SOLIDARIEDADE

Brasilienses se mobilizam em campanhas de arrecadação de agasalhos

Projetos também atuam com doação de alimentos para os mais vulneráveis

Edis Henrique Peres
Mateus Gaudêncio*
postado em 27/06/2021 06:00
 (crédito: Ed. Arte/CB/D.A Press)
(crédito: Ed. Arte/CB/D.A Press)

Em uma noite de quinta-feira, por volta das 21h30, a estudante Letícia Moreira, de 19 anos, deixou sua casa, no Condomínio Novo Horizonte, para buscar atendimento médico no Hospital Regional do Paranoá (HRPA). Letícia sentia dores, devido a uma lesão no joelho, mas enquanto fazia a ficha médica, na emergência da unidade, o machucado se tornou algo secundário. Era 17 de junho e a temperatura mínima, na capital do país, havia alcançado 11,9ºC. Letícia, logo ao chegar ao hospital, percebeu um homem encolhido, sentado em um banquinho de cimento entre os banheiros da unidade. “No começo, pensei que ele esperava atendimento. Mas depois vi que ele não tinha pulseira e, na verdade, tentava fugir do frio”, conta a estudante.

A vontade de ajudar sempre existiu em Letícia, mas, a partir da visão do homem buscando abrigo, ela decidiu criar um projeto que pudesse auxiliar os moradores de rua. “Eu fazia campanhas pelo colégio em que eu estudava e fiz um trabalho sobre as pessoas em situação de rua. Então, quando eu vi o senhor tentando se aquecer no hospital, literalmente tendo que escolher entre o risco de acabar contaminado com alguma doença ou passar frio na rua, eu decidi que precisava agir”.

Letícia, então, contou sobre a ideia para a amiga, Mariana Leite, 21 anos, estudante e moradora do Condomínio Novo Horizonte, e juntas, elas decidiram consolidar a campanha Aqueça um Coração. “Tenho um Instagram onde falo sobre nutrição e a Mariana fala sobre marketing no perfil dela. Decidimos então trabalhar juntas para conseguir as doações de agasalhos. Receberemos os produtos até 1º de julho, porque decidimos que precisávamos entregar logo esses itens devido ao frio dessas semanas. No dia da entrega (sexta-feira) queremos fazer caldo para alimentar os moradores de rua. O nosso foco é não parar nesta ação e estamos divulgando o projeto com diversos amigos para conseguir arrecadar o máximo de agasalhos”, detalha.

As duas amigas querem ajudar, pelo menos, a população do Paranoá e do Itapoã. “Em um momento como este, quando a situação está tão escassa em relação a dinheiro, comida e atenção, precisamos, de alguma forma, fornecer carinho. Eu fiquei pensando o tanto que é difícil: tanta gente gosta do frio, para ficar embrulhado na cama, mas, para quem está na rua, é um momento de sofrimento”, reflete.

Voz e afeto

Desde 2018, os moradores de rua do DF também recebem o auxílio do projeto BSB Invisível. A arrecadação do grupo começou em maio e durará até agosto. Segundo o relato da fundadora do projeto, Maria Baqui, semanalmente os produtos doados são entregues aos moradores. “A gente sai pela rua e quem encontramos, que está em situação de rua, em ocupações, a gente doa os materiais. Também temos muitas pessoas que nos procuram diretamente, falando das dificuldades que estão enfrentando”, conta.

“Nossa intenção é diminuir a invisibilidade social para as pessoas que estão nessa situação. Queremos humanizá-las e dar voz a elas. Ao todo, somos 25 voluntários no projeto e, para mim, essa iniciativa é fundamental. Eu acho que a gente está aqui por um motivo e, fazendo um trabalho de formiguinha, conseguimos transformar o mundo e torná-lo mais justo”, destaca Maria. Segundo a idealizadora do projeto, o BSB Invisível já ajudou a mais de 2 mil pessoas desde que foi fundado.

Com o objetivo de aquecer e minimizar os efeitos da fome para os mais vulneráveis, a Comunidade Grega de Brasília também realizou, neste mês, uma campanha de doação de cobertores e cestas básicas. “Sempre fizemos movimentos solidários, mas, desta vez, decidimos fazer uma campanha maior e com o envolvimento de mais pessoas. Ela veio em um momento muito importante, pois, com a pandemia, a situação das pessoas vulneráveis se agravou ainda mais”, relata Konstantinos Bokos, presidente da Comunidade Grega de Brasília. O objetivo da Comunidade é arrecadar e doar em torno de 300 cobertores e 300 cestas básicas.

O presidente conta que essa é a primeira campanha do gênero realizada pelo grupo, mas a intenção é dar continuidade ao projeto. A campanha teve início em 1º de junho e se encerrará nesta quarta-feira. Para ajudar, é possível levar doações à sede da Comunidade Grega, na 910 Norte, Módulo B, ou adquirir números de rifa da Comunidade e concorrer a uma cesta de produtos gregos.

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Pequenos gestos que fazem a diferença

 (crédito: Nexco/Divulgação)
crédito: Nexco/Divulgação

A empresa Nexco Investimentos atua, por ano, em três ações sociais: campanha do agasalho, Dia das Crianças e Natal. A colaboração vem dos familiares da empresa, clientes e amigos. “Crescemos no Gama e vimos de perto como é a realidade de quem vive em situação de vulnerabilidade social, pelos nossos colegas de escola e até mesmo da vizinhança, durante a nossa infância e adolescência nos anos 1990”, relatam os sócios-fundadores, os primos Ítalo e Lucas Teles. A iniciativa foi criada no começo da pandemia, em 2020.

“Vimos que a situação das pessoas em vulnerabilidade social piorou por falta de ajuda dos benfeitores por causa do distanciamento social e por medo do coronavírus. Criamos, então, a campanha Nexco Ações do Bem — o vírus não espera o frio passar para suscitar nas pessoas o anseio de ajudar ao próximo”, relatam. O objetivo do grupo é continuar com as campanhas. “Precisamos cada vez mais de pessoas que colaborem com essas ações e também com outras. Não há mais espaço para o egoísmo no mundo em que vivemos. Precisamos nos ajudar, porque juntos somos mais fortes”, afirmam.

A Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB) também destinou esforços para criar uma campanha que ajude os mais necessitados. O projeto de arrecadação durou um mês e se encerrou na última quinta-feira. Neste período, a ACIB arrecadou cerca de 300 peças, entre roupas, calçados e cobertores. Apesar do término do projeto, a ACIB recebe durante todo o ano doações de itens como: roupas, calçados, utensílios do lar, produtos de higiene e de limpeza, cobertores, roupas de cama e banho, livros e brinquedos (tanto novos quanto usados em bom estado). “Quando acumulamos um volume considerável, elegemos uma entidade beneficente para receber as doações” conta Tamara Socolik, presidente da ACIB.

“No hebraico, temos a palavra ‘tsedacá’, que vem do termo ‘tsedek’, que significa ‘justiça’. Segundo a filosofia judaica, é um mandamento amparar quem mais necessita e com essas ações, que chamamos de Tsedacá, ajudamos a promover a justiça no mundo. Entendemos que devemos ser sensíveis quanto à desigualdade”, relata Tamara.

Outra campanha, desta vez da Secretaria de Desenvolvimento Social, é o Agasalho Solidário. Ao todo, a pasta já arrecadou 8.970 peças de roupas, que podem ser entregues no palácio do Buriti, no Anexo e em todos os batalhões dos bombeiros. A campanha começou em 26 de abril e terminará em 30 de junho. “As pessoas em situação de vulnerabilidade sofrem muito com as baixas temperaturas desse período. Dessa forma, buscamos pelo menos amenizar o sofrimento do próximo”, explica Anucha Soares, subchefe da Subchefia de Política Sociais e Primeira Infância do GDF.

Anucha destaca que quem tem fome e frio, tem pressa. “Para agilizar esse processo pedimos que as peças já venham higienizadas e em um saco transparente, escrito se a peça é P, M ou G e se é masculina ou feminina. A logística nossa é feita pela Defesa Civil, que entrega os agasalhos diretamente para as famílias. Fazemos a seleção dos locais de entrega pelo índice de vulnerabilidade social da Codeplan (Companhia de Planejamento do DF)”, explica. Esta é a terceira edição do programa. A pasta, contudo, pretende fazer outras atuações ao longo do ano.

“Temos a campanha Solidariedade Salva, com doação de cestas básicas. As pessoas que vão se vacinar podem levar algum alimento não perecível e entregar nos postos. Ao longo do ano, também, queremos fazer doações de brinquedos para as crianças e atuar no Natal”, revela Anucha.

* Estagiário sob a supervisão de Rosane Garcia

 

Como ajudar

BSB Invisível
@bsbinvisivel_

Aqueça um Coração:
Letícia Moreira: (61) 99196-8172
Mariana Leite: (61) 98122-9840

Agasalho Solidário e pontos de coleta
www.agasalhosolidario.df.gov.br

Associação Cultural Israelita de Brasília
3273-8255

Nexco Investimentos
3542-7389
9 9135-2635
@nexco_investimentos

Comunidade Grega de Brasília
Telefone/Whatsapp: 9 9986-7427.
Facebook e Instagram: @comunidadegrega
Site para a rifa: https://botanarifa.com/rifabeneficentecomunidadegrega

Arrecadação do Agasalho Solidário

» 2019: 9 mil peças
» 2020: 11 mil peças
» 2021: 8.970 peças


Alimentos arrecadados do Solidariedade Salva

» 7.044 cestas básicas

» Cerca de 35 mil pessoas foram beneficiadas

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