Em uma noite de diversão, Daniel dos Santos Gomes, 26 anos, reuniu os amigos na garagem de casa para conversar, brincar e falar sobre o hobby: motociclismo. Na madrugada de sábado (1º/5), a confraternização acabou em tragédia. O rapaz foi morto após levar um tiro acidental da namorada, de 24 anos, na Rua 210, na QS 7 do Areal. A ação foi registrada por uma câmera de segurança. Ao Correio, vizinhos, que ouviram o disparo, descreveram o desespero de amigos e familiares.
As imagens, registradas às 3h02 de sábado, mostra a jovem sentada em uma cadeira manuseando uma arma de fogo, que estava sobre uma mesa. Vizinhos relataram que Daniel tinha acabado de sair do banho e foi até a garagem chamar a namorada. Ele aparece em pé ao lado da porta, momento em que a jovem aponta o revólver e atira acidentalmente contra o peito do motociclista.
Baleado, Daniel anda pela garagem e é socorrido pelos amigos segundos depois. Em estado de choque, a namorada dele permanece sentada, enquanto o rapaz é colocado deitado no chão. A vítima foi levada por familiares a um hospital particular de Taguatinga Sul, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Uma vizinha, que preferiu não revelar a identidade, mora ao lado da casa de Daniel e contou que acordou com barulho do disparo. “Foi a maior gritaria, ficamos assustados. Vi que outros moradores saíram de casa. Achávamos até que era alguma briga ou coisa do tipo. Quando nos demos conta, era uma tragédia”, lamenta. Segundo a mulher, o jovem era uma pessoa tranquila e reservada e, frequentemente, convidava os amigos para ficar em casa. “Ele andava de moto direto pela rua. Adorava essas coisas”, lembra.
Outra moradora, amiga da família, relatou que os parentes do jovem estão inconsoláveis. “Daniel nasceu e cresceu aqui. Os pais dele são nossos amigos. Está difícil até para conversar com eles. É uma situação lamentável”, relata. Daniel foi sepultado no domingo (2/5), no Cemitério Jardim Metropolitano, em Valparaíso (GO), no Entorno do DF. Na garagem de casa, várias motocicletas estacionadas, o que demonstrava o amor do jovem pelo hobby.
Investigação
O caso foi registrado na 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) como homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Fontes afirmaram que a arma pertencia a um amigo de Daniel e estava municiada com um projétil.
Após o incidente, a jovem se apresentou à unidade policial acompanhada de um advogado para relatar os fatos. Um inquérito policial foi instaurado a fim de apurar o caso, e a jovem foi liberada após assinar um documento em que se compromete a se apresentar espontaneamente quando convocada. O delegado-chefe da 21ª DP, Alexandre Gratão, informou que não comentará o ocorrido em respeito às famílias.
Memória
Tragédia que se repete
29 de outubro de 2020 — O policial penal Jailton Barbo Ferreira, 44 anos, morreu após ser atingido por um tiro nas costas, disparado acidentalmente por um colega de corporação. Ele trabalhava na Unidade Prisional Regional (UPR) de Santo Antônio do Descoberto (GO). Jailton atuava no sistema prisional goiano desde 2003, há 40 dias havia sido transferido para esta unidade.
24 de novembro de 2019 — Valfrido Nunes Ribeiro, 56 anos, levava uma espingarda enrolada em um plástico quando, por volta das 17h do sábado, caiu ao tentar embarcar em um ônibus da linha Paranoá-Planaltina, provocando dois disparos acidentais da arma. Ele foi atingido no abdômen e no pescoço, o que o fez perder muito sangue. Por estar em um quadro gravíssimo, Valfrido foi transferido pelo helicóptero dos bombeiros ao Hospital de Base, mas não resistiu e morreu.
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1.276 armas nas ruas em 4 meses
O DF ocupa a 10º posição com o maior número de pessoas que têm porte de armas permitidas, com base no levantamento obtido pelo Correio por meio da Polícia Federal (PF). Nos quatro primeiros meses deste ano, houve a emissão de 125 autorizações, sendo 115 para defesa pessoal, seis para segurança de dignatários e quatro para uso funcional.
Outro estudo mostra que o número de registros expedidos pela PF, entre janeiro e abril de 2021, representam 1.276 armas novas. Dessas, 1.006 foram solicitadas por cidadãos, 161 por servidores públicos (porte por prerrogativa de função), 75 por órgãos públicos sem taxa, 20 para outras categorias e 14 para empresas privadas.
Em entrevista ao Correio, o especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna avalia que o porte de armas legalizado não afeta diretamente os aspectos de segurança. “A legalização é algo que existe, mas, recentemente, traz um novo formato, menos burocrático. Não é muito diferente de obedecer regras para outras tarefas consideradas de risco, como conduzir um caminhão com produtos perigosos ou para pilotar uma aeronave. Todas têm certo perigo. Mas, se parâmetros forem estabelecidos e devidamente fiscalizados, a chance de gerar problemas é quase nula”, pondera.
O especialista alerta para os riscos em manusear armas, mesmo por pessoas treinadas. “O melhor exemplo é quando alguém que tem a CNH acha que pode dirigir um veículo de Stock Car, preparado para competição. Saber dirigir não habilita ninguém a entrar em um carro de corrida. Com armas não é diferente. E quem é realmente treinado sabe disso”, aponta.
125
Número de porte de arma permitidas emitidos, no DF, entre janeiro e abril de 2021