Solidariedade

Muito além de um abraço, brasilienses encontram conforto em boas ações

Mesmo com as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, moradores do DF encontram maneiras de demonstrar carinho. Desde projetos sociais a homenagens a distância, no dia nacional do abraço, não falta afeto na capital do país

Pelo segundo ano consecutivo, o dia nacional do abraço, celebrado neste sábado (22/5), é sem contato físico. No entanto, embora o afago na pele não possa ser feito, diversas pessoas encontraram outras formas de demonstrar carinho, seguindo os protocolos de segurança. Por meio de projetos sociais, moradores do Distrito Federal levam aconchego à população mais vulnerável. Para eles, a pandemia da covid-19 não é um obstáculo que impeça gestos de conforto. No fim, o abraço desses voluntários vai além do entrelaçar de braços.

A Associação Anjalhaços de Apoio, Cultura, Arte e Ação Social realiza doações de alimentos, kits escolares e roupas para as pessoas em vulnerabilidade de Santa Maria e do Entorno do DF. A diretora de ações sociais externas, Maria Zulema, 55 anos, moradora do Gama, conta que antes da crise sanitária, o Anjalhaços visitava hospitais de Santa Maria, Samambaia, Ceilândia, Sobradinho, Taguatinga e Hospital de Base. Contudo, devido ao novo coronavírus, a equipe foi aconselhada a não ir às unidades.

“A gente continuou recebendo mensagens das pessoas pedindo ajuda para a nossa associação. Então, nos focamos, durante a pandemia, em doar alimentos para quem mais precisa. Fazemos doações de cestas e organizamos campanhas para arrecadar comida. Atendemos, hoje, cerca de 150 famílias. E, com a pandemia, esses gestos estão sendo muito importantes, porque tem gente passando fome. Quando visitamos as famílias, as crianças nem pedem por doce ou biscoito, elas pedem por arroz e feijão”, relata Maria Zulema. A Anjalhaços atua há 11 anos na capital e, atualmente, promove uma campanha de arrecadação de agasalhos para os meses de junho e julho.

Sabrina Barbosa Lima, 29 anos, mãe de sete crianças, entre 2 e 13 anos, é uma das “abraçadas” pela associação. “Antes, eu ganhava dinheiro cuidando de outras crianças e os levando para a escola, mas, agora, com a doença, eu não tenho nenhum tipo de renda. Meu marido está trabalhando, mas moramos de aluguel, temos água e luz para pagar e, com sete filhos, o gasto sempre é alto. Desde que comecei a ser ajudada pelo Anjalhaços, a diferença tem sido enorme na minha vida”, afirma a moradora do Condomínio Porto Rico, em Santa Maria.

Voluntários

No Hospital de Base, o grupo de Serviço Auxiliar Voluntário (SAV), que atua há mais de 40 anos no local, voltou a realizar, na última quarta-feira, atividades nos leitos da unidade. Devido à pandemia, as ações diretas do coletivo estavam restritas, embora os voluntários continuassem com o serviço de doações e bazar. “Conseguimos retomar o nosso trabalho porque o Hospital pediu por nossa vacinação, pois fomos considerados trabalhadores de saúde. E, em todos os leitos por que passamos, ouvimos os pacientes e a equipe médica relatando como estavam com saudades”, explica a relações-públicas do SAV, Marleide Dias da Costa, 56.

Eles fazem música nos andares do hospital, oferecem kits de higiene, doação de roupas, cadeiras de roda, andadores e cadeiras de banho. “Não paramos de funcionar com a restrição, só não fazíamos o contato direto com os pacientes. Mas, agora, todos estamos felizes por poder retomar esse acolhimento, essa conversa ao pé do leito. Tem muitos pacientes que vêm de outros estados, pois o Base é referência no Brasil, e, por vezes, não possuem nenhum familiar, aqui, em Brasília. A gente acaba se tornando amigo, dando esse apoio para eles não se sentirem tão sozinhos”, orgulha-se Marleide, que é voluntária há seis anos no SAV.

Juventude em ação

Preocupados em levar alegria aos mais vulneráveis, o Projeto Sorridente reúne jovens, entre 16 e 23 anos, que se dedicam a arrecadar alimentos para doações. Um dos líderes da iniciativa, André Duarte, 22, revela que o projeto atua desde 2018. “O nosso foco inicial era produzir ações para as crianças, com festivais, camas elásticas e diversas brincadeiras. No entanto, com a pandemia, isso mudou. Agora atuamos muito em orfanatos e doando cestas básicas”, explica o morador do Gama.

O grupo possui cerca de 90 voluntários, que fazem arrecadações e buscam parceiros para montar cestas básicas e realizar a entrega. “Eu acho que o nosso trabalho é uma forma de demonstrar esperança, de provar que existe amor e preocupação com as pessoas. Já entregamos cerca de 70 cestas básicas no último projeto que fizemos e buscamos ajudar todos que nos procuram. Já atendemos famílias da Estrutural, do Sol Nascente/Pôr do Sol e do Novo Gama (GO). O Projeto Sorridente é isso, uma galera jovem disposta a fazer o bem”, descreve André.

Cura

Larissa Polejack, professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB) e diretora de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu), pontua que dar afeto é, inclusive, uma das maneiras de manter o bem-estar emocional. “Cuidar do outro a distância é possível e importante. O ser humano é social e quanto mais ficamos em solidão, maior a chance de adoecimento. Para proteger a saúde mental, participar de um grupo, para se sentir parte de alguma coisa, e ser solidário, para sentir que é capaz de ajudar alguém, faz a diferença”, frisa.

A professora destaca que é natural a saúde psicológica estar fragilizada devido a pandemia e, inclusive, cita um exemplo pessoal. “Eu perdi meu pai na semana passada e não pude ir ao enterro, porque ele morava em outro país. Mas, mesmo assim, os abraços foram chegando até mim na forma de uma orquídea dos colegas de trabalho, de uma cesta de meus amigos, de mensagens nas redes sociais. Eu senti a presença do cuidado”, liustra a psicóloga.

Luíza Muniz Pinheiro, socióloga, 30 anos e moradora da Asa Norte, foi uma das brasilienses que encontrou uma maneira alternativa de mostrar para a mãe, Maria Lúcia Muniz de Almeida, 61, que ela era especial. As duas estão em isolamento desde o começo da pandemia, em março, e a única vez em que saíram de casa foi para Maria se vacinar contra a covid-19. “No aniversário dela, eu queria fazer algo, por isso pedi para os amigos enviarem uma gravação de homenagem”. Em 18 de maio, aniversário de Maria, Luíza pediu para a mãe fechar os olhos enquanto a levava para a sala. “Quando ela chegou, o vídeo já estava na televisão. Eu montei a homenagem que as 25 pessoas mandaram, e ficou muito emocionante”, destaca Luíza.

Na data do aniversário, Leda Lima, 52 anos, balconista e moradora do Novo Gama, também recebeu uma surpresa dos filhos. Devido ao isolamento, os almoços de famílias estão suspensos e a família evita se expor. Por isso, Juliana Souza de Lima, 20 anos, moradora do Novo Gama e atendente de papelaria, encontrou uma alternativa para homenagear a mãe. “Como eu trabalho em comércio eu fico com muito medo de levar a doença para quem eu amo, por isso só fico do trabalho para casa. Mas nossa família não queria deixar o aniversário de minha mãe passar em branco, então alugamos um carro de mensagem para ela”, narra.

A atendente conta que Leda se emocionou com a homenagem. “Pedimos para o carro ir no serviço dela e foi muito lindo. Acho que o importante é não deixar passar em branco uma data especial como essa. É possível comemorar, sem risco, mas de forma alegre”.

Dignidade

Com doações, 1.200 famílias da capital do país e Entorno recebem o acolhimento do projeto Cáritas Paroquial São José do Santa Maria. A presidente e voluntária, Marta Helena Almeida Gonçalves, 44, conta que o projeto existe desde 2006. “Levamos ajuda em cestas básicas e de verduras. Assim como fraldas geriátricas, campanhas de cobertores, marmitas e orientações diversas. A gente busca abraçar essas famílias, da melhor forma que podemos”, revela. “Em geral, a cada 15 dias buscamos levar cestas verdes, mas nem sempre conseguimos atender a todos, pois são muitos. A gente tenta formar uma corrente do bem e continuar ajudando um ao outro” detalha.

Uma das beneficiadas pelo projeto é Aline Macena Dias, 32, moradora de Santa Maria. “Eu tenho um filho especial de 15 anos e outro de 2 anos. Antes da pandemia, eu e meu esposo vendíamos balinha no semáforo, mas, agora, preciso ficar em casa para cuidar dos meninos. A gente sobrevive com os bicos que meu esposo faz e com as cestas que o Cáritas doa. Quando a pandemia começou, fomos expulsos do nosso antigo aluguel. O meu desejo é que as pessoas continuem ajudando, porque é tanta gente passando por situações difíceis. Mesmo antes da pandemia, e claro, quando ela acabar, nem todos vão conseguir emprego imediatamente”, lamenta Aline.

Como ajudar

Projeto Sorridente

Contatos:

(61) 99269-2943
(61) 99974-7262
(61) 99402-9771

@projeto_sorridente


Associação Anjalhaços

Contatos:

(61) 98449-1000
(61) 98139-3187

@anjalhacos


Cáritas Paroquial São José

Contato:

(61) 98609-3916


Serviço Auxiliar Voluntário
(SAV) do Hospital de Base

Contato:

(61) 99212-4575

 

 

Arquivo pessoal - Anjalhaços atende cerca de 150 famílias
Arquivo pessoal - Projeto Cáritas arrecada alimentos e cestas básicas