Foragido há 15 dias, Lázaro Barbosa, 32 anos, é procurado por uma força-tarefa de mais de 270 policiais, em Cocalzinho (GO). Durante as buscas, agentes invadiram terreiros de Águas Lindas de Goiás e Girassol atrás do suspeito. O deputado distrital Fábio Félix (PSol), membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF (CLDF), destacou no programa CB.Poder — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília — que ações como essa estimulam a intolerância religiosa que já existe na sociedade. Segundo o relato dos moradores, a conduta dos policias foi marcada pela truculência: eles agrediram um caseiro, mandaram uma mãe de santo calar a boca e danificaram alguns objetos.
“A satanização tem que ser combatida. A polícia precisa respeitar os líderes. Há, continuamente, uma tentativa de ligar o Lázaro às religiões de origem africana. As pessoas agem como se ele tivesse algum tipo de poder. Mas não há nenhum indício que demonstre essa capacidade sobrenatural. Ele (Lázaro) é uma pessoa treinada, que já passou longos períodos em matas. Por isso, a polícia precisa trabalhar com a força de inteligência para encontrá-lo, e não realizar uma associação arbitrária como essa com os povos de terreiros”, defendeu o deputado, ontem, em entrevista ao jornalista Alexandre de Paula.
De acordo com o distrital, os terreiros correm risco de sofrerem mais atos violentos e de vandalismo. “Há muita falta de compreensão sobre as religiões com matrizes africanas, e os terreiros precisam ser respeitados. Até porque a legislação brasileira e a Constituição protegem os templos religiosos”, ressaltou o parlamentar.
Fábio Félix ponderou que, embora a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) seja investigada pelo assassinato do marido e responda a um processo no Congresso Nacional, “dificilmente ocorre uma vinculação desse fato em relação às práticas religiosas dela”. “No caso do Lázaro, tentam fazer uma assimilação equivocada, tiram fotos descontextualizadas e reforçam o preconceito histórico e estrutural”, alertou. Para o distrital, o episódio tem relação direta com o racismo vivenciado na sociedade. “As religiões de matrizes africanas têm a tradição negra na sua pele e nas suas práticas. Por isso, falamos de racismo religioso”, explicou.
O parlamentar avalia que o caminho para vencer o preconceito é a difusão de informações corretas. “A satanização do candomblé precisa ser combatida. Todos estão aterrorizados e querem que o Lázaro seja pego, mas isso pode ser feito com o devido respeito, com a colaboração dos moradores, dentro da legalidade e sem intolerância”, disse.
Feminicídio
Fábio Félix também ressaltou o alto número de feminicídios no Distrito Federal. Entre janeiro e o último domingo, a capital registrou 14 assassinatos de mulheres em razão de gênero, este ano. Em 2020, ao todo, foram 17 vítimas desse tipo de crime. “Existe uma onda de violência de gênero na nossa cidade que precisa ser estudada e enfrentada. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Feminicídio já foi concluída, e fizemos coletivas, audiências públicas e diligências para entender os fenômenos que envolvem esses crimes. Por isso, apresentamos um pacote de recomendações para o Ministério Público e o Tribunal de Justiça do DF. Amanhã (hoje), entregaremos as recomendações também ao GDF (Governo do Distrito Federal)”, detalhou ao CB.Poder.
O deputado argumentou que as forças de apoio às mulheres devem trabalhar em conjunto e que a sociedade precisa encontrar uma forma eficaz de manter os agressores afastados. “No primeiro caso de feminicídio de 2021, a vítima já tinha feito seis denúncias de violência e tinha uma medida protetiva de urgência no bolso. Falta monitoramento. A Secretaria da Mulher precisa se profissionalizar, e é necessário uma integração da polícia para impedir e enfrentar esses casos”, defendeu.
Outro desafio elencado pelo parlamentar são as crianças órfãs devido ao assassinato da mãe. “Tivemos um caso de uma mulher com seis filhos que foi morta, e a avó não tinha condição de acolher. Hoje, não existe nada, no Estado, para que ocorra um atendimento adequado. Mas já apresentamos um projeto de lei para começar a desenhar uma iniciativa que receba essas vítimas”, finalizou.
Vacina
Fábio Félix comentou sobre a vacinação na capital do país e avalia que, nos últimos três meses, a imunização tem avançado. “Passamos por diferentes momentos da campanha. Nas últimas duas semanas, o governo estava armazenando muito a primeira dose e não havia fluidez no avanço das idades. Outra questão é o diagnóstico de comorbidade, que é um terreno cinzento, porque nem todos sabem que tem alguma doença ou apresentam um laudo correto”, pontuou.
O distrital, no entanto, criticou a ausência de divulgação do plano de vacina. “Sabemos que alguns governos têm usado esse planejamento como marketing, mas isso também traz uma transparência ao processo. Até o momento, a entrega da vacina do Ministério da Saúde tem seguido um planejamento, e é importante que as pessoas tenham uma data, ao menos em expectativa, de quando serão vacinadas”.
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