EDUCAÇÃO

Jovens prodígios de Brasília se destacam na música, no esporte e na academia

Brasilienses de pouca idade e muito conhecimento têm obtido destaque em diversos campos, que vão desde o esporte às artes. Um deles é o advogado mais jovem do Brasil, Mateus Costa-Ribeiro, que, agora, fez o juramento diante da Corte americana para atuar nos Estados Unidos

Jéssica Moura
postado em 17/04/2021 06:00
Aos 11 anos, em uma palestra de James Fraser Stoddart, José Buzar impressionou o professor e cientista laureado com o Premio Nobel em 2016 com sua curiosidade. Hoje, com 13, o jovem frequenta aulas de história da América Latina na UnB -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Aos 11 anos, em uma palestra de James Fraser Stoddart, José Buzar impressionou o professor e cientista laureado com o Premio Nobel em 2016 com sua curiosidade. Hoje, com 13, o jovem frequenta aulas de história da América Latina na UnB - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

 “Mateus Costa-Ribeiro se formou na faculdade de direito, venceu uma causa no Supremo Tribunal Federal (STF) e completou o mestrado na Universidade de Harvard. Tudo isso, antes de atingir a idade legal para beber”. A frase é de um tweet da New York State Bar Association (BAR), que resume a trajetória meteórica do mais jovem advogado do Brasil, que é de Brasília.

Depois de conquistar o BAR nos Estados Unidos, semelhante à matrícula na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Mateus, agora, é parte do time da Milbank LLP e um dos mais jovens advogados admitidos no estado novaiorquino. Para a atuar no escritório, precisava do credenciamento para advogar no país norte-americano, o que só poderia ocorrer quando atingisse a maioridade, que, por lá, é de 21 anos.

Depois de uma ação na Suprema Corte do estado, Mateus pôde fazer a prova e passou. Com isso, ele vai representar empresas brasileiras no mercado financeiro nos Estados Unidos. Em suas redes sociais, o jovem escreveu: “A missão é viabilizar que fundos americanos invistam nas empresas brasileiras. É onde enxergo meu futuro”.

Ele ingressou na faculdade de Direito da Universidade de Brasília aos 14 anos. “Decisão mais importante da minha vida”, escreveu Mateus. O prodígio diz que o colégio não o desafiava, por isso, resolveu prestar o vestibular. Aos 17, fez o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e se tornou o advogado mais novo do país. Nos dois casos, devido à pouca idade, ele teve de entrar com um pedido na Justiça para assegurar o acesso à UnB e à OAB.

Três meses depois, estava diante dos ministros do STF para a primeira sustentação oral na Corte durante nove minutos. O caso se tratava de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).

Antes de se mudar para os Estados Unidos para estudar em Harvard, em 2019, Mateus se tornou mestre em direito pela UnB, recebendo nota máxima pela dissertação. Em Harvard, foi o mais jovem do mundo a entrar no mestrado da universidade americana. “Chegando lá, eu percebi como tinha uma demanda grande e muita coisa acontecendo na ponte entre Brasil e Estados Unidos, e havia muita oferta de emprego e trabalho para as pessoas que conheciam as duas realidades”, declarou ao Eu, Estudante.

Mateus pondera que a idade não foi problema, mesmo na faculdade, mas os colegas se espantavam com a juventude do rapaz. “Nunca tive dificuldade no trabalho, nunca sofri discriminação ou algum tipo de problema, sempre consegui exercer a posição perfeitamente. A advocacia é uma profissão naturalmente de ritual e que tem mais formalidade, em geral com pessoas de cabelos brancos bem vestidas e com gravatas arrumadas, mas esse não foi um desafio”, disse ao Correio.

Mateus vem de uma família de advogados, com os pais e irmãos na carreira. “Sempre quis isso. Decidi seguir esse caminho aos 7 anos”, revelou ao Correio em 2018, quando passou no exame da OAB.

Futuro diplomata

Assim como Mateus, outros jovens brasilienses brilhantes se destacaram nos últimos anos. Com 11 anos, o estudante José Santos Buzar foi a uma palestra do astrofísico ganhador do prêmio Nobel de Química, James Fraser Stoddart, na Universidade de Brasília (UnB). À época, as perguntas do garoto ao cientista impressionaram. “Você acha que essas máquinas nanomoleculares podem acabar com doenças como câncer ou malária?”, quis saber o menino, sobre a pesquisa do acadêmico.

José tem altas habilidades e seu quociente de inteligência (QI) aferido é de 147. Agora, aos 13 anos, e cursando o 8º ano do ensino fundamental, seu foco de interesse migrou para temas como história, geografia e política. “Fico lendo livros e vendo notícias na internet. Também adoro astrofísica, ficar estudando sobre o universo observável” destaca José. Diante do interesse do menino, os professores do colégio onde estuda se articularam para que ele participasse das aulas de história da América Latina, na UnB.

“Encontrou a turma dele de pessoas que gostam de falar de história e política”, conta a mãe, a professora Edeilce Buzar. Com a pandemia, José participava da disciplina e fazia intervenções durante a aula, que era transmitida de maneira on-line, sempre com a câmera fechada. Quando em uma das ocasiões ele apareceu no vídeo, os colegas se surpreenderam com a pouca idade do garoto que discorria sobre as ditaduras latino-americanas. “Foi incrível, foi a primeira vez que estive como ouvinte em uma universidade. Aprendi que quero entrar cada vez mais nesse mundo”, afirma José.

Edeilce relata que, desde pequeno, José dava sinais de que era diferente. Aos dois anos, já apresentava habilidades de leitura. Mais velho, aos 6 anos, acompanhava a mãe em algumas aulas do curso de pedagogia e manifestava suas opiniões sobre história das línguas, cultura e comunidade surda, por exemplo. O diagnóstico só foi fechado aos 10 anos. “Começou a sofrer bullying na escola, passava mal, apesar de ser superinteligente, então procurei uma psicóloga. Ela disse que era evidente que ele tinha altas habilidades”.

Atualmente, José passa até 12 horas diárias estudando em livros e pela internet sobre os temas que lhe interessam. “Sabia que, cada vez que aprendesse mais, seria melhor para mim, comecei a discutir com as pessoas na internet e entrei para uma comunidade, estou estudando sobre a Guerra Fria, Guerra do Vietnã e discutindo sobre a política no Brasil”, explica o garoto. José sonha em ser diplomata na Organização das Nações Unidas (ONU). “Demorou um dia inteiro para montar o plano perfeito. Começo pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para fazer relações internacionais na UnB, vou tentar entrar no Instituto Rio Branco e me voluntariar na ONU”, descreve.

Rumo aos EUA

A cantora lírica Manuela Korossy também almeja uma carreira internacional. Com 19 anos, ela acaba de ser aceita na prestigiada escola superior de música de Nova York, a Julliard School e faz planos para depois da formatura no conservatório. Antes dos 40 anos, ela diz que quer interpretar óperas como Manon, de Jules Massenet; e a Mimi, da peça La Boheme.

Com a bolsa de 90%, que é concedida levando em conta critérios de mérito e desempenho, Manuela se muda para os Estados Unidos até agosto. “A escolha da Julliard não foi pelo renome, mas técnica e estratégica: a forma como trabalham em cima de canto vai ao encontro do que trabalho com meus professores, e estratégica porque a Julliard fica a cinco minutos a pé do maior teatro de ópera do mundo”, resume. Ela pretende ingressar em uma agência de cantores e artistas para entrar no mercado da ópera.

A trajetória da jovem soprano é marcada por conquistas que a destacaram. Na adolescência, foi diagnosticada com altas habilidades “Quando tocava piano, não era uma aluna tão boa, mas os professores perceberam que me destacava no canto”, lembra Manuela. Os professores na Escola de Música de Brasília (EMB) a incentivaram a ingressar no curso de canto, mas só poderia começar as aulas aos 16 anos. Na época, tinha 14.

Contudo, uma mudança no edital permitiu que ela integrasse a turma aos 15 anos. “Acabava convivendo com pessoas que tinham mais experiência do que eu. Eu absorvo conhecimento muito rápido, isso me dá uma vantagem”, frisa. Para a prova de Julliard, em que os candidatos costumam se preparar por dois anos, Manuela teve apénas um mês e meio para estudar. “Foi emocionante!”, comemora.

Tóquio

Outro prodígio da capital federal é Gabriela Muniz, 18, promessa da marcha atlética. Ela começou no esporte aos 12 e já conquistou a primeira medalha. “Exige uma técnica, e sempre tive muita facilidade, achei muito tranquilo”, avalia. Desde então, costuma competir com atletas mais velhas do que ela. “Quando ainda era da categoria sub-16, me colocavam para competir na sub-18 para pegar experiência”, ressalta a atleta.

Na última Copa do Brasil, apesar de pertencer à categoria juvenil, disputou entre as adultas. “Eu até gosto, porque dá para ter uma experiência com mulheres mais velhas, dá para ter noção melhor de ritmo que fazem durante prova mais longa, eu acho interessante”. Agora, pode representar Brasília e o Brasil do outro lado do mundo, em Tóquio. “Meu sonho é ir para as Olimpíadas, como qualquer atleta de alto rendimento, poder competir fora do país e melhorar minhas marcas”, adianta Gabriela.

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    Depois de fazer mestrado na UnB, Mateus Costa-Ribeiro ingressou em outro mestrado, dessa vez na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos Foto: Arquivo Pessoal
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    Gabriela Muniz começou a treinar marcha atlética aos 12. Hoje, é um das promessas do esporte no Brasil Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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