Jornal Correio Braziliense

Os crimes de Lazaro

'Não sou pai de monstro'

Em entrevista exclusiva ao Correio, Edenaldo Barbosa, pai de Lázaro Barbosa de Sousa, disse que considera estarrecedoras as ocorrências que envolvem o filho. O aposentado afirma temer pela família e conta que desenvolveu problemas de saúde por acompanhar as notícias

Na última semana, Edenaldo Barbosa Magalhães, 57 anos, tem passado o tempo trancado em casa, com medo do próprio filho. Ele é pai de Lázaro Barbosa de Sousa, 32, acusado de cometer uma série de crimes no Distrito Federal, em Goiás e na Bahia. Casado há quase duas décadas com outra pessoa, desde que se separou da mãe de Lázaro, o aposentado teve outros três filhos, de 16, 13 e 1 ano. Atualmente, leva uma vida simples no distrito de Girassol, em Cocalzinho (GO), a cerca de 65 km de Brasília. Em entrevista exclusiva ao Correio, ele conta como foram os anos de convivência com o fugitivo.

No município de Barra Mendes (BA), o aposentado se casou aos 17 anos com a mãe de Lázaro, Eva Maria Sousa. À época, ela tinha 16. O relacionamento foi conturbado, marcado por brigas, agressões e acusações de traição que partiam de ambas as partes. Quando o casal se separou, Lázaro e o irmão mais novo dele — Deusdete — eram crianças. O segundo morreu há cinco anos, em um acerto de contas em Goiás, após também se envolver em roubos e homicídios.

Depois da separação do casal, Edenaldo não conviveu mais com os filhos e só contribuía financeiramente para a criação dos meninos. Morando no Entorno do Distrito Federal há mais de duas décadas, o aposentado só reencontrou Lázaro há seis anos. “Ele só me visitou e foi embora. Foi quando teve uma fuga. Eu estava com o coração na mão, doente. Só não morri ainda porque acho que Deus não quis”, comenta o aposentado, que se declara evangélico. “O demônio se apoderou dele”, acredita.

Ao comentar a ficha criminal de Lázaro, Edenaldo vai além. Define o filho como um “monstro” e afirma ter vergonha de ser parente do suspeito de assassinar a família Vidal em Ceilândia Norte, na quarta-feira passada. “Esse monstro, eu registrei, mas, quando as pessoas falam ‘O seu filho’, aquilo me estremece todo. Não dá mais vontade nem de ficar mais na Terra. Estou arrasado. Se eu o vir por aí, nem conheço mais”, ressalta.

Agora, o aposentado diz que o sentimento de medo ronda a família, que teme ser encontrada por Lázaro. “Estou no meio de um filme de terror sem saída. As pessoas falam que é meu filho, mas não o considero, não. Não sou pai de monstro. É perigoso ele me atacar e eu morrer. Tenho criança pequena para criar”, acrescenta.

Desespero
Edenaldo Barbosa comenta que se aposentou devido a um acidente cardiovascular (AVC) e dois infartos. A saúde piorou, segundo ele, à medida que a lista de crimes de Lázaro crescia. “Tento tirar tudo isso da mente, para ver se consigo viver mais um pouco. Ele virou bicho”, diz. Sobre a chacina no Incra 9, o aposentado se diz arrasado e chocado com a violência provocada pelo próprio filho. “O que mais me dói é o desespero que aquela família sentiu e o que ele fez com aquela pobre mulher. Isso não é gente. Isso é um monstro da pior espécie”, completa.

Hoje, o pai dedica-se aos demais filhos e a uma horta no quintal. Na vizinhança, é descrito como um homem calmo, discreto e religioso. À reportagem, ele pede por justiça: “Eu não o quero solto jamais, porque estou com medo de ele fazer mal a mim e à minha família. Olhe só o que ele tem feito com todo mundo”.

A mãe de Lázaro, de acordo com vizinhos, mudou-se do distrito de Girassol meses antes da chacina em Ceilândia Norte. O motivo seria o envolvimento do filho com a criminalidade. Comerciantes e moradores da área afirmam que Lázaro assassinou um caseiro em uma chácara próxima e, depois disso, teria sido jurado de morte. A polícia não havia sido informada sobre o crime, mas donos de chácaras chegaram a oferecer um prêmio a quem encontrasse Lázaro.