Inédito

UnB faz sequenciamento genético de morcegos

Equipe quer descobrir quais microrganismos esses mamíferos hospedam e criar um banco de dados. As informações vão ajudar a prevenir doenças e até surtos no futuro

» Adriana Bernardes » Edis Henrique Peres
postado em 09/05/2021 23:07 / atualizado em 10/05/2021 08:07
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press -  23/4/21)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 23/4/21)

Especialistas em protozoários, vírus, sequenciamento genético e proteínas da Universidade de Brasília (UnB) se unem em um estudo inédito de sequenciamento genético dos morcegos do Distrito Federal e Entorno. A meta é descobrir quais microrganismos eles hospedam e criar um banco de dados.

As pesquisas na capital começaram em janeiro deste ano, com a captura de 40 morcegos, de um total de 60 que serão analisados. E os primeiros resultados trazem boas notícias: nenhum dos mamíferos analisados até agora são hospedeiros do SARS-Cov 2, o vírus da covid-19.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores enviaram amostras para o Laboratório Central do DF (Lacen) que foram submetidas ao teste pelo método RT-PCR. Isso mesmo: o mesmo usado para detectar a infecção de covid-19 nos humanos.

Coordenador da pesquisa e do Programa de pós-graduação em patologia molecular da Faculdade de Medicina da UnB, Sèbastien Charneau ressalta que a investigação para saber se eles hospedam o novo coronavírus ou “parente” é apenas uma pequena parte da pesquisa. “Conhecer os microrganismos desses animais é importantíssimo para a saúde pública na medida em que ajuda a evitar doenças graves em humanos e até na prevenção de surtos no futuro”, garante Sèbastien, que também é professor de bioquímica no Instituto de Biologia, do Departamento de Biologia Celular.

Um exemplo disso é o fato de que alguns vírus da dengue foram encontrados em morcegos no Brasil. Sabemos se os animais do DF e Entorno também carregam o vírus? Não! Por outro lado, já se sabe que os macacos da região carregam o vírus da febre amarela.

Portanto, quando os primatas aparecem mortos, a Vigilância em Saúde do DF fica em alerta para um possível aumento de casos da doença entre os humanos. É esse tipo de informação que os pesquisadores buscam ao sequenciar geneticamente os morcegos.

Na primeira fase, os estudiosos capturaram morcegos perto da 405 Sul; em dois pontos da UnB – no Beijódromo e nas imediações do Restaurante Universitário; em uma fazenda na área do Tororó e em uma caverna de Brazlândia. O objetivo é analisar os mamíferos que vivem na cidade, nas áreas rurais e em cavernas para ter a maior diversidade possível de habitat.

A pesquisa inovadora, aprovada pelo Conselho de Ética da UnB, parte da análise de microrganismos presentes nos pulmões, fígado, sangue, coração e glândulas salivares dos bichos.

Para Sèbastien, o maior desafio no caso da pesquisa realizada no DF não é científico, mas financeiro. O grupo recebeu apenas R$ 35 mil reais, por meio dos recursos liberados para a Capes, para fazer o estudo. Praticamente todo esse valor foi usado na compra de máscaras, luvas, algumas ponteiras, tubos e reagentes para fazer a extração de material genético. “Essa é a primeira parte do projeto, com previsão de encerrar em setembro. O estudo completo deve ser concluído daqui a dois anos. Para executar o que propomos, precisamos de, ao menos, R$ 900 mil”, estima Sèbastien, que começou as tratativas com o Museu Nacional de História Natural da França, em Paris, para uma cooperação na pesquisa com morcegos.

Preservar e cuidar

Estudos da professora Ludmilla Aguiar, do Departamento de Zoologia da UnB, , reconhecida como a maior especialista no assunto da América do Sul e uma das pesquisadoras envolvidas no estudo de sequenciamento genético dos morcegos, revelaram que, em uma única noite, algumas espécies dispersam mais de 60 mil sementes, o que é fundamental para o reflorestamento.

 

 

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