ACOLHIMENTO NECESSÁRIO

Instituições mantêm atendimento a população carente na pandemia

Instituições como a Casa Azul, em Samambaia, mantêm as atividades, como distribuição de cestas básicas e prestação de serviços para a comunidade. Mas precisam de ajuda para tocar projetos

Brasília é considerada a realização das profecias sonhadas por São João Bosco. Dessa fonte de energia e solidariedade, surgiram entidades e institutos que, desde o início da capital, acolhem os mais vulneráveis e oferecem uma mão amiga à população mais pobre na capital da esperança. O surgimento e a história de cada um desses locais que abrigam idosos, crianças, portadores de necessidades especiais ou oferecem atividades e oportunidades a jovens estudantes mais pobres, se misturaram com a história as seis décadas da capital federal.

Neste momento difícil, o número de pessoas que precisam de cestas básicas, por exemplo, mais que dobrou em várias regiões, como é possível ver nos relatos de quem ajuda a tocar instituições beneficentes. Até o início da pandemia, a Casa Azul Felipe Augusto oferecia atividades para crianças e adolescentes no contraturno da escola. Hoje, com parte das atividades suspensas, distribui alimentos e presta atendimento psicossocial a famílias em Samambaia. O projeto nasceu a partir de um grupo de voluntários que servia lanche para crianças, em um assentamento que viria a se tornar a região administrativa de Samambaia. A presidente da instituição, Daise Lourenço Moisés, se mudou do Rio de Janeiro para Brasília, após perder o filho, Felipe Augusto, em 1989. Ela lembra que as crianças sempre levavam amigos para a Casa Azul, e a multiplicação de meninos e meninas despertou nela a vontade de fazer mais.

“Do lanche de sábado, passamos a servir almoço todo dia. Eles iam de manhã, faziam os trabalhos da escola, almoçavam e estudavam à tarde”, recorda Daise. Em pouco tempo, a vontade era de fazer mais. Os voluntários conseguiram ampliar o espaço e montaram a creche. Logo depois, ampliaram o atendimento para adolescentes de 14 anos e, posteriormente, 17, com cursos para o mercado de trabalho. Em 2017, em parceria com o Senac e Senai, começaram a oferecer cursos certificados e, em seguida, passaram a oferecer profissionalização para mulheres, principalmente vítimas de violência doméstica.

O trabalho que começou com 100 crianças hoje atende quase 2 mil. A instituição enfrenta dificuldades para conseguir e distribuir cestas básicas e kits de higiene. A verba não permite a compra do pacote para todas as 906 famílias assistidas, por isso, a necessidade de doações.

Acesse todas as reportagens no especial Brasília 61 anos

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Juliana de Souza: atuação solidária na região do Sol Nascente

Os mais velhos

O Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Núcleo Bandeirante, é um dos mais antigos da capital federal. A história do lugar se confunde com a da capital e também de seus funcionários, como é o caso da coordenadora geral no instituto, Ana Paula Neris de Aquino. Na década de 1980, com apenas 5 anos, visitava o lar com a avó, que era voluntária. Adulta, passou a trabalhar no local, ao se formar em enfermagem. Está na instituição há 15 anos. O Lar abriga 92 idosos e, no momento, tem cinco vagas, mas, com a pandemia, o preenchimento é mais lento, pois os recém-chegados, encaminhados pela Secretaria de Desenvolvimento Social, precisam fazer quarentena.

Funcionários e internos foram vacinados, e apareceram casos de coronavírus na instituição com o novo pico na pandemia, mas nenhum em estado grave. Para amenizar a solidão, agora, os parentes podem novamente visitar os idosos. Mas são apenas quatro por dia, em horários diferentes, mantendo o distanciamento e com agendamento prévio. As doações chegaram a cair 80% no início da pandemia, mas, com algumas campanhas, foi possível restabelecer ao menos parte do estoque. A maior dificuldade é o aumento do preço de produtos após a crise sanitária. A caixa de luvas, que era R$ 25, pode ser encontrada a R$ 90, em alguns casos. O uso é de 12 caixas por dia, em média.

Os internos consomem uma média de 480 litros de leite por semana, outro produto que sofreu aumento de preço. Ana Paula destaca que o cuidado é para que os idosos se sintam em casa. “Não é deixar os idosos aqui, simplesmente. É para ser um local de acolhimento, que eles se sintam em casa. Sem essa relação, não fazia sentido a casa existir. E ela se mantém com a colaboração de pessoas físicas e jurídicas, muitas ligadas ao fundador, Jorge Cauhy (morto em 2003). Foi assim que viramos referência”, explica a coordenadora.

Os mais novos

O Instituto do Carinho, em Ceilândia, reúne o Lar Bezerra de Menezes, para crianças que sofreram abusos e foram retiradas de suas famílias pela Vara da Infância e da Juventude; a Casa do Carinho, para 17 crianças com necessidades especiais que foram abandonadas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais públicos; e o projeto Criança do Futuro, com aulas de judô, balé, street dance, música e futebol para meninos e meninas da comunidade, mas que foi suspenso por conta da pandemia. Uma das fundadoras, a vice-presidente do instituto, Ana Laura Toffano Mazzei.

Com a pandemia, surgiu o projeto Irmã Dulce, para apoiar famílias carentes, incluindo os parentes das crianças abrigadas no Lar Bezerra de Menezes. Uma das campanhas solidárias conseguiu 112 toneladas de alimento e ajudou mais de 26 mil famílias. Porém o instituto começou a enfrentar dificuldade de encontrar empresas dispostas a fazer doações. “Éramos 10 amigos, mais ou menos, com projetos sociais separados, que tinham o objetivo de fundar um abrigo, fazer uma vida diferente para essas crianças. O objetivo era transformar a vida das crianças que chegassem até nós”, conta Ana Laura.

B?rbara Cabral/Esp. CB/D.A Press - Daise Lourenço: ações e parcerias para atender famílias na Casa Azul

Alimentando sonhos

Alimento, atividades variadas no contraturno da escola e o resgate do sonho com o futuro são pilares do projeto Mãos Solidárias, que atende a comunidade do Sol Nascente. Quem explica é a diretora de eventos da instituição, Juliana de Souza Nunes. O projeto começou em 2013, quando o idealizador, Wanderly de Souza Santos, decidiu ajudar uma senhora com 17 netos em uma das maiores favelas da América Latina. A busca pela ajuda da família revelou outras crianças em vulnerabilidade.

Com o tempo, reforço escolar e cursos de informática, foi possível devolver o sonho de uma profissão no futuro para os garotos. Agora, com a pandemia, grande parte das atividades foi suspensa. O Mãos Solidárias segue, no entanto, com curso de design de sobrancelhas para mães e com a distribuição de cestas básicas que, segundo Juliana, passaram de 1,2 mil para 3,5 mil famílias. “Precisamos de ajuda. Muitas pessoas tinham renda de camelô, diarista, e ficaram sem esse trabalho com a pandemia. A necessidade bateu muito grande no Sol Nascente”, relata Juliana.

Com o mesmo espírito, de distribuir cestas básicas a famílias atingidas pela pandemia, a estudante de direito Natália Alves e as amigas Valquíria Felix e Cristhiane Oliveira começaram a reunir donativos. O hábito da solidariedade já era antigo, e as amigas costumavam fazer ações no Dia das Crianças e no Natal, mas, com a pandemia, surgiu também a necessidade de criar o projeto Doar Transforma. “Vimos que muitas pessoas perderam o emprego, a renda, e surgiu a ideia de criar a instituição. Nos reunimos e fizemos uma página no Instagram, para alcançar quem pode nos ajudar. O projeto atende comunidades na Estrutural, em Sobradinho, Gama, Santa Maria, Ceilândia, Samambaia, Paranoá, Itapoã e Planaltina”, explica Natália.

 

Para seguir o exemplo


Um grupo de fotógrafos do DF encontrou uma solução simples para movimentar a sociedade em prol da solidariedade. Leilões virtuais com o pagamento direto na conta do projeto ou da instituição a ser beneficiada. Zuleika Souza, Nick Elmoor e José Roberto Bassul leiloaram duas fotografias e um quadro para o Projeto Rede Urbana de Ações Socioculturais (Ruas), que funciona no centro de Ceilândia, e também está distribuindo cestas básicas. Além de levantar R$ 3.245, outros participantes fizeram doações mesmo sem levar nenhuma das imagens. “É muito simples. Você pode leiloar um liquidificador seu que estiver sobrando. Ou com um quadro. Qualquer pessoa pode fazer”, explica Zuleika.


Ajude

Casa Azul
A instituição precisa de cesta básica e material de limpeza e higiene, álcool, álcool gel, limpeza sanitária, sabão, detergente, materiais de higiene e máscaras.

» Endereço e contato: QN 315, Conjunto F - Lotes- 1/4 – Samambaia; http://casazul.org.br/; atendimento@casazul.org.br
(61) 3359-2095 e (61) 3359- 2098

Lar dos Velhinhos Maria Madalena
A instituição divulga semanalmente e mensalmente as necessidades no site oficial, redes sociais e grupos de WhatsApp. Este mês ocorre a campanha do frango. São 25kg por dia e é a proteína favorita dos idosos.

» Endereço e contato: SMPW Trecho 3 Área Especial nº. 01 e 02 - Park Way; https://www.institutointegridade.org.br/doacao; (61) 3552-0504

Instituto do Carinho
As instituições precisam de hidratante infantil, bepantol para assaduras, lenço umedecido, sabonete líquido infantil, enxaguante bucal, leite em pó e leite integral.

» Endereço e contato: QNN 05 Casa 16 - Ceilândia; https://institutodocarinho.org.br/; (61) 99963-5551

Mãos Solidárias
O principal ítem para a instituição são as cestas básicas, distribuídas para famílias do Sol Nascente, em Ceilândia.

» Endereço e contato: Setor Habitacional Sol Nascente Trecho 03 Lote 09 Chácara 46. Ceilândia Norte; https://www.projetomaossolidarias.org.br/; (61) 98348-7545

Doar Transforma
O grupo precisa de cestas básicas, kits de higiene pessoal e máscaras para doar a famílias vulneráveis do DF.

» Endereço e contato: Instagram: @doartransforma_df;
Telefones: (61) 98114-3426 / (61) 984160878 / (61) 98181-1855

Saiba Mais

B?rbara Cabral/Esp. CB/D.A Press - 09/05/2018 Crédito: Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Entrega de Premio ao Merito no Senac. Na Foto Daise Lourenço Moisés.
Ed Alves/CB/D.A Press - Voluntários da Casa Azul entregam de cestas básicas e também realizam atendimento psicossocial para famílias carentes em Samambaia
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Juliana de Souza