Antes de ser morta, Larissa Nascimento, 22 anos, sofreu agressões pelo companheiro, João Paulo Moura de Sousa, 23, por quase duas horas. Vizinhos ouvidos pelo Correio narraram os momentos de terror durante a madrugada de domingo. A jovem foi assassinada a pauladas e entrou para a trágica estatística das vítimas de feminicídio. O agressor foi detido pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva, ontem. Ele tem passagens pela polícia, inclusive no âmbito da lei Maria da Penha. Desde o começo do ano, sete mulheres morreram em razão do gênero.
Era sábado à noite, quando Larissa e João foram a uma festa, próximo de casa, no Condomínio Del Lago, no Itapoã. Na volta, durante a madrugada, o casal começou a discutir. Uma vizinha, que preferiu não ser identificada, narrou que, por volta das 3h40, a briga se tornou violenta. “Comecei a ouvi-la gritar por socorro e escutei as pauladas. Aquilo começou a me apavorar e acionamos a polícia”, relatou.
Os policiais foram recebidos pela mãe do suspeito, que teria negado que algo de estranho estivesse acontecendo na casa. Ela disse que estranhou a chegada da Polícia Militar no imóvel. “A mulher pode ser responsabilizada por ter contribuído, de certa forma, para a consumação do feminicídio”, afirmou o delegado-chefe da 6ª DP, Ricardo Viana.
Os vizinhos lembram que, quando os policiais estiveram na residência, nenhum grito foi escutado. “Parecia que ele (João) estava tampando a boca dela. Depois que foram embora, a menina disse que não aguentava mais e, logo após, não consegui ouvir mais nada, somente eles falando que ela tinha desmaiado”, detalhou outra moradora da região.
Desfecho
Por volta das 10h40 de domingo, o irmão de João Paulo acionou o Corpo de Bombeiros. Os militares chegaram rapidamente ao endereço e encontraram Larissa sem vida. “Ela estava muito machucada, com o rosto desfigurado e irreconhecível”, completou uma vizinha que viu a vítima. Os moradores dizem que a relação do casal era conturbada, com brigas e violência.
Pouco tempo depois de matar a jovem, João usou o Facebook para dar a versão dele sobre o que teria ocorrido na madrugada de domingo. Segundo ele, o casal discutiu durante a noite e, ele teria agredido a vítima com uma sandália, o que provocou hematomas. “Nessa discussão, fui dormir. Já era tarde da noite. Ela, como sempre, dormia no chão quando brigávamos. Acordei pela manhã e me deparei com ela no chão. Balancei ela ‘levanta, amor. Vem para a cama’. Só que ela não estava me respondendo. Entrei em desespero. Ela não respondia e estava gelada”, escreveu.
Na mensagem, o homem continuou a dizer que fez de tudo para tentar reanimar Larissa, inclusive respiração boca a boca. Por fim, ele afirma que vai se entregar para a polícia e nega as acusações, alegando que a família da jovem está enfurecida por achar que ele a matou. A versão, no entanto, contradiz os fatos, de acordo com as investigações. João foi preso poucas horas depois do crime, na casa do pai, no Paranoá. Na delegacia, ele contou a mesma história.
O acusado acumula passagens pelos crimes de roubo, furto, receptação e tentativa de homicídio contra um adolescente. Ele tem outras cinco ocorrências registradas na Lei Maria da Penha. Em 5 de abril, foi preso em flagrante por lesão corporal, injúria, ameaça e dano qualificado contra Larissa, mas foi solto em audiência de custódia. João usava tornozeleira eletrônica.
Ontem, a Justiça converteu em preventiva a prisão em flagrante. “A gravidade concreta do fato por si só justifica a sua prisão. Contudo, o que se vê é que João Paulo é multirreincidente em diversos crimes, dentre os quais patrimoniais e contra a vida e envolvendo violência doméstica”, afirmou o juiz que presidiu a sessão. O magistrado lembrou que, no caso em análise, o autuado, “de maneira sorrateira, maldosa e cruel, na concepção deste juízo, aguardou para cumprir as ameaças que há muito vinha veiculando”.
Larissa deixa um filho de oito meses, fruto do relacionamento com João Paulo.
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