Com a pandemia da covid-19, o sono de muita gente foi afetado com as mudanças na rotina. Ao programa CB Saúde — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —, a psicóloga clínica e especialista em sono Mônica Müller destacou os efeitos da insônia e como ela ocorre. “Existe, também, uma concepção errada da insônia, nem sempre dormir a noite inteira significa qualidade. Dormir e acordar cansada é um sinal de alerta”, explicou, ontem, à jornalista Carmen Souza.
Alguns estudos, como da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostram que, pelo menos, metade dos brasileiros notaram uma mudança na qualidade do sono, por conta da pandemia. Tem percebido isso no consultório?
Antes mesmo da pandemia, a insônia já afetava grande parte da população. Um dos fatores do desencadeamento da insônia é a falta de rotina, de horários regulares para dormir e acordar. E foi justamente isso que aconteceu na pandemia: as pessoas trabalhando de casa, com as crianças e adolescentes assistindo a aulas on-line, ocorreu uma desorganização do padrão do sono. Tudo tem sido muito diferente, algumas pessoas se adaptaram, mas outras entraram em contato com esse tipo de prejuízo do sono.
Após um ano e meio de pandemia, a população não deveria ter se acostumado {a nova rotina?
Costumo falar para os pacientes o seguinte: a pandemia veio para chacoalhar a nossa rotina, mas ela não deve significar um prejuízo tão intenso no sono. Vale ressaltar que, para ser considerado insônia crônica, bastam três meses. As pessoas precisam se acostumar a essas mudanças, até porque muitos não retornarão para os órgãos de origem e vão continuar trabalhando em casa.
O que caracteriza a insônia?
Ela tem quatro características: a primeira é a dificuldade de iniciar o sono, que chamamos de insônia inicial. A segunda é a dificuldade de manutenção do sono, a insônia de manutenção, quando a pessoa acorda uma ou mais vezes durante a noite. O terceiro sintoma a gente chama de insônia terminal, ou despertar precocemente, no fim da noite. Por último, temos a queixa do sono não ser reparador, que é uma reclamação bastante comum.
Ou seja, a pessoa dorme a noite inteira, mas acorda cansada?
Sim, exatamente. As pessoas acham que insônia significa não dormir, mas pode-se completar o ciclo de sono, porém com um sono não reparador. E isso é uma característica da insônia.
Quais são os indícios de um sono não reparador?
Alguns sintomas são bem comuns, como cansaço, indisposição tanto física quanto mental, alterações do humor, irritabilidade, dificuldade de se concentrar e perda de líbido. A perda das habilidades cognitivas também devem ser observadas, como atenção, memória e concentração. E, quando a pessoa não dorme bem, ela tende a obter energia, ao longo do dia, beliscando refeições. Principalmente açúcar e carboidrato, pois representam a energia que ela não teve no sono da noite.
Isso se soma ao sedentarismo?
Uma coisa puxa a outra. Sem um sono reparador, a pessoa não consegue fazer atividade física e ganha peso. Por isso, deve-se buscar ajuda o mais rápido possível. E tomar cuidado com a automedicação. A pessoa deve sempre procurar um especialista. A regularidade do horário de acordar é uma dica importantíssima. Se a pessoa acorda às 6 horas, ela deve continuar acordando nesse horário independentemente de como dormiu durante a noite. A insônia começa por meio de um comportamento compensatório: a pessoa não dormiu direito durante a noite e arrasta o sono para compensar.
E o famoso cochilo depois do almoço, pode?
Na verdade, para quem tem insônia, não. O problema é que o cochilo é muito subjetivo, tem gente que “cochila” por uma hora. Um descanso após o almoço é recomendado, mas não necessariamente dormir. Ela pode sentar no sofá e ficar, por alguns momentos, em relaxamento.
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