Cultura

Arte se torna refúgio em meio a estresse e ansiedade na pandemia

Projeto organizado pela gerência de Cultura e pelo Conselho de Cultura do Guará disponibiliza terapia on-line para a comunidade cultural do Distrito Federal. O objetivo é minimizar os danos causados pela crise sanitária da covid-19

Edis Henrique Peres
postado em 24/05/2021 06:00 / atualizado em 24/05/2021 06:50
 (crédito:  Ed Alves/CB/D.A Press                  )
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press )

A arte, durante os períodos de isolamento social devido ao novo coronavírus, tornou-se um refúgio para a população lidar com o estresse e a ansiedade. Quem a produz, entretanto, enfrentou momentos complicados. Com a suspensão de diversas atividades presenciais por bastante tempo, sem renda e com medo do contágio, os profissionais do meio relatam esgotamento psicológico. Por isso, com o objetivo de amenizar as dificuldades dos artistas, o projeto Arte é Terapia — comandado pela Casa de Cultura e pelo Conselho de Cultura do Guará — foi criado com o foco de disponibilizar conteúdos terapêuticos para que os trabalhadores do setor possam lidar com a pandemia.

Atualmente, as oficinas contam com cerca de 50 alunos de todo o DF. O objetivo é disponibilizar o acesso para todos os interessados no canal do Youtube Cultura Guará, o perfil oficial do conselho. Julimar Pereira dos Santos, gerente de Cultura da região administrativa, conta que o projeto surgiu de uma demanda dos próprios artistas. “Já tínhamos vontade de fazer um trabalho desse tipo, mas, sem recurso, ficamos limitados. Então, em um grupo de artistas locais, tivemos esse apelo para trazer algum projeto de terapia ocupacional e saúde mental para os artistas, produtores e agentes culturais”, explica.

Julimar destaca que a crise causada pelo Sars-CoV-2 tem deixado a categoria abalada e que muitos artistas passam por dificuldades constantes. “É uma maneira de tentar diminuir os danos da pandemia. Eu convidei alguns terapeutas amigos para atuarem voluntariamente no projeto e trazer algum tipo de assistência. Pretendemos disponibilizar o conteúdo em julho para a população em geral, e o nosso objetivo é conseguir algum incentivo para manter as oficinas por mais tempo”, esclarece.

Os alunos interessados nas oficinas apenas precisam mandar mensagem ao professor (confira os contatos abaixo) para entrar no grupo de WhatsApp em que, minutos antes da sessão começar, é disponibilizado o link de acesso para as terapias. Damelis Castillo, 60 anos, artista e professora de espanhol, é uma das voluntárias do projeto. “Eu trabalho há muitos anos com música e canto terapia e, quando fui convidada para o projeto, fiquei feliz em poder ajudar. Como também sou professora de espanhol, ainda estou conseguindo ter alguma renda trabalhando, mas muitos colegas estão passando necessidade”, avalia. “O que seria de nós sem filmes, televisão, livros ou música? Acho que esse é um momento de sensibilizar toda a população sobre a importância do setor cultural para a vida cotidiana.”

Retribuição

Muitos professores voluntários também encontraram no projeto uma maneira de retribuir pelos benefícios que receberam e de levar saúde e conforto para os artistas. Tobias Velho, professor de tai chi chuan, 35 anos, morador do Paranoá, conta que procurou a técnica de arte marcial para aliviar alguns problemas de saúde que teve logo na juventude. “Em geral, aprendemos práticas de calma mental, de equilíbrio e controle das emoções. São vários os benefícios, desde físicos a mentais, como combate a doenças autoimunes, combate a hipertensão e a doenças cognitivas. E, como na arte você precisa estar com a mente clara para usar o lado da criatividade e produzir, o tai chi ajuda o artista a encontrar essa clareza. Sem falar que, geralmente, essa é uma prática cara e nem todos têm condição de pagar. Dessa forma, eles podem ter acesso a uma técnica que vai trazer bem-estar e de forma gratuita”, explica.

Larissa Mel, 34 anos, professora de ioga e moradora do Guará 2, revela que os artistas da região sempre buscam se ajudar. “Meus amigos do segmento cultural passaram por diversas dificuldades e nem todo mundo se enquadrou no formato on-line e conseguiu fazer sucesso.Com a pandemia, minha renda caiu muito e ficou muito difícil pagar as contas, então, se agora eu posso ajudar, fico muito feliz”, explica Larissa. O objetivo das aulas, de acordo com a professora de ioga, é melhorar a concentração e respiração dos participantes.

Um dos alunos que está assistindo às oficinas do projeto é Ataíde Carvalho Cavalcante, 40 anos. Morador de Samambaia, o filósofo e artesão diz que a arte é libertadora. “O projeto é superbacana porque abrange muitas regiões e não só a comunidade do Guará. E neste momento, é uma oportunidade para relaxar e se autoconhecer, para entrarmos em equilíbrio com o nosso corpo e nossa mente”.

Um presente para a cidade

A motivação de Jaqueline Venâncio, 25 anos, nutricionista e moradora do Guará 1, é trazer um retorno para a RA. “Eu sempre morei aqui, então participar desse projeto, desenvolvido pelo Guará, é muito gratificante para mim. Sempre gostei de fazer parte, de alguma forma, desses serviços voluntários, principalmente porque sou nutricionista, e a alimentação é a coisa mais básica e que gera mais saúde nas pessoas, no entanto, nem todos têm acesso a ela ou têm algum acompanhamento profissional”.

Também para Aldemir Borges, locutor publicitário, 54 anos e morador do Guará há mais de 40 anos, a paixão pela cidade é o motivo para fazer parte do projeto. “Quando fui convidado para dar as aulas de oratória terapêutica fiquei muito contente, porque as pessoas estão precisando expressar as emoções. Geralmente somos reprimidos e vivemos em uma ditadura do silêncio, mas falar traz muitos benefícios”, destaca.

Segundo o locutor, contar as angústias é uma maneira de deixar o fardo mais leve. “As pessoas podem aproveitar essa oportunidade para se ressignificar, sair dos momentos de sofrimento, ressocializar, se renovar. Acho que tudo se resume em esperança. E, claro, estar nesse projeto é muito satisfatório. Quem recebe um presente fica muito feliz, mas quem o doa, quem faz essa caridade, é ainda mais beneficiado e contagiado pela alegria”, finaliza.


Participe

Nutrição Terapia, com Jaqueline Venâncio
Todas as segundas-feiras das 10h às 11h
Mais informações: (61) 99538-0095


Oratória Terapêutica, com Aldemir Borges.
Todas as segundas-feiras das 15h às 16h
Mais informações: (61) 99194-0555


Ioga Terapia, com Larissa Mel - @larissayogamel
Todas as quartas-feiras das 9h às 10h
Mais informações: (61) 998234-0401


Tai Chi Chuan, com Tobias Velho
Todas as quintas-feiras das 8h às 9h
Mais informações: (61) 98231-3017


Canto Terapia, com Damelis Castillo
Todas as sextas-feiras das 10h às 11h
Mais informações: (61) 99128-5800


Tai Chi Chuan, com Oscar Dum
Todos os domingos das 9h às 10h
Mais informações: (61) 99803-6687



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