Entrevista / Luís Roberto Barroso
“Pagamos o preço em vidas perdidas”
O Brasil precisa de uma agenda mínima, capaz de aglutinar pessoas. É o que defende o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Entre as sessões, os textos acadêmicos, a leitura e a escrita sobre outros assuntos, o ministro respondeu a algumas perguntas para a coluna. Recluso em Brasília, cidade que considera umas das melhores do mundo para se viver, ele apostaria em alguns itens para essa agenda comum: um pacto de integridade, combate à pobreza, prioridade para a educação básica, investimento em ciência e tecnologia e um sistema tributário mais justo.
Para ele, a pandemia jogou luz sobre os problemas crônicos do Brasil, como a desigualdade social, mas também houve um aumento da filantropia. Dá a entender, no entanto, que essa ajuda poderia ser muito maior: “O Brasil já tem ricos suficientes para ter mais iniciativas filantrópicas”. Sobre as duras lições desse tempo, um chamado à responsabilidade dos governantes: “Reagimos com atraso, sem ouvir a ciência e com pouco empenho. Pagamos o preço em vidas perdidas.”
Como a Justiça e o Direito se adaptaram para as novas demandas da sociedade diante da pandemia?
Do ponto de vista operacional, creio que nos habituamos ao trabalho remoto e às sessões por videoconferência. E também houve um aumento dos casos decididos em Plenário Virtual, em que o relator coloca o seu voto num ambiente virtual específico e os demais ministros têm uma semana para votar. Isso no STF. No TSE, tenho comparecido presencialmente às terças e quintas-feiras, para presidir as sessões. É difícil presidir a distância. Mas só comparece o número mínimo indispensável de servidores. Temos mantido quase todo mundo em teletrabalho.
Na sua opinião, como a pandemia pode reforçar os valores humanistas da sociedade?
Acho que a pandemia colocou um facho de luz sobre a pobreza extrema e as desigualdades da sociedade brasileira. Deficit habitacional, moradias inadequadas, moradores de rua, falta de saneamento, serviços públicos deficientes... Enfim, não são novidades, mas são aspectos que se tornaram mais visíveis. Acho que houve um aumento dessa percepção e, também, houve um aumento de filantropia. Aliás, o Brasil já tem ricos suficientes para ter mais iniciativas filantrópicas.
É possível buscar ter um olhar poético diante destse momento difícil? Como faz para aliviar a tensão?
Acho que os casais felizes reforçaram os seus laços na convivência mais intensa. Compartilhar a vida com quem se gosta é uma bênção nessa vida. Eu divido a minha vida em alguns compartimentos: fazer votos (STF e TSE); ler e escrever coisas acadêmicas ligadas ao Direito; ler e escrever coisas que nada têm a ver com o Direito; e conviver com minha mulher e meus filhos (esses, ultimamente, mais pelo telefone, pois moram no Rio). Eu também consegui escrever um livro novo, que não é jurídico, contando um pouco da minha vida e fazendo reflexões sobre o Brasil e o mundo. Chama-se Sem Data Venia e tem sido um dos livros mais vendidos no país na categoria Democracia, Política e Ciências Sociais. Ah, sim: e medito regularmente.
O que mudou na sua rotina neste ano de pandemia?
Como muita gente, acho que tenho trabalhado mais (risos).
Como ficam as grandes questões da humanidade no pós-pandemia?
Eu tinha uma visão um pouco mais sombria antes da derrota do Trump. Temia um mundo que reforçasse populismos, nacionalismos, diminuísse o multilateralismo e o sentimento de solidariedade. Além da questão do aquecimento global, que é um dos temas definidores do nosso tempo. O quadro ainda é preocupante, mas acho que as tendências se inverteram. O populismo, somado ao extremismo, produz uma péssima combinação.
O momento exige resiliência e ativismo solidário. Pessoalmente, se engajou em alguma atividade coletiva — a distância?
Eu uma vez li na parede de um local de oração uma passagem que nunca esqueci e que dizia assim: “Procurei fazer o bem/ Mas não quis fazer barulho./ Porque o bem não faz barulho/ E o barulho não faz bem”. Procuro fazer a minha parte. Mas, nessa matéria, a regra está em Mateus 6:3: não saiba a sua mão esquerda o que faz a sua mão direita.
Que ensinamento este momento nos deixa?
A ideologia, as superstições e os interesses políticos imediatos não podem estar acima da ciência e do bem comum.
Como o senhor vive em Brasília há mais de uma década , como “sentiu” a cidade neste ano de pandemia?
Eu circulo pouco. E, durante a pandemia, menos ainda. Tenho um círculo pequeno de amigos próximos. Nos vemos e nos falamos sempre que possível. Eu passei a maior parte da minha vida no Rio e vivi nos Estados Unidos por alguns períodos, estudando ou trabalhando. Pois, faço aqui uma declaração de amor: sou apaixonado por Brasília e considero aqui um dos melhores lugares para se viver no mundo. Gosto da cidade, da arquitetura, do urbanismo, do verde, dos espaços abertos e das pessoas.
Como vê a perda de tantos brasilienses na pandemia? Os governos deveriam ter sido mais céleres nas decisões? Que exemplo no mundo poderia ser usado no Brasil?
A meu ver, a lição a ser aprendida é a seguinte: problemas ficam menores quando a gente os trata com importância e seriedade. Na vida, não adianta quebrar o espelho por não gostar da imagem. Reagimos com atraso, sem ouvir a ciência e com pouco empenho. Pagamos o preço em vidas perdidas.
A união em torno de um projeto suprapartidário para mitigar os efeitos da pandemia nos próximos anos é possível?
No mundo sempre houve polarização entre as diferentes visões políticas. No início da democracia nos Estados Unidos, já havia republicanos e federalistas. Na França, logo após a Revolução, a Assembleia Nacional se dividia entre esquerda e direita. Minha geração conviveu com as tensões entre socialismo e economias planificadas, de um lado, e capitalismo e economias de mercado, de outro. O problema atual, agravado pelas redes sociais, ou antissociais, é a grosseria, a agressividade, a incapacidade de tratar o outro com respeito e consideração. A intolerância é uma derrota do espírito. Todo país, independente das divisões políticas, precisa de uma agenda mínima, patriótica, com denominadores comuns, capazes de aglutinar todas as pessoas. Sugiro alguns itens: um pacto de integridade, combate à pobreza, prioridade para a educação básica, investimento em ciência e tecnologia e um sistema tributário mais justo.
Em busca de novo caminho
Primeiro foi José Roberto Arruda. Em 1998, o então senador criou a Terceira Via na disputa pelo Buriti. Acabou fora do segundo turno, disputado por Cristovam Buarque e Joaquim Roriz, vencedor do pleito. Hoje, setores que não se alinham nem com o atual governador, Ibaneis Rocha, nem com o PT e seus partidos satélites também buscam um caminho alternativo. O movimento, ainda sem nome, quer mostrar por que é diferente das forças que dominam a política local nas últimas décadas.
Olhos de cobiça
Ceilândia, sempre bom lembrar, é berço político de tradição no DF. Basta dizer que é a base eleitoral de Maria de Lourdes Abadia, cuja trajetória se confunde com a da cidade. Ceilândia também foi uma importante etapa na trajetória de Rogério Rosso, ex-administrador da cidade e governador do DF. O maior colégio eleitoral do DF, com nada menos que 290 mil votos, é caminho incontornável para quem busca peso político no quadrado federal e distrital. Não à toa, o presidente Jair Bolsonaro — que ainda ignora a importância do uso da máscara, passeou por lá neste sábado. Será ali um dos seus redutos.
Brasília no Oscar Nacional
A série Em nome dos pais, da HBO, é finalista na categoria “documentário de TV” do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, o “Oscar” nacional. Ele é baseado no livro do jornalista brasiliense Matheus Leitão, que narra como localizou a pessoa que entregou seus pais, Miriam Leitão e Marcelo Netto, para a tortura na ditadura militar.
Jerusalema pra relaxar
Os profissionais do posto de saúde da 23 do Lago Sul estão treinando a Jerusalema, depois do expediente, para relaxar da covid. O Jerusalema Challenge é um desafio de dança que surgiu em Angola, viralizou nas redes sociais e ganhou a adesão de diversas equipes de trabalho de diferentes partes do mundo.
Stock Car em alta
O BRB vai manter o Autódromo de Brasília como negócio e não apenas atuar como patrocinador. O sucesso da parceria com o Flamengo — que se refletiu na abertura de mais de 300 mil novas contas — é o espelho da nova frente de investimento. O BRB vai receber o autódromo da Terracap esta semana e iniciar as reformas para que, ainda este ano, seja reinaugurado em 12 de dezembro, na etapa final do campeonato do Stock Car. O planejamento é se associar a uma empresa com expertise em corridas e já, a partir do ano que vem, sediar várias provas. E é claro que já se pensa na criação de um cartão específico para os fãs do automobilismo.
Bloco na rua
Thais Riedel, mestre em direito previdenciário, é candidata à presidência da OAB-DF. “É hora de sermos propositivos. Os advogados estão descuidados, desamparados. A situação de muitos profissionais ante a pandemia de coronavírus é muito grave”, queixa-se a advogada.
Roriz vive
Com a entrega do último dos 23 viadutos que compõem a nova saída norte do DF, marcada para a próxima quinta-feira, o GDF vai homenagear o ex-governador Joaquim Roriz. O local passa a se chamar Complexo Viário Governador Roriz. A família do político foi convidada para a solenidade de entrega — uma cerimônia simples como convém aos tempos atuais. Dona Weslian e as filhas Wesliane e Jacqueline confirmaram presença.
O QUE ELES DISSERAM
Em meio à pandemia, o Brasiliense vem se adaptando às restrições e buscando soluções para enfrentar esse momento.
“Depois de um ano, o novo coronavírus ainda assusta o mundo todo. Momento difícil, em que a população carente fica ainda mais vulnerável. Por isso, temos nos esforçado para pagar em dia os benefícios sociais, como o Prato Cheio e o DF Sem Miséria, para que possam amenizar os efeitos econômicos potencializados por essa pandemia”.
Mayara Noronha Rocha, secretária de Desenvolvimento Social e primeira-dama
“As doenças desconhecidas são a maior ameaça ao futuro da humanidade. O homo sapiens, em termos cósmicos, é uma espécie recente: 70 mil anos. Dizem os demógrafos que as pandemias dizimaram milhões de espécies e seres ao longo da história da Terra. Mas a pandemia do coronavírus é a maior e mais letal tragédia, que mexeu no corpo e na alma da sociedade, transformando o homem e seus sentimentos de amor de ódio, de alegria e de medo. Mas estamos vendo despertar uma sociedade de solidariedade, mais humana. Todos os cientistas do mundo se uniram e nos salvaram com a ciência e o esforço para vencer essa tragédia, que ameaçava extinguir a sociedade. Vamos sobreviver. É hora de união, caridade e esperança”.
José Sarney, ex-presidente da República
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