CAÇADA

Moradores de Goiás e vítimas falam sobre alívio após fim das buscas a Lázaro

Após quase três semanas de terror, notícia da captura de Lázaro Barbosa levou paz à população de cidades do Entorno

Ana Isabel Mansur; Ana Maria da Silva; Darcianne Diogo; Edis Henrique Peres; Luana Patriolino
postado em 29/06/2021 06:00 / atualizado em 29/06/2021 06:29
Multidão se aglomerou em frente ao Hospital Municipal Bom Jesus, em Águas Lindas, para acompanhar desdobramentos da captura de Lázaro -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Multidão se aglomerou em frente ao Hospital Municipal Bom Jesus, em Águas Lindas, para acompanhar desdobramentos da captura de Lázaro - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O rastro de violência e terror deixado por Lázaro extrapola o período de buscas pelo foragido na região de Goiás. Uma das vítimas do criminoso, que preferiu não ser identificada, sentiu-se aliviada. A mulher foi estuprada por Lázaro em 2009, aos 19 anos, e o criminoso a manteve por três horas na mata, no Sol Nascente. Apesar do trauma e do horror vividos, ela não torcia por um desfecho com morte. “Gostaria que ele pagasse, dissesse porque maltratou tanto as famílias e o que o motivava. Porém, para outros não sofrerem, ontem (domingo) à noite, confrontei Deus, em oração, onde Ele estava que não via isso (crimes de Lázaro). E, hoje (segunda-feira), Ele me respondeu com isso. Pedi em oração também muita luz para a família Vidal, para irem em paz”, relata a mulher.

E é justamente para Deus que os familiares das vítimas da chacina no Incra 9 se viram nesse momento de dor. Um sobrinho de Cleonice Marques, que pediu para ter o nome preservado, conversou com a reportagem, ainda em estado de choque. “A família está um pouco aliviada. É uma história de tragédia. Só Deus, mesmo, agora. Eles eram muito trabalhadores, até o mais novinho (Carlos Eduardo, 15 anos). Ficavam sempre na chácara, quase não saíam. Eram pessoas humildes, muito reservadas e tranquilas”, lamenta o parente das vítimas.

Segundo o sobrinho, os familiares ficaram sabendo da morte de Lázaro pela televisão. “Foi um susto e um pouco de alívio, na hora. Agora, precisamos esperar”, conta, lembrando que as investigações estão sendo feitas pela polícia e não é possível afirmar que Lázaro agiu sozinho nos assassinatos. “Não consigo nem imaginar o que ela (Cleonice) sofreu. Todo mundo ficou sem entender o porquê de tanta violência. Foi muita covardia, muita crueldade com uma família só, sem motivo nenhum”, argumenta o sobrinho de Cleonice, sequestrada por Lázaro em 9 de junho e encontrada morta três dias depois.

Os representantes da família Marques Vidal não esperavam a conclusão do caso com o falecimento do criminoso. “Infelizmente, houve uma morte. Não há de se comemorar quando há uma morte, mas a família se sente um pouco mais tranquila (pela morte de Lázaro). Mas sabemos, muito bem, que ele não agia sozinho, outras pessoas davam cobertura e financiavam os crimes. Então, vamos deixar a polícia trabalhar, é claro, e, com certeza, vão achar os demais comparsas que o ajudaram”, afirma Fábio Alves, advogado da família Vidal.

Visita à ex-mulher

A ex-mulher de Lázaro, Luana, 30 anos, contou em entrevista ao Correio que o ex-marido a visitou, na noite de domingo (27/6), por volta das 20h, para entregá-la R$ 300. “Ele chegou, me chamou, daqui, do portão, que estava fechado. A gente conversou, e ele entregou o dinheiro para mim. Disse que era para eu cuidar do neném e que iria para Brasília. Depois saiu, demorou alguns segundos e voltou. Nessa hora, os cachorros começaram a latir”, relata.

Luana conta que Lázaro não chegou a ver o filho do casal, que tem 3 anos e 9 meses, na visita. O menino estava com Isabel, mãe de Luana e ex-sogra de Lázaro. “Por volta das 21h30, a polícia chegou aqui. Eles arrombaram a porta, e um dos policiais me deu um tapa, dizendo que eu estava mentindo para eles e escondendo o Lázaro. Isso foi muito constrangedor”, detalha Luana.

Ela recebeu a notícia da morte de Lázaro pela imprensa, enquanto aguardava na delegacia. A equipe de reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de Goiás, a respeito da ação truculenta dos policiais na casa da ex-mulher de Lázaro, no entanto, até o fechamento desta edição, a pasta não havia se posicionado.

Inocência

O filho de Lázaro não sabe que o pai foi morto. Enquanto o homem visitava a família, a criança dormia no quarto com a avó e não acordou quando os agentes visitaram a casa. Durante o almoço, a mulher lembra que a notícia sobre a morte de Lázaro passou na televisão. “Ele (o filho de Lázaro) apontou para a tevê e disse: ‘olha, o papai, eu amo muito ele’”, diz. Isabel ressalta que o menino ainda não entende o ocorrido. A ex-sogra de Lázaro conta que, no momento em que o menino disse isso, uma amiga da família chegou a se emocionar. “Ele é uma criança, não sabe o que está acontecendo”, defende a avó do menino.

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Tranquilidade para moradores

Leonardo e Eleize colhiam alho-poró da horta quando escutaram tiros e viram helicópteros em busca de Lázaro -  (crédito: Edis Henrique Peres/CB/D.A Press)
crédito: Edis Henrique Peres/CB/D.A Press

A manicure Luciana Barcelos de Oliveira Pureza, 47 anos, e o porteiro José Fernandes Pureza, 49, chegaram em Águas Lindas de Goiás há 15 dias. O casal morava no Rio de Janeiro. Com a morte de Lázaro, a mudança de cidade poderá ser finalmente desfrutada. “Nós viemos procurando sossego, para tentar uma nova vida aqui”, explica Luciana. Os dois sabiam que o assassino da família Vidal estava em fuga, mas desconheciam a região onde vivem agora. “Ficamos impressionados e apavorados com essa situação. Sabíamos que isso (buscas por Lázaro) estava acontecendo, mas não sabíamos que era aqui”, descreve José, acrescentando que o casal não conseguiu pegar no sono da noite de domingo (27/6) para segunda-feira (28/6). “Escutamos barulhos pela janela, uma coisa horrível”, lembra Luciana. “Agora, podemos sair, levar as crianças ao parque”, relata a manicure. “Foi uma batalha, mesmo. Achei que a polícia trabalhou bem, com inteligência”, opina José.

Em Ilha Bela, bairro de Águas Lindas, perto de onde ocorriam as buscas por Lázaro Barbosa, Maria Eliane Souza, 34, não conseguia dormir após 1h. “Era muito barulho das viaturas e dos helicópteros sobrevoando o local. Lá em casa, não tem cerca, é tudo aberto. Ficamos com muito medo”, conta. Para tentar se proteger, Maria empurrou o sofá da casa contra a porta, mas só se sentiu segura para sair com a notícia da morte de Lázaro. “A gente fica apreensiva. Agora que tudo acabou, aos poucos, vamos superando o medo”, adianta.

A família de Leonardo Oliveira da Silva, 26, chacareiro do bairro de Maranata, em Águas Lindas, sentiu na pele a tensão das buscas por Lázaro. Por volta das 9h dessa segunda-feira (28/6), Leonardo colhia alho-poró com a esposa, Eleize Oliveira da Silva, 26, quando ouviu tiros. “Foram três helicópteros sobrevoando, ficamos assustados. Foram muitas rajadas”, destaca Leonardo. Ele e a esposa estavam com as duas filhas, de 5 e 3 anos, brincando próximas à horta.

“Sempre as deixamos por perto, justamente, por isso, para evitar que algo aconteça. Quando os tiros começaram, minha esposa começou a ficar nervosa, e as meninas ficaram muito assustadas”, relata Leonardo. Eleize confessa que a família sequer imaginava a presença de Lázaro nas proximidades. “Pensávamos que ele estava para Cocalzinho, para o rumo de lá. Ontem (domingo) mesmo, por volta das 15h, a gente tinha ido pescar no córrego que fica atrás da propriedade, perto do local onde devem ter ocorrido os tiros”, destaca.

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