CULTURA

Em mais um ano, quadrilhas juninas do DF organizam apresentações a distância

Devido à pandemia da covid-19, as quadrilhas juninas programam apresentações on-line ou drive-in pelo segundo ano consecutivo. Sem o tradicional concurso, para evitar aglomerações, os grupos preparam coreografias com menos pessoas e ensaios virtuais

Caroline Cintra
postado em 07/06/2021 06:00
Diretor da Liga de Quadrilhas Juninas do DF e Entorno, Robson Vilela, e a costureira Maria Teixeira: ela cria roupas para diversos grupos de quadrilhas da capital federal -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Diretor da Liga de Quadrilhas Juninas do DF e Entorno, Robson Vilela, e a costureira Maria Teixeira: ela cria roupas para diversos grupos de quadrilhas da capital federal - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A chegada de junho traz um dos eventos anuais mais amados pelos brasilienses: a festa junina. Mas a tradicional celebração deixará, mais uma vez, o gostinho da saudade. Isso porque, devido à pandemia do novo coronavírus, os festejos não poderão ser realizados de maneira a evitar aglomerações. No entanto, a fim de manter a tradição e a animação que a festança pede, as quadrilhas juninas, pelo segundo ano consecutivo, preparam apresentações on-line e em drive-in com um número reduzido de dançarinos. Nessa nova modalidade, os integrantes precisaram se adaptar aos ensaios e aos encontros virtuais.

Diretor da Liga de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal e Entorno e da quadrilha Sanfona Lascada de Ceilândia, Robson Vilela, mais conhecido como Fusca, conta que os grupos dependem de espaços públicos para ensaiar, como as escolas, mas, devido o risco de contaminação do novo coronavírus e ao cancelamento da competição anual de quadrilhas, eles têm usado ferramentas on-line para manter as atividades. “Nesse momento, os 32 grupos que fazem parte da liga, hoje, participarão de mostras por meio de lives, com, no máximo, seis casais. É o que podemos fazer diante do cenário atual. Sabemos como o movimento pulsa no DF, e todos têm saudade. Quando tudo voltar ao normal, teremos a obrigação de fazer as melhores festas”, prometeu.

No ano passado, as quadrilhas fizeram apresentações virtuais que alcançaram 20 mil visualizações. “Estamos preparando um circuito bonito, com três festas virtuais e drive-in. Ainda não temos datas, estamos dependendo de algumas decisões e decretos da Secretaria de Cultura (Secec). Vamos sentar com eles, em breve, para decidir tudo direitinho e fazer algo bem legal, porque a população merece”, adianta Robson.

Em nota, a Secec informou que as ações juninas estão em fase de elaboração. Entre elas, a pasta prepara o Prêmio de Quadrilhas Juninas. O chamamento público contemplará cerca de 50 coletivos e organizações de quadrilhas juninas do DF como reconhecimento às suas trajetórias. Os recursos são provenientes de emendas parlamentares federais. A premiação está prevista para o final de setembro. “A iniciativa tem por objetivo valorizar e reconhecer a importância desse tipo de manifestação cultural, além de socorrer financeiramente o segmento, impedido de se apresentar durante a pandemia da covid-19”, diz o texto.

Costureira de diversas quadrilhas juninas do DF, Maria Teixeira Barros, 73 anos, é uma das pessoas que dependem do setor para complementar a renda. Ela diz que nunca imaginou viver um momento como esse em 35 anos de profissão. “Está sendo difícil e muito ruim, porque sou acostumada a, todo ano, pegar um monte de quadrilha. De janeiro a junho, estamos fazendo roupa e não tem mais disso. Só duas ou três me procuram para fazer live. Meu pedido para Deus é que isso acabe logo, porque queremos trabalhar. Isso tem afetado as finanças. Acredito que ano que vem volte tudo ao normal”, avalia.

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    Representante de Ceilândia, a Quadrilha Rebuliço contam com 80 integrantes e teve dificuldade de adaptar-se ao modelo virtual Arquivo Pessoal.

Expectativa

Embora esteja com boas expectativas, principalmente para o próximo ano, o bombeiro militar e um dos diretores da Quadrilha Rebuliço de Ceilândia, Zeca Valuar, 53, afirma ser bastante realista com o cenário. “Por mais que a gente queira, o momento é que todos sejam vacinados, porque queira ou não, gera risco para a sociedade. As expectativas maiores são para ter convívio diário com todos nos ensaios, ir à costureira, montar cenário, tudo faz parte desse convívio e estamos com saudade, com certeza”, destaca.

Sobre a adequação ao modelo virtual, Zeca admite que não foi fácil. “Na verdade, o mundo inteiro teve dificuldade para se adaptar a tudo isso, mas, aos poucos, vamos nos adaptando. A juventude, que é mais tecnológica, tira de letra, mas quem tem mais idade, tem mais dificuldade”, completa. A Quadrilha Rebuliço de Ceilândia é composta por 80 pessoas, entre dançarinos, diretoria, produção e coreógrafos. “Somos conhecidos por abraçar a todos. A população, sobretudo os jovens e adolescentes, é carente de atrações culturais. A quadrilha serve para inserir esses novos conhecimentos”, frisa.

Este ano, a Quadrilha Rebuliço completa 20 anos de história. “É um ano superimportante para nós e gostaríamos de comemorar com muita festa, mas não será possível. Vamos participar do circuito de apresentações on-line e drive-in e, em breve, vamos comemorar como o grupo merece”, adianta Zeca.

União

Mesmo com os encontros virtuais, a presidente da Quadrilha Sabugo de Milho de Taguatinga, a professora Andrezza Dias, 42, faz questão de entrar em contato com todos os integrantes da companhia. “Temos um grupo no WhatsApp, sempre movimento as redes sociais para que saibam que estamos distantes fisicamente, mas sem deixar a união de lado. Fizemos alguns ensaios presenciais, mas achamos arriscado e apostamos no virtual mesmo. Temos que cuidar da nossa saúde, sem deixar a quadrilha morrer”, ressalta.

Para que os encontros on-line deem certo, um coreógrafo monta a dança e passa para os integrantes. Na hora do ensaio, eles passam a coreografia. “A gente faz como dá para a galera ir se animando. A quadrilha tem 60 pessoas, alguns são idosos e já se vacinaram, os professores estão esperando a vez deles. Para os jovens, vai demorar mais, mas estamos ansiosos para que isso aconteça logo. Para este ano, as expectativas são baixas. Tudo pode retornar só em 2022”, espera Andrezza.

Lembranças

Enquanto os grupos não podem se reunir pessoalmente, ficam as boas memórias dos momentos juntos e a expectativa de dias melhores. “Os dançarinos estão ansiosos para retornarmos. Este ano, completamos 25 anos e só temos boas lembranças do que já passou. Mesmo que o Governo do Distrito Federal libere eventos, não há porque fazermos festa neste momento, mas temos o papel de levar alegria por meio da cultura popular”, destaca o presidente da quadrilha Formiga da Roça, Patrese Ricardo da Silva, 35.

Ele reforça que a classe cultural é a mais afetada na pandemia. “Mesmo com o abre e fecha do governo, pouco mudou em relação aos eventos. Nos preocupamos muito com isso, porque é o ganha pão de muita gente. Mas vamos acreditar que ano que vem tudo melhore e possamos retornar nossas apresentações, sem riscos para ninguém”, finaliza.

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