Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 30/05/2021 23:10

Sobre a poesia

Gosto muito de poesia. A das crônicas, a dos poemas, a da vida… Vagueio por aí à procura de palavras que possam se casar no papel como o canto dos pássaros ao amanhecer. Às vezes, o que encontro é só mesmo um cacarejar desastrado anunciando os primeiros raios de sol.
Um dos poemas que decorei primeiro, sem contar as letras de música, é claro, foi o Soneto de fidelidade. A métrica, as figuras de linguagem e o ritmo fascinantes destrinchados nas aulas de literatura tornaram a obra de Vinicius de Moraes ainda mais encantadora.
Tudo parecia fazer sentido, ainda que os sentimentos ali descritos estivessem tão distantes da minha realidade. Só o romance dos folhetins e o sonho com o príncipe encantado pareciam inteligíveis.

“De tudo ao meu amor serei atento antes/ E com tal zelo, e sempre, e tanto/ Que mesmo em face do maior encanto/ Dele se encante mais meu pensamento”

A genialidade numa simples mudança de posição da palavra. Não à toa, sua obra tão facilmente se transforme em música aos ouvidos, acrescida de adequada melodia.

“Quero vivê-lo em cada vão momento/ E em seu louvor hei de espalhar meu canto/ E rir meu riso, e derramar meu pranto/ Ao seu pesar ou seu contentamento”

E assim, num verso singelo, descobre-se o valor de um pleonasmo, essa figura de linguagem que tanto se insiste chamar de vício. Ah, a velha gramática nem sempre está preparada para as artimanhas de um poeta. Mas o professor deu a dica de ouro, ensinou o caminho das pedras: leiam! Valorizem os livros à sua disposição.

“E assim, quando mais tarde me procure/ Quem sabe a morte, angústia de quem vive/ Quem sabe a solidão, fim de quem ama/ Eu possa lhe dizer do amor (que tive)/ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure”
Quando essas duas estrofes finais começaram a fazer mais sentido e se tornaram facilmente desvendáveis, era hora de seguir em busca de outros desafios poéticos. O clima soturno de Edgar Allan Poe não é tanto a minha praia, mas convida a um universo fantástico encantador.
O que me tira o fôlego, porém, a cada leitura, como num encontro apoteótico com a delicadeza e a genialidade de palavras que se abraçam como se nunca devêssemos usá-las separadas, é a poesia de Leminski. Sorte a nossa poder mergulhar nesses universos poéticos.

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