Deixar uma marca positiva por onde passa não é para todos. Existem pessoas singulares que contagiam pela humildade, pela pureza e pela alegria de viver. Assim era José Henrique Nazareth. Mais conhecido como Very Well, ele fez história no Palácio do Planalto, onde trabalhou por 51 anos. Foi de porteiro a contínuo do Comitê de Imprensa, e quem o conheceu só sabe elogiá-lo. Agora, o que restam são as homenagens e as boas lembranças. Ontem, foi dia de despedir-se de uma das figuras mais emblemáticas dos bastidores da sede do Poder Executivo.
Após quatro dias internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Santa Lúcia, tratando problemas no coração, Very Well morreu, aos 86 anos, por insuficiência cardíaca, causada por um infarto, na noite da última quarta-feira. Com apenas 30% do órgão funcionando, ele não resistiu.
Carinhoso, alegre, prestativo, comunicativo e brincalhão são alguns dos adjetivos usados por amigos e familiares para falar sobre Very Well. O apelido — que significa tudo bem, em português — o descrevia bem. Quem conviveu com ele lembra a simpatia e o sorriso constante no rosto.
Natural de Brazópolis (MG), ele chegou a Brasília em 1961, onde conseguiu, por meio de uma amiga, indicação para trabalhar como porteiro no Palácio do Planalto. O apelido de Very Well foi colocado por jornalistas do Comitê de Imprensa da Presidência, para onde logo foi transferido como contínuo por causa do permanente bom humor.
Ele despediu-se do Palácio do Planalto em 2013, aos 78 anos. À época, os colegas realizaram uma festa em homenagem aos 51 anos de serviço prestado por Very Well. Para o jornalista Irineu Tamanini, seria muito justo mudar o nome do comitê de imprensa do Palácio para Comitê de Imprensa Very Well. “(Ele) entrou no Palácio do Planalto no Governo Jango e saiu no Governo Dilma. Foram 51 anos de trabalho, 13 presidentes da República. Very sabia mais o que era lide do que muitos jornalistas que passaram pelo Palácio do Planalto”, declarou.
Very Well é lembrado pelo jornalista Márcio Braga como uma pessoa alegre, prestativa e comunicativa. “Os jornalistas dependiam dele. Qualquer coisa que a gente precisava procurava pelo Very Well. Todos têm o maior carinho por ele até hoje. Foi uma tristeza abrir as redes sociais e ver essa notícia. É um dia muito triste, mas ele está no céu, alegrando os anjos”, disse.
Mesmo com o passar dos anos, as boas lembranças do companheiro do Comitê de Imprensa permanecem frescas na memória. “Ele sempre manteve o carisma e era muito querido. Em seu aniversário, os presidentes faziam homenagens a ele. Era uma pessoa incrível. Se visse alguém chateado, já ia atrás para ajudar. Ele se importava com as pessoas. Hoje, só temos que lamentar essa perda”, completou Márcio.
O jornalista Paulo Fona contou que conheceu Very Well na década de 1970, quando era repórter da sucursal do Última Hora. “Na primeira viagem que fiz acompanhando o presidente Geisel, ele teve a paciência de me explicar como tudo funcionava e me apresentou ao pessoal da segurança presidencial. Com essas dicas, pude estar ao lado do então presidente sem problemas”, lembrou.
Para Fona, Very Well marcou pela presteza e gentileza. “Ele jamais esqueceu o meu nome, embora não fosse habitué do comitê de Imprensa do Palácio do Planalto. Gentileza como essa que ele me fez, não se esquece”, declarou o jornalista.
Nas redes sociais, amigos e familiares homenagearam Very Well com palavras carinhosas. “Hoje (ontem) é dia de Nossa Senhora de Fátima. Que ela receba o senhor de braços abertos, tio”, declarou uma sobrinha. “Que Jesus te receba com muito amor no retorno à Pátria Espiritual e conforte familiares e amigos!”, publicou uma amiga.
Legado
Sob forte comoção, o sepultamento de Very Well ocorreu na tarde de ontem, no cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Ele deixa a esposa, Miriam de Faro, com quem completaria 62 anos de casado ontem, sete filhos, 14 netos e dois bisnetos. Na memória da família fica a imagem de um homem otimista e sempre disposto. “Nunca reclamava de nada, nem de cansaço. Amava fazer esportes, participava dos eventos na igreja. Um homem bastante religioso, solidário, atento a ajudar as pessoas”, contou o servidor público Leonardo Faro Nazareth, 49, quinto filho do casal.
Para ele, o pai marcou a vida de muita gente. “Ele comprava umas medalhinhas de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa e distribuía entre as pessoas. Até hoje, tem gente que me encontra e fala ‘seu pai me deu um pingente’. No trabalho, mesmo sendo um ambiente mais formal, ele fazia questão de ter um envolvimento pessoal com todos. Isso marcou muito a passagem dele pelo Planalto”, declarou Leonardo.
Das conversas com o pai, ele guarda o prazer que tinha ao fazer coisas simples no dia a dia. “Ele tinha orgulho de fazer qualquer serviço. Chegou a levar jornais no avião dos presidentes, eram coisas simples, mas que fazia com muito prazer. Ele falava que não era serviço, era a missão dele. Ele só deixa boas lembranças”, completou o servidor público.
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