Houve um tempo em que eu me obrigava a tentar ver toda a lista de filmes indicados ao Oscar. Digo “tentar” porque acho que nunca consegui concluir a tarefa, mas estava sempre nos planos obter tal feito. A ideia era chegar ao domingo de premiação com consciência do que significavam aqueles nomes e com a possibilidade de torcer por alguém — via de regra, pelo azarão.
Sempre fui péssimo. Nos meus tempos de repórter de cultura (uns três ou quatro anos atrás), a gente costumava fazer bolões para testar nosso poder de acertar os vencedores. Ricardo Daehn, crítico do Correio, sempre foi o homem a ser batido. E eu, a piada pronta. Minha amiga Adriana Izel colaborava para eu não me sentir sozinho, e ostentava comigo o título de quase nunca acertar nada.
O Oscar, durante meus anos de formação, carregava um ar meio místico de celebração e de chancela. Eu demorei a entender que tinha pouco a ver com cinema. É pura política, sempre foi, e há milhões de pessoas que escreveram sobre isso com propriedade, basta dar um Google. Eu me punia por não ter visto tudo o que concorria e tinha a meta de um dia ter assistido a todos vencedores.
Passei dessa etapa. O desencanto com o modus operandi das escolhas, com o poder absurdo do dinheiro e a certeza de que a premiação é resultado de lobbies escandalosos me desencantaram. Também contribuiu o fato de eu não ter mais a pretensão pedante de ser cinéfilo ou entender demais de cinema. Eu vejo uns filmes, e isso basta.
De todo modo, sigo atento. Sempre há coisas boas para ver. Então, ao menos uns três ou quatro entram para minhas listas. No ano passado, fui feliz com a vitória de Parasita. Eu, fã dos azarões, errei essa também. Quis ser racional e não agi com o coração — quase sempre dá errado, mas vamos lá.
O fato é que, este ano, cheguei à vergonhosa marca de ter assistido a apenas um dos filmes na disputa. Vi Druk, o dinamarquês que reflete sobre a alegria e a desgraça de um consumo nada moderado de álcool. Um filme sem maniqueísmos. Não há conclusões moralistas, mas está lá, também, a tragédia. Os instantes de glória e os lapsos de dor. Um certo foco na ideia de que os resultados dependem da trajetória de cada um. Foi uma boa escolha apostar no concorrente a melhor filme estrangeiro.
Vi poucos filmes em 2021, porque tudo me soou pesado demais. E não há problema com os temas. Eu, na verdade, sempre fui adepto da densidade e da melancolia nas artes, mas, agora, pareceu demais. Quis assistir a Meu pai nesta semana; uma amiga, porém, disse que talvez não fosse uma boa ideia. Sabia que era uma semana difícil para mim por algumas tantas razões que iam além da tragédia diária brasileira. Desisti.
Penso em Druk e numa cena em que há um musical redentor. O protagonista dança jazz à beira de um lago e se alegra profundamente. Sinto inveja disso. Tenho saudade de um peso que não carregávamos antes e uma ponta de esperança de que, em algum momento, isso vá mudar.
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