Em busca do mundo

Morador de Ceilândia é selecionado em programa de Jovens Embaixadores promovido pelo governo dos Estados Unidos. Com a oportunidade, Leonardo Pereira da Silva Neto. 17 anos, pretende se aperfeiçoar e diminuir a desigualdade educacional do país

» Júlia Mano* » Edis Henrique Peres
postado em 17/05/2021 21:47 / atualizado em 17/05/2021 21:51
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Quando entrou no Centro Interescolar de Línguas (CIL) de Ceilândia, em 2016, ainda estudante do 7° ano do ensino fundamental, Leonardo Pereira da Silva Neto, 17 anos, descobriu uma paixão por idiomas que ainda desconhecia. E a dedicação vem dando frutos para o estudante. Leonardo foi um dos 33 brasileiros selecionados pelo Programa Jovens Embaixadores, que recebeu, no total, 10.119 pessoas inscritas no processo seletivo organizado pela Embaixada dos Estados Unidos. Morador de Ceilândia Sul, atualmente Leonardo concilia o último ano do ensino médio com estudos de idiomas e participação em três projetos de empreendedorismo social, que buscam viabilizar o ensino de línguas estrangeiras para pessoas vulneráveis.

Ele não imaginava que o desejo de entrar no estudo gratuito de idiomas da rede pública de ensino resultaria em tantos benefícios. “O CIL é bem perto da minha casa e, quando eu e minha mãe passávamos de frente, ela sempre comentava que seria bom eu conseguir uma vaga. Foi uma amiga minha que me inscreveu, quando eu estava no 7° ano e, por sorte, fui um dos contemplados. Fazia o curso toda terça e quinta e passava a semana ansioso pelas aulas, torcia para a semana começar e eu ir para o CIL”, conta.

Leonardo revela que teve facilidade com o inglês e que se destacava na turma. “Quando comecei o curso, fui pesquisar intercâmbio para aprimorar meu domínio do idioma. Agora estou ansioso pela programação do Jovens Embaixadores, embora a gente não vá realizar o intercâmbio devido à pandemia, a minha expectativa com o evento é enorme”. A família do estudante recebeu com alegria o resultado dos Jovens Embaixadores publicado em 7 de maio pela embaixada. “Todos estavam torcendo muito por mim, porque sabem que é uma coisa importante para o meu futuro e também para o presente, pois se relaciona muito com as coisas que estou fazendo. É um programa incrível”.

O estudante havia se inscrito na edição anterior do programa. “Em 2020, me inscrevi, mas fui desclassificado na prova oral”, revela. Quando a seletiva para a edição de 2021 começou, Leonardo decidiu tentar mais uma vez. “Ter participado da seleção anterior foi importante, porque comecei a entender como funcionava o processo de maneira melhor. Não cheguei a fazer uma preparação específica para ser aprovado, mas as oportunidades que vivi ajudaram muito para que eu me autoconhecesse e estivesse pronto para as chances que pudessem surgir”, explica.

O estudante da rede pública de ensino do DF destaca outra experiência que contribuiu para a sua seleção. “Fiz uma viagem para o México em 2019, lá participei de um treinamento sobre vulnerabilidade, liderança e ativismo social e autoconhecimento. E eu acredito que o autoconhecimento é um pilar fundamental para quem quer ser um jovem embaixador”.

O programa

Organizado pela Embaixada dos EUA, o programa foi criado em 2002 e tem a parceria do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), das secretarias estaduais de Educação, da Associação de ex-Bolsistas de Programas do Governo Americano (USBEA), da rede de Centros Binacionais Brasil-Estados Unidos, das empresas FedEx, MDS e IBM, e do PLT4Way Inglês e Inclusão Social. A primeira edição ocorreu em 2003 e, desde então, 667 jovens participaram do programa.

O projeto é voltado para os estudantes brasileiros do ensino médio da rede pública que se destacam pelo desempenho escolar, conhecimento da língua inglesa, atitude positiva, capacidade de liderança e espírito empreendedor. Jovens de todo o país podem se candidatar nas edições. O intercâmbio, normalmente, ocorre em janeiro e leva os estudantes selecionados para os Estados Unidos.

No entanto, este ano, devido à pandemia causada pelo novo coronavírus, a edição será de forma virtual, com programação prevista para acontecer entre 14 de junho e 13 de agosto. Os estudantes brasileiros e americanos realizarão atividades sobre cultura, comunicação, liderança, cidadania digital e mudança social a nível local e global.

Solidariedade

O envolvimento de Leonardo com iniciativas educacionais começou em 2019, quando tinha 15 anos. Ele foi selecionado para participar do programa de embaixadores do projeto InspiraSonho, mas quando o programa acabou, Leonardo queria continuar a fazer algo que ajudasse as pessoas. O estudante decidiu, então, se reunir com três colegas e fundou o projeto Globalizando, que tem o objetivo de auxiliar no aprendizado de idiomas.

O Globalizando conecta professores voluntários para trabalharem em conjunto um idioma com base nos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estipulados pela Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). O programa começou em maio de 2019 e, atualmente, conta com 232 mentores que dão assistência a 686 estudantes. “O projeto é muito importante para mim, ele ganhou diversas premiações e também é reconhecido pela Embaixada dos EUA”, conta Leonardo.

O estudante também participa de outras iniciativas, como a Latin American Community of Young Leaders, da qual foi cofundador. A organização atua em toda a América Latina e desenvolve lideranças e empoderamento juvenil para os participantes transformarem os locais onde vivem. Leonardo explica que o idioma usado na comunicação interna e externa do projeto é o espanhol.

Leonardo revela que se dedica a um terceiro projeto, ao lado de três mulheres, a Wanderlust Brazilian Educational Initiative. O objetivo é tornar o projeto um negócio social com a finalidade de democratizar o ensino de idiomas no Brasil, por meio de mentorias em que serão selecionados professores voluntários para auxiliarem os estudantes que participam do programa.

Segundo Leonardo, o diferencial para fazer a diferença com esse tipo de projeto é realizar iniciativas que despertam paixão. “A primeira dica que eu dou é a pessoa se autoconhecer, isso é muito importante nesse processo, pois assim ela vai descobrir com o que quer trabalhar. E, claro, não vale começar um projeto apenas para pôr no currículo, a pessoa tem que gostar do que faz, para se dedicar seriamente. O importante é alinhar a paixão do que se gosta com uma transformação no mundo, isso é o foco do empreendedorismo social. E como gosto muito de idiomas, meu objetivo é sempre alinhar essa minha paixão com maneiras de diminuir o problema da desigualdade educacional”, conta.

Mesmo com os diversos projetos já realizados, Leonardo ainda tem muitas expectativas e planos para o futuro. “Eu quero trabalhar com algo voltado para relações internacionais, por isso penso em me graduar na área. Eu gosto muito de geopolítica, de negociações entre países, e claro, quero transformar a realidade das pessoas com isso”, finaliza.

*estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira


Conheça os projetos:

Globalizando

@projetoglobalizando

https://campsite.bio/globalizando

Latina American Community of Young Leaders

@lacom_unidad

https://linktr.ee/LACOM2021

Wanderlust Brazilian Educational Initiative

@initiative_wanderlust

https://campsite.bio/wbei/



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