O presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (Sindmédico-DF), Gutemberg Fialho, explicou ontem, em entrevista ao CB.Poder — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —, que a covid-19 pode ser considerada uma doença ocupacional. Na conversa com o jornalista Alexandre de Paula, Gutemberg avaliou, também, as condições de trabalho de quem atua na linha de frente no combate ao novo coronavírus. “Quase um ano e meio (de pandemia) tem feito com que médicos e demais profissionais de saúde estejam exaustos”, destacou.
Após mais de um ano de pandemia, qual é a condição de trabalho dos médicos no Distrito Federal?
A situação dos médicos e de todos os profissionais de saúde no atendimento aos pacientes vítimas da covid-19 é de exaustão, pois estão todos sobrecarregados. O absenteísmo aumentou por conta dessa demanda fora do comum. Quase um ano e meio (de pandemia) tem feito com que médicos e demais profissionais de saúde estejam exaustos, desenvolvendo uma série de doenças, inclusive a Síndrome de Burnout, que é a exaustão profissional. É necessário que haja segurança a esses profissionais, com condições de trabalho, insumos suficientes para exercer a atividade e para cuidar do paciente com os equipamentos de proteção individual (EPIs).
O que acontece quando a pessoa pega a covid-19 no trabalho? Que tipo de auxílio ela pode ter?
Como médico do trabalho, sempre considerei a covid-19 adquirida no ambiente laboral como uma doença ocupacional. O Supremo Tribunal Federal (STF) manifestou que é necessário haver o nexo causal, mas é preciso que o trabalhador saiba disso. Se você está trabalhando em um local onde a exposição à infecção pela covid-19 é grande, e a maior probabilidade de adquirir foi naquele local, tem que comunicar a contaminação para que se abra uma investigação de nexo causal. Em caso de serviço público, notadamente, na Secretaria de Saúde, faz-se a investigação como acidente de serviço. Abre-se um processo até determinar o nexo causal. O celetista e o trabalhador precisam ir à Comunicação de Assistência ao Trabalho (CAT), e a Previdência Social vai apurar o nexo causal.
Profissionais de saúde estão entre os grupos prioritários de vacinação contra a covid-19 no DF. A medida foi efetiva?
O que chama mais a atenção é a vacinação dos profissionais de saúde da rede privada: clínicas e consultórios. Não só o médico, mas o auxiliar de enfermagem, o enfermeiro, o agente administrativo e o recepcionista, que estão ali no atendimento aos pacientes. Conseguimos, depois de muita discussão e cobrança, incluí-los nas aberturas de vacinação quando chegaram novas remessas. Mas continua numa velocidade baixa. Temos, hoje, de 5 a 6 mil médicos na cidade que não foram vacinados ainda. Estou falando de profissional que atende e toca no paciente e que está próximo dele.
A segunda fase da vacinação contra a gripe começou na terça-feira, no DF. De que maneira essa campanha ajuda na pandemia?
Quando você se imuniza contra a gripe, você evita o adoecimento. E se você está gripado, debilitado e pega a covid-19, o quadro é mais grave. Portanto, ao receber a vacina, a pessoa fica em uma situação melhor para responder à infecção pelo novo coronavírus. O último trabalho divulgado da Associação Holandesa de Pesquisa Científica mostra que existem casos de desenvolvimento de imunidade cruzada da vacina da gripe com a da covid-19. Isso significa que, ao tomar a vacina da gripe, você também desenvolve imunidade à infecção pela covid-19. Esse trabalho mostra que até 30% dos pacientes vacinados contra o vírus da Influenza desenvolvem imunidade contra a covid-19. Isso é fundamental de ser divulgado, porque estamos na campanha de vacinação da gripe com uma pequena adesão. E gripe também mata.
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