Crônica da Cidade

Missão impossível

Severino Francisco
postado em 22/05/2021 22:01

O ex-ministro Eduardo Pazuello se coloca na situação do homem que enganou a CPI e ainda pediu o troco. Adestrado por um Pinocchio training, ele traiu a verdade que jurou honrar no início da sessão durante muitos momentos. No entanto, a ironia é que as mentiras com que julga ludibriar o Brasil inteiro voltam-se contra ele mesmo, rapidamente, em efeito bumerangue. Vejamos alguns exemplos.

O ex-ministro afirmou que a primeira vez em que soube da crise dos estoques de oxigênio em Manaus ocorreu no dia 10 de dezembro. Durante a sessão, o senador Omar Aziz lhe informou que acabara de receber um documento oficial do Ministério da Saúde, solicitado por um deputado, no qual consta o fato de a comunicação ter ocorrido em 8 de dezembro. Pazuello replicou que a divergência aconteceu porque o servidor do ministério se equivocou e informou a data errada.

Vamos a outro caso. Ao ser questionado sobre o uso do aplicativo Tratecov, de estímulo ao uso da cloroquina, lançado em Manaus, no ápice da crise sanitária daquele estado, quando as pessoas morriam nos hospitais por falta de oxigênio, Pazuello disse que se tratava de uma proposta experimental, ainda não autorizada oficialmente.

Como explicar então que ela tenha sido alardeada, com toda a pompa, em um programa da TV Brasil, em Manaus? Pazuello justificou que o programa foi hackeado e eles têm um boletim de ocorrência policial. Na ocasião, o senador Omar Aziz comentou: “Puxa, esse hacker é muito competente, chega a transmitir o programa em uma emissora de televisão”. Sempre algum elemento de realismo fantástico se insinua, sorrateiramente, nas histórias do ex-ministro.

Em outro momento, Pazuello foi instado pelo senador Eduardo Braga a pedir desculpas por passear sem máscara pelo shopping Manauara, em Manaus. Pazuello revelou novamente imaginação e justificou com o fato de que teria amassado, sem querer, a máscara no carro. E nem é preciso o testemunho de terceiros.

O próprio Pazuello se desmentiu ao adentrar as dependências do Senado para participar da CPI, sem máscara, como mostram fotos divulgadas pela imprensa. A realidade, os fatos, as ações, as omissões e os vídeos perseguem Pazuello e o desmoralizam.

Mas não é apenas quando mente que Pazuello fica desacreditado. Quando fala a verdade, ele também é desmerecido. Ao ser submetido a uma sabatina sobre o coronavírus, sem ensaio com o Pinocchio training, pelo senador e médico Otto Alencar, o ex-ministro tirou nota zero, não acertou nenhuma resposta a questões básicas.

Não sabia quando surgiu o coronavírus, quantas formas de coronavírus eram infectocontagiosas nem que, em 2012, as mulheres árabes se contaminaram menos em 80% do que os homens porque usavam máscaras. Pazuello não tinha competência para ser ministro da Saúde, sentenciou Otto Alencar, a quem ninguém poderia acusar de ser comunista.

Parece que o ex-ministro Pazuello pretende convencer ao Brasil de que ele manda e o presidente obedece. Mas não consegue, nem ensaiando seis meses com um Pinocchio training. Missão impossível.

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