FEMINICÍDIO

Morta com tiro de espingarda

Vítima, uma mulher de 40 anos, foi assassinada pelo companheiro na Estrutural. Acusado teria histórico de violência

» SAMARA SCHWINGEL » PEDRO MARRA
postado em 03/07/2021 23:42
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A 8ª Delegacia de Polícia (Estrutural) investiga os antecedentes de Pedro Henrique Costa Bezerra, 29 anos, preso em flagrante, ontem, após matar a companheira, Simone Xavier Nogueira, 40, na Estrutural, no bairro Santa Luzia. O crime ocorreu por volta das 11h30, e a vítima foi morta com um tiro no pescoço, desferido de uma espingarda calibre 12, fabricada pelo próprio autor.

Vizinhos que teriam escutado o tiro acionaram a polícia, que se deslocou para as proximidades de onde ocorreu o crime. Lá, encontraram Pedro, que se preparava para fugir. Carregando uma criança de 2 no colo, o suspeito tentou convencer os agentes de que havia matado uma galinha e, por isso, a criança estava suja de sangue. O fato chamou a atenção dos militares, que não acreditaram na versão e pediram para que o homem os acompanhasse até em casa.

Chegando ao local, os policiais se depararam com a vítima morta, no chão do banheiro, com a arma do crime ao lado do corpo. Com o flagrante, prenderam o homem e acionaram a Polícia Civil. A criança, que era neta da vítima, foi levada para a delegacia para aguardar a chegada da mãe, que mora em Planaltina de Goiás. Ao chegar, a jovem, filha da vítima, prestou depoimento.

O corpo de Simone foi removido por volta das 16h30 e encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML), onde será submetido à perícia. A arma do crime também foi levada para avaliação dos peritos. Segundo a delegada-chefe da 8ª DP, Jane Klebia do Nascimento, o homem era usuário de drogas, álcool e tinha um perfil muito ciumento.

Estupros e ciúmes

Além do feminicídio em si, o caso é permeado por outras ocorrências que a polícia investiga. Simone tinha um relacionamento marital com Pedro há cerca de oito anos. Quando começaram a se relacionar, a vítima já era mãe de quatro filhos, mas apenas a mais nova, com12 na época, morava com ela. Quando a menina completou 15, Pedro a estuprou e, desse abuso, nasceu uma menina. Um ano depois, ele a estuprou novamente e, dessa vez, nasceu um menino — o mesmo que foi encontrado pelos policiais com o homem no momento da prisão. Hoje, a mãe das crianças tem 19 anos e já não vivia com o casal.

Segundo a delegada Jane Klebia, a vida da família era repleta de ameaças e agressões. “Ele tinha muito ciúmes das duas. Não as deixava sair e se sonhasse que elas tinham relacionamento com outros homens, ele as agredia”, contou. A jovem, vítima dos estupros, tem, até hoje, as marcas das agressões sofridas, como facadas no pescoço e tiros nos pés, causadas pelo mesmo agressor. “Ele obrigava as crianças e as duas mulheres a dormirem na mesma cama e estuprava a jovem na frente de todos”, completou a delegada.

Ainda segundo Jane, há apenas quatro meses, a menina conseguiu ter coragem para sair do local onde era abusada e ameaçada. “Ela contou que saiu de casa e foi para a Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher 2 (Deam) para registrar ocorrência contra o homem. De lá, nunca mais voltou para a casa da mãe. Ela saiu com a filha de três anos. O filho ficou”, informou Jane.

Desde então, a jovem mora com a avó materna em Planaltina de Goiás. A delegada responsável pelo caso afirma que a vítima do feminicídio sofria ameaças para não denunciar o companheiro. “A vida delas era um terror. Uma vez, ela (Simone) levou um tiro na mão porque estava na casa de uma vizinha e tinha outro homem lá. Sabendo disso, o autor ficou louco de ciúme, chegou em casa e atirou contra ela”, afirmou Jane.

Próximos passos

Agora, os investigadores da 8ª DP vão levantar as informações prestadas pela família da vítima sobre o autor do crime e a convivência dele com Simone. De acordo com a delegada, caso se confirme que não há nenhum inquérito em aberto contra ele relacionado às agressões narradas pela vítima dos estupros, a 8ª DP fará a investigação. “Vou abrir um inquérito para cada episódio. Um homem desses não pode ficar impune”, declarou. O caso foi registrado e é investigado como feminicídio.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do DF, em 2021, até 26 de junho, 16 feminicídios haviam sido confirmados na capital federal. Desses, a maioria foi registrada em Sobradinho e no Paranoá. Além disso, 50% dos casos ocorreram em maio e junho (Veja mais em Perfil do feminicídio no DF).

 

Perfil do feminicídio no DF

Confira o levantamento feito pela Secretaria de Segurança Pública do DF sobre os casos de feminicídios registrados na capital federal em 2021. Dados coletados até 26/6/2021

Total de ocorrências: 16 casos

Meses das ocorrências/número de casos

» Janeiro3
» Fevereiro1
» Março1
» Abril3
» Maio4
» Junho4

Meio empregado

» Arma branca7
» Asfixia3
» Arma de fogo3
» Agressão física2
» Objeto contundente1

Motivação do crime

» Ciúme7
» Não informado5
»Término do relacionamento4


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