HISTÓRIAS DE BRASÍLIA

Morre Tião Padeiro, fundador da tradicional Pastelaria Viçosa

Aos 92 anos, o empresário deixou um legado na história da capital federal com o empreendimento que se tornou a cara de Brasília

Talita de Souza
postado em 15/06/2021 18:00 / atualizado em 15/06/2021 18:12
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Brasília se despede de um grande nome da história da capital: Sebastião Gomes da Silva, fundador da Pastelaria Viçosa, morreu na manhã desta terça-feira (15/6), aos 92 anos. De acordo com a Pastelaria, o Tião Padeiro, como era conhecido, não resistiu à uma internação para tratar de complicações de saúde; ele tinha diabetes e fazia hemodiálise.

Patrícia Rosa, filha de Tião e atual gestora da Pastelaria Viçosa, afirma que, apesar da dor da perda, a família está grata por tudo que aprendeu com o empresário. “Meu pai foi uma pessoa muito importante na nossa vida. Desde o começo de Brasília, ele teve garra e perseverança. O positivismo e a fé dele foram passados para nós e eu me orgulho disso”, conta.

Patrícia Rosa, filha de Tião, gerencia o empreendimento atualmente. Ela afirma que se inspira na fé e na garra do pai
Patrícia Rosa, filha de Tião, gerencia o empreendimento atualmente. Ela afirma que se inspira na fé e na garra do pai (foto: Arquivo pessoal)

Ela diz que durante as mais de nove décadas de vida, Tião deixou um legado de criatividade, ousadia e força. “Nós, da nossa família, temos uma característica do meu pai que o representa bem: ele dizia que o mundo só melhora, aconteça o que acontecer, entra governo ou sai governo. Ele era um guerreiro e lutador”, afirma. Tião foi um orgulhoso e amoroso pai de três filhos, avô de nove netos e bisavô de um bisneto.

Na sexta-feira (11/6), Tião chegou a visitar a sede administrativa da empresa que fundou. “Ele estava bem, mas tinha problemas de saúde que o faziam ir e voltar do hospital”, relata Antônio Paulo Gonçalves, 53 anos, do departamento pessoal da Pastelaria. Ele lembra com carinho de Tião, que lhe deu o primeiro emprego em Brasília.

“Eu cheguei do Maranhão, há 24 anos, sem nada. Comecei nos serviços gerais da unidade da Rodoviária e ele me promoveu até chegar no departamento pessoal. Ele valorizava os empregados, era um bom patrão”, lembra emocionado.

Em pronunciamento oficial, publicado nas redes sociais, a Pastelaria Viçosa diz que os 92 anos de Tião deixou um legado “de um homem alegre, batalhador e positivo, que realizou inúmeras tarefas, dentre as quais, viveu uma vida bem vivida”. A nota ainda afirma que a família “está sentida”, mas agradecida pela convivência com o empresário.

Confira a nota na íntegra, que é acompanhada por um vídeo com o depoimento de Tião, feito para uma campanha da empresa há alguns meses:

De Minas a Brasília: há mais de 60 anos fazendo história

Natural de Barra Longa, Minas Gerais, Tião Padeiro foi criado em uma fazenda de plantação de milho e feijão, mas não seguiu o ramo da agricultura. Entre vários bicos, ele chegou a abrir bar e restaurante em Belo Horizonte. Em pouco tempo, decidiu seguir outra carreira. Foi até o Rio de Janeiro e se aventurou na carreira de ator junto à esposa Ivanildes, mas desistiu após ver o dia a dia da profissão.

No entanto, foi na terra fluminense que ele viu, no cinema, um trailer que mostrava o começo de Brasília: pessoas animadas indo para o que viria ser a nova capital. Ele propôs à esposa que mudassem para lá, plano que foi concretizado em 1957, quando Tião tinha 28 anos. Em um depoimento, ele chegou a dizer que a vida era “comer, dormir e trabalhar”.

Em pouco tempo, ele se aventurou a servir pão com manteiga aos pioneiros. O negócio deu certo e ele abriu uma padaria em Sobradinho. Tudo mudou, no entanto, quando Tião e a esposa perderam um ônibus para ir até Belo Horizonte e, com fome, comeram um pastel de um ambulante que vendia os produtos em uma cesta — era o futuro sócio de Tião, Eugênio Apolônio. O mineiro propôs uma sociedade a Eugênio, que aceitou.

A unidade mais famosa da pastelaria, na Rodoviária do Plano Piloto, começou, em 1960, em um espaço de 2,5 m², com uma fritadeira e uma máquina de caldo de cana. Nascia a Pastelaria Viçosa, a mais tradicional da cidade. De acordo com a assessoria, o negócio chegou a vender, no início, cerca de 40 mil pastéis por dia. Passaram no local o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, ainda no começo, seguido por operários, artistas e outros políticos, inclusive presidentes da última década — Dilma Rousseff, Michel Temer — e o atual, Jair Bolsonaro (sem partido).

Tião ainda abriu outros empreendimentos, começou a cultivar a própria cana, e passou a vender pastéis para outros negócios. De acordo com a Pastelaria, são mais de mil revendedores fora do Distrito Federal.

Em um vídeo gravado para uma campanha do empreendimento, ele diz que Brasília mostrou ao mundo o poder do país. “Eu vi tanta coisa. Qualquer coisa que você me perguntar de Brasília eu vi. Entreguei pão em todas as obras. Hoje Brasília mostra ao mundo que tem um país na América do Sul que tem poder e que terá ainda mais”, diz Tião.

“Eu me sinto orgulhoso, cheio de vaidade de ter ajudado a fazer Brasília. Eu dei à cidade o que eu pude, onde eu passei, eu ajudei. Faria tudo de novo. Hoje eu tenho uma esperança só: fazer o mundo melhor, todo dia”, conclui.

 

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  • Tião Padeiro, fundador da Pastelaria Viçosa, morre aos 92 anos
    Tião Padeiro, fundador da Pastelaria Viçosa, morre aos 92 anos Foto: Pastelaria Viçosa/Reprodução
  • Tião Padeiro, fundador da Pastelaria Viçosa, morre aos 92 anos
    Tião Padeiro, fundador da Pastelaria Viçosa, morre aos 92 anos Foto: Pastelaria Viçosa/Reprodução
  • Tião Padeiro, fundador da Pastelaria Viçosa, morre aos 92 anos
    Tião Padeiro, fundador da Pastelaria Viçosa, morre aos 92 anos Foto: Arquivo pessoal
  • Patrícia Rosa, filha de Tião, gerencia o empreendimento atualmente. Ela afirma que se inspira na fé e na garra do pai
    Patrícia Rosa, filha de Tião, gerencia o empreendimento atualmente. Ela afirma que se inspira na fé e na garra do pai Foto: Arquivo pessoal
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