A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, exortou a comunidade internacional a uma “ação urgente” em resposta a retrocessos sem precedentes no campo dos direitos humanos. “Para nos recuperarmos dos maiores e mais graves recuos dos direitos humanos já vistos, precisamos ter uma visão que mude a vida e uma ação coordenada” para implementá-la, declarou Bachelet aos membros do Conselho de Direitos Humanos, na abertura de sua 47ª sessão. Durante o evento, a ex-presidenta chilena publicará um relatório sobre o racismo sistêmico e sobre a violência policial contra afrodescendentes. O Conselho também deverá apresentar projetos de resolução sobre a região de Tigré (Etiópia) e os rohingyas, em Mianmar.
No discurso inaugural, Bachelet se disse “alarmada” com o “alto nível de violência política” nas recentes eleições legislativas e municipais do México e expressou “grave preocupação” com a repressão contra manifestantes na Colômbia. “Pelo menos 91 políticos e membros de partidos, entre eles 36 candidatos eleitorais, foram assassinados durante o período eleitoral que começou em setembro de 2020”, relatou Bachelet.
Em relação à Colômbia, a alta comissária citou que, entre 28 de abril e 16 de junho, foram registradas 56 mortes (54 civis e dois policiais) nos protestos contra o governo de Ivan Duque. Também houve denúncias de 49 casos de violência sexual.
Desafios
Kenneth Roth, diretor executivo da organização não governamental Human Rights Watch (HRW), afirmou ao Correio não concordar com o tom alarmista de Bachelet. “Com frequência, as pessoas costumam alegar que os desafios de hoje são os piores de todos. No entanto, um momento de reflexão sobre as maiores tragédias humanas do passado — o Holocausto, o genocídio de Ruanda e a Revoluão Cultural, entre outras — demonstrarão que dificilmente este é o caso”, comentou.
Apesar de considerar a existência de desafios no setor dos direitos humanos, Roth vê retrocessos significativos. Ele cita a detenção de 1 milhão de uigures e de membros de outras etnicas muçulmanas na província chinesa de Xinjiang, a fim de forçá-los a renunciar ao islã. “Governos se unem em números sem precedentes para condenar a China”, disse.
Segundo o diretor da HRW, autocratas têm atacado o sistema de freios e contrapesos sobre o seu poder. “Ainda assim, as pessoas saem às ruas para defender a democracia em uma nação após a outra. Em resumo, há uma batalha em andamento. Em vez de se desesperar falsamente com reveses sem precedentes para os direitos humanos, a alta comissária (Bachelet) deveria se juntar à batalha. Por exemplo, divulgando a tão esperada avaliação independente das atrocidades chinesas em Xinjang”, acrescentou Roth.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.