Coronavírus

Vacinação contra covid-19: estagiários da saúde cobram inclusão em público-alvo

Estudantes da área que trabalham nas redes pública e particular relatam dificuldades para conseguir se imunizar contra a covid-19. Alguns deles decidiram adiar a parte prática — e, consequentemente, a graduação — para evitar os riscos

Luana Patriolino
postado em 29/04/2021 06:00
Bárbara (E) e Júlia atuam em dois hospitais: medo de contrair a covid-19 -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Bárbara (E) e Júlia atuam em dois hospitais: medo de contrair a covid-19 - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Atuando em hospitais das redes pública e particular no Distrito Federal, estagiários da saúde se expõem ao novo coronavírus tanto quanto profissionais da área. No entanto, diferentemente desses colaboradores, nem todos os estudantes têm direito a se vacinar contra a doença. Neste mês, a Secretaria de Saúde (SES-DF) reabriu o agendamento para trabalhadores do setor privado, com opção para acadêmicos. Porém, muitos não tiveram os CPFs reconhecidos ao tentar marcar a imunização.

Estudante de fisioterapia, Bárbara Oliveira, 58 anos, enfrentou esse problema no portal da pasta. “Há uma aba para inscrição de universitários e a opção para escolha da instituição de ensino. No caso do Ceub (Centro Universitário de Brasília), até hoje não conseguimos registrar nossos CPFs no sistema. Continuamos na mesma situação, sem agendar a vacina”, relata a moradora da Asa Sul.

No 10º semestre do curso, Bárbara estagia, em média, 18 horas semanais nos hospitais de Base e no Regional de Santa Maria (HRSM). Muitos colegas, segundo ela, deixaram de atuar no atendimento e adiaram a graduação por falta de vacina. “Nós nos sentimos muito discriminados. Os colegas querem voltar (às funções), mas alguns não vão porque uma situação dessa dá bastante medo, gera muita insegurança. Queremos trabalhar e terminar o curso”, diz.

Colega de curso de Bárbara, Júlia Bairros, 23, afirma que o sentimento é de apreensão. “Poucos alunos conseguiram ser vacinados. Temos pessoas que são do grupo de risco, estão nos hospitais e não têm o que fazer, porque o estágio hospitalar é uma exigência do Ministério da Educação para nos formarmos. Não tem como fugir”, ressalta.

Desistência

Com medo de serem contaminados e infectarem a família, muitos estudantes desistiram ou adiaram o estágio obrigatório. Nesse grupo está Camila Sousa, 21, que decidiu esperar a definição sobre as vacinas para começar a trabalhar em hospitais. “Fiz estágio durante um mês e parei. Não temos estrutura alguma. Fomos jogados lá sem preparo algum, sendo o primeiro estágio. E estamos no meio de uma pandemia”, critica. “Tenho pessoas do grupo de risco em casa e tenho muito medo de me infectar”, completa.

Na semana passada, o deputado distrital Leandro Grass (Rede) pediu ao Governo do Distrito Federal (GDF) que identifique estagiários como profissionais de saúde durante a campanha. “A taxa de contaminação juvenil aumentou bastante. Existem muitos jovens trabalhadores, e eles estão em contato direto com a população. Esses da saúde devem ser imunizados imediatamente. É justo e necessário que eles sejam incluídos”, argumenta. O documento, porém, não tem força legal.

A Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) respondeu, por meio de nota, que internos e estagiários de medicina e enfermagem que atuam em unidades de saúde públicas fazem parte do público-alvo que inclui profissionais da área; por isso, acadêmicos estão aptos a receber as doses. No entanto, a pasta não detalhou qual critério usa para definir quais são os universitários imunizados e quantos foram atendidos até o momento.

A pasta calcula que há quase 4 mil estagiários em atividade nos hospitais da rede pública, nos níveis técnico e superior. A reportagem também procurou o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) para saber quantos universitários trabalham no Hospital de Base, no HRSM e nas seis unidades de pronto-atendimento (UPAs) — todos administrados pela instituição —, mas, até o fechamento desta edição, não teve retorno.

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Quem pode se vacinar no DF?

» Todos os profissionais ativos da rede pública de saúde

» Profissionais que atuam na linha de frente em hospitais particulares

» Idosos com 62 anos ou mais

» Profissionais de saúde da rede privada

» Pessoas com deficiência e idosos institucionalizados (que vivem em instituições de internação ou de longa permanência), além de cuidadores que atuam nesses locais

» Grupos que vivem em terras indígenas

» Pacientes em home care (apenas os que estejam na idade da vacinação)

» Servidores das forças de segurança pública

» Trabalhadores dos serviços de atenção pré-hospitalar (como Samu e outros)

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