Em 2017, uma onça ou talvez um gato, não se sabe com certeza, rondaram o Itamaraty, no coração da capital do país e deixaram um rastro de mistério. Agora, o endereço da passagem dos felinos é o Condomínio Mansões Colorado, próximo a Sobradinho. As câmeras registram a presença, não de uma, mas de uma família de onças-pardas no território, formada pela mãe e dois filhotes.
É fácil explicar a presença delas no condomínio, pois ele está situado entre duas áreas de proteção ambiental. O interessante é que a comunidade convive até agora de maneira muito harmônica com os bichos.
Os biólogos dizem que a presença dos animais é sinal de que a mata está preservada, as nascentes de água são límpidas, o lugar oferece condições saudáveis para os bichos, entre eles, antas e tamanduás. Se as condições ambientais não fossem salubres, já teriam procurado outro espaço ou teriam um comportamento agressivo.
De qualquer maneira, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade monitora as onças. Moro em um condomínio fronteiriço a uma mata cerrada, mas nunca apareceu onça em nosso pedaço. Recebemos, com frequência, a visita dos macacos-pregos. São bichos bem-humorados e gaiatos. Dá para se relacionar com eles, afugentá-los com um assovio ou com um barulho. Mas, diante de uma onça ou de uma família de onça, o único código de convivência é a distância.
Clarice Lispector, nascida sob o signo de sagitário, cujo símbolo é a figura do centauro, metade humana e metade cavalo, disse que a nossa inquietação diante dos bichos selvagens decorre do nosso medo do animal dentro de nós. Se as onças aparecessem em nosso território, eu ficaria preocupado, principalmente com os meus dois netos, Judá, de 3 anos, e Aurora, de 7.
E, por falar neles, compartilharei com vocês uma história de suspense carregada de alta voltagem dramática. Quem me contou foi Aurora, quando tinha 3 anos. Ela parece uma reencarnação de Emília, boneca rebelde das ficções de Monteiro Lobato. Preparem-se, pois a narrativa contém cenas fortes e provocará muita adrenalina. É a versão da Aurora para o episódio Boo, te assustei! da animação Charlie e Lola. Vamos lá.
“Era uma vez duas crianças, não eram velhas, mas também não eram muito novas. Elas ouviram um barulho e decidiram descobrir o mistério da casa assombrada. Deram alguns passos e subiram por uma escada. Vocês sabem que todas as escadas rangem nas histórias arrepiantes. Então, as duas crianças avistaram uma porta terrivelmente terrível. Elas ficaram com muito medo, o coração delas batia acelerado.
Mesmo assim, resolveram entrar pela porta terrivelmente terrível. Quando, finalmente, estavam lá dentro, ouviram um barulho e ficaram tremendo. O que seria? Uma onça horrivelmente horrível? Mas os dois respiraram fundo e seguiram em frente. Sabem quem era? Era Sininho, a gatinha da Senhora Helmut, que estava desaparecida há duas semanas”.
No outro dia, a avó pediu que a menina contasse novamente a história arrepiante, mas Aurora respondeu: “Ih, vó, que história mais tola! Me deixa dormir.”
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