Coronavírus

DF tem 513 mil pessoas com menos de 60 anos e alguma comorbidade, segundo IBGE

Executivo local apresentou projeto para vacinação de pessoas com doenças crônicas. Previsão inclui lançamento de portal onde esse grupo deverá se cadastrar, mas dados passarão por análise da Secretaria de Saúde. Proposta precisa de aval do governador

Samara Schwingel
postado em 24/04/2021 06:00
Pollyane de Oliveira está há mais de um ano sem encontrar a família e aguarda pela vacinação -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Pollyane de Oliveira está há mais de um ano sem encontrar a família e aguarda pela vacinação - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Com a vacinação contra a covid-19 perto de alcançar todos os idosos no Distrito Federal, o Executivo local se movimenta para criar um plano com foco em outro grupo prioritário: pessoas com comorbidades. Desconsiderados habitantes com mais de 60 anos, esse grupo é composto por cerca de 513 mil pessoas, segundo dados de novembro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para atendê-lo, a Secretaria de Saúde (SES-DF) pretende lançar uma plataforma onde esse público poderá se cadastrar e declarar o tipo de doença que tem.

Na sexta-feira (24/4), integrantes do Comitê de Operacionalização da Vacinação da SES-DF apresentaram o sistema ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Agora, a plataforma aguarda aval do governador Ibaneis Rocha (MDB). Se aprovado, o cadastro deve começar na próxima semana. Apesar disso, não há data para o início da imunização de pessoas com comorbidade. Atualmente, a faixa etária atendida na campanha de vacinação contra a covid-19 no DF é das pessoas com mais de 62 anos, além de alguns grupos profissionais e populações específicas.

O sistema apresentado ao MPDFT prevê um cadastro com dados pessoais das pessoas não vacinadas que tenham alguma das doenças previstas pelo Ministério da Saúde. Caso o paciente esteja registrado no Sistema Único de Saúde (SUS), por ter se tratado no sistema público, haverá cruzamento de dados para confirmação da comorbidade indicada. Se não houver inscrição, o interessado deverá anexar um laudo médico que comprove o quadro clínico, e o documento passará por análise da SES-DF para conferência.

Na reunião com a equipe da Secretaria de Saúde, os integrantes do Ministério Público sugeriram que a vacinação do novo grupo ocorra por faixa etária e mediante agendamento. “Não temos como dizer e impor qual comorbidade é pior e merece ser vacinada primeiro. Por isso, fizemos essa sugestão”, justificou o procurador de Justiça e coordenador da força-tarefa de combate à pandemia no MPDFT, José Eduardo Sabo. A ampliação da campanha fica sujeita ao repasse de novas doses ao DF pelo governo federal.

Quantidade de pessoas diagnosticadas com alguma comorbidade no DF

A funcionária pública Pollyane de Oliveira, 35 anos, está na expectativa pela vacinação. Obesa e com quadro de doenças respiratórias, ela continua em home office e sem encontrar os parentes há mais de um ano. “Estou contando os dias, porque tem sido um período muito difícil, principalmente pela parte emocional. Estou quieta, aguardando minha vez de receber as doses”, conta. A moradora da Asa Norte acrescenta que mal pode esperar para entrar para o público-alvo. “Estou em um nível que vejo as pessoas se vacinarem e choro. Acredito que os imunizantes são nossa saída neste momento. Com certeza vou me vacinar”, completa.

Cuidado extra

A infectologista Joana D’Arc Gonçalves explica que as comorbidades são doenças crônicas que podem agravar o quadro de infecção pelo novo coronavírus e, por isso, esses pacientes fazem parte do grupo de risco. “Geralmente, as pessoas que mais têm complicações pela covid-19 são as que apresentam alguma doença ou condição prévia”, afirma. Para a especialista, a vacinação desse público precisa ser planejada com cuidado. “Escolher o tipo de pessoa com comorbidade para atender primeiro é complicado e complexo. Mas imunizar pela idade é uma boa opção”, sugere.

A médica destaca que os jovens precisam se cuidar até fazerem parte do público-alvo da campanha. “O risco maior dessas pessoas é porque elas se expõem. O aumento das variantes do vírus é devido a essa exposição. Então, é uma questão de consciência e de prevenção até que chegue a vez deles”, comenta Joana D’Arc.

Quem recebeu a primeira dose da vacina por causa da idade, mas tem alguma comorbidade, também deve ter atenção à saúde. Aldair José Pires, 67, tem problemas cardíacos e, no início da pandemia, passou por uma cirurgia. Como ainda não tomou o reforço, o aposentado continua preocupado com a covid-19. “Não saio de casa, principalmente porque essa doença está levando muita gente”, lamenta o morador da Asa Sul.

Prioridade

O Plano Nacional de Imunização contra a covid-19 do Ministério da Saúde considera que pessoas com síndrome de Down fazem parte do grupo de indivíduos com comorbidades. Por isso, prevê a vacinação desse grupo após os idosos. Para a Associação DFDown, porém, essa parcela da população precisa ter prioridade. “São pessoas que têm predisposição a outras doenças e se expõem durante consultas e terapia. Elas não podem ser deixadas de lado”, defende Cléo Bohn, presidente da entidade.

Para Cléo, pessoas com a síndrome deveriam ter sido atendidas ao mesmo tempo que os idosos. “Se a vacinação da população com comorbidade ocorrer por faixa etária, vai demorar demais para chegar no nosso pessoal, pois temos mais jovens que adultos”, enfatiza. Além disso, a presidente argumenta que esse público pode ter dificuldade para seguir medidas de segurança, que enfrenta intolerância sensorial ao uso de máscara, tem dificuldade para identificar sintomas da covid-19 e lida com problemas como baixa imunidade, obesidade, diabetes, bem como doenças cardíacas e respiratórias.

A associação não tem dados de quantas pessoas têm síndrome de Down no DF nem de quantas pegaram covid-19. Coordenadora de autodefensoria na entidade, Jéssica Mendes, 29, fala dos riscos que esse grupo tem. “Muitos lidam com a imunidade baixa e outros problemas de saúde; por isso, têm risco de morrer. Queremos garantir a vacina”, relata. Mãe de Jéssica, a advogada Ana Cláudia Mendes, 53, acredita que passou da hora de imunizar essa parte da população. “Estamos agoniados pela demora e pela escassez de vacinas. Entendemos que as pessoas com síndrome de Down deveriam estar em etapas anteriores, pois há estudos que indicam que a doença pode ser mais letal nesse grupo”, justifica.

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