por grilagem

A Justiça do DF condenou sete policiais militares por organização criminosa e grilagem terras no Sol Nascente, em 17 de março. As defesas de seis dos sete PMs condenados informaram que recorrerão da decisão. Além de perderem os cargos públicos, cada réu pode cumprir penas que passam de 10 anos de prisão. Deflagrada em maio de 2019, a Operação Horus cumpriu sete prisões e 11 mandados de busca e apreensão contra PMs do DF. Entre eles está o tio da primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, João Batista Firmo Ferreira, conforme o Correio informou com exclusividade há cerca de dois anos.


Memória

Vidas perdidas

No primeiro trimestre deste ano, foram cinco ocorrências de feminicídio

26 de março
A radialista Evelyne Ogawa, 38 anos, foi morta pelo companheiro, Vinícius Fernando Silva Camargo, 31. O crime aconteceu no condomínio onde ela morava, em Samambaia. No dia seguinte, o autor se apresentou à Polícia Civil e confessou o assassinato.

13 de fevereiro
Rosileia Pereira Freitas, 36 anos, foi morta a facadas no meio da rua pelo ex-marido. O crime aconteceu à luz do dia, na QND 52, em Taguatinga Norte. O autor, Diego Nunes Freitas, 40, desferiu cerca de 30 golpes de faca na vítima. O homem foi preso em flagrante.

12 de janeiro
A professora Marley de Barcelos Dias, 54 anos, foi assassinada pelo ex-companheiro na frente de um dos dois filhos, após ser atingida por três disparos de arma de fogo. O crime aconteceu na casa da família dela, no Condomínio Império dos Nobres, em Sobradinho.

8 de janeiro
A primeira vítima de feminicídio no DF, em 2021, foi a auxiliar de serviços gerais Isabel Ferreira Alves, 37 anos. Ela foi morta pelo companheiro, dentro de casa, com uma facada no tronco, na QNN 3, de Ceilândia Norte. Marcos Soares Pereira, 36, foi preso em flagrante um dia depois.

 

 

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