ECONOMIA

Estabilidade econômica do DF no primeiro trimestre de 2021 eleva expectativas

De janeiro a março deste ano, setor produtivo teve resultados no mesmo patamar verificado no primeiro trimestre de 2020, antes da pandemia. Para economistas, empresários e representantes do governo local, vacinação tem impacto direto nos resultados

Samara Schwingel
postado em 04/07/2021 06:00
Indústria registrou alta de 1,3%, com variação de 1,7% na construção civil; para presidente de sindicato do setor, continuidade de obras públicas e privadas teve peso determinante -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 6/4/21)
Indústria registrou alta de 1,3%, com variação de 1,7% na construção civil; para presidente de sindicato do setor, continuidade de obras públicas e privadas teve peso determinante - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 6/4/21)

Com a estabilidade dos resultados econômicos verificada no Distrito Federal no primeiro trimestre deste ano, representantes do setor produtivo acreditam que a capital do país está no caminho de consolidar uma recuperação. Diante do avanço gradual da vacinação contra a covid-19, a expectativa é de que, nos próximos meses, os setores afetados pela pandemia comecem a apresentar resultados positivos novamente. Para integrantes do Executivo local, a adoção de medidas sanitárias alinhada às políticas focadas em empresas locais se refletiram no início da retomada (leia Três perguntas para).

Dados do Índice de Desempenho Econômico do Distrito Federal (Idecon-DF) revelam que, de janeiro a março deste ano, o setor de serviços — que representa 95,3% da economia local — manteve-se estável, com variação de 0,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. No entanto, a indústria foi responsável por puxar o crescimento, devido à alta de 1,3%. Já a agropecuária recuou o mesmo percentual. Considerados os três setores analisados, o indicador geral ficou em 0,1%, resultado no mesmo patamar do trimestre antes de a pandemia chegar ao DF.

Para o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), César Bergo, a estabilidade é benéfica. “Esperávamos uma queda. Mas podemos observar que, em função da pandemia, o setor de serviços foi o mais prejudicado. Ele teria uma demora na recuperação, mas ver que não perdeu muito espaço é importante”, avalia. O economista acredita que o resultado é uma prévia do esperado para os próximos trimestres. “Só não podemos comemorar muito, porque a pandemia continua violenta, mas esse é um sinal de recuperação. A tendência é de que, nos próximos meses, os resultados se mantenham com variação positiva. A partir do mês de agosto, a retomada deve se consolidar”, completa o economista.

Um dos ramos que contribuiu para a alta da indústria no primeiro trimestre foi o da construção civil. Na comparação com o mesmo período de 2020, o Idecon-DF indicou variação positiva de 1,7% no setor. O presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Eduardo Aroeira Almeida, afirma que os associados estão otimistas. “Temos 50 empresários conosco, os principais do DF, e 68% deles acreditam que o cenário será mais positivo ao longo do ano”, reforça.

Perspectiva

Mesmo com uma retração de 5,8% no comércio entre janeiro e março, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido da Costa, ressalta que os empresários do ramo estão com boas perspectivas para o restante de 2021. “Com o avanço da vacinação, pacotes de medidas do governo e a flexibilização das restrições, estamos com boa expectativa para as vendas dos próximos meses”, comenta.

A confiança se estende aos empresários. Dono de uma floricultura na Asa Sul, Rafael Eiiti Yuri, 28 anos, conta que, com uma onda mais forte da pandemia no início do ano, precisou reduzir o quadro de funcionários. Agora, ele pretende voltar a contratar pessoas para a equipe. “Do começo de 2021 para cá, houve uma queda bem forte (nas vendas), principalmente no período de restrições mais severas. Agora, com a vacinação, estamos nos sentindo mais otimistas”, diz.

O economista e ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas frisa que os resultados positivos mais significativos devem aparecer só no último trimestre. “Com a imunização, que, embora tardia e lenta, tem acontecido, o fluxo de pessoal e as contratações em muitos setores devem melhorar, principalmente a partir de agosto e setembro”, observa.

  • Dono de uma floricultura, Rafael Eiiti voltará a contratar funcionários
    Dono de uma floricultura, Rafael Eiiti voltará a contratar funcionários Prezz Comunicação/Divulgação

Empregabilidade

A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF), feita mensalmente pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), registrou queda na quantidade de pessoas sem trabalho em maio, na comparação com o mesmo mês de 2020. O indicador caiu de 21,3% para 19,4%. Nesse intervalo, a taxa de participação — proporção de pessoas a partir de 14 anos no mercado de trabalho — cresceu para 65,2%, ante 62,9% no mesmo período do ano passado.

O aumento no nível ocupacional teve impulso devido a contratações nos seguintes setores, segundo a PED-DF: construção civil, comércio e reparação, indústria de transformação e serviços. Para Dionyzio Klavdianos, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), a continuidade de obras públicas e privadas foi determinante para a melhora dos indicadores. “Esses trabalhos precisam de pessoas e materiais. Isso acaba movimentando o mercado. Os resultados eram algo esperado e natural do processo”, pontua.

Dono de uma construtora, Roberto Rubinger Botelho, 46, confirma que o segmento teve crescimento e fez mais contratações. “Na minha empresa, dobramos o número de colaboradores desde maio de 2020 e vamos continuar aumentando”, conta. O empresário entende que o setor emprega em diversas áreas e, por isso, tem importância para a economia. “(Os impactos) atingem do servente de obra ao engenheiro civil. Por isso, temos boas expectativas até para os anos que virão”, completa Roberto.

O secretário de Trabalho do DF, Thales Mendes, avalia que a pandemia prejudicou, em um primeiro momento, a empregabilidade na capital federal. No entanto, ele acredita que o problema está em fase de solução. O chefe da pasta acrescenta que o Executivo local trabalha para que os índices de pessoas ocupadas aumentem. “O GDF (Governo do Distrito Federal) tem criado 30 mil empregos diretos com obras públicas. E nós, da Secretaria de Trabalho, vamos lançar um pacote com quase 20 mil qualificações profissionais, além do Renova-DF, um programa para esse fim, criado para atender 3 mil alunos, com ajuda de custo no valor de um salário-mínimo (R$ 1,1 mil), além de auxílio-transporte e seguro contra acidentes pessoais”, adianta.

Thales Mendes reconhece o aumento do desemprego em função da crise sanitária, mas considera que a predominância do funcionalismo público no DF ajudou a amortecer os prejuízos econômicos e a aumentar a arrecadação. “Percebemos que o aumento do percentual de pessoas vacinadas é muito correlato ao aumento da empregabilidade. A expectativa do governo é de que, quanto mais cedo a imunização avançar, mais rápido teremos uma recuperação e números mais positivos”, finaliza o secretário.

Segmentos
Confira os resultados obtidos no primeiro trimestre deste ano, por setor, na comparação com o mesmo período de 2020:

Setor/Ramo — Variação (%)

» Serviços — 0,1
» Indústria — 1,3
» Comércio — -5,8
» Construção — 1,7
» Agropecuária — -1,3
» Indústria de transformação — 1,6
» Outras atividades na indústria — -0,1
» Outras atividades em serviços — -3,4
» Atividades financeiras, seguros, etc. — 7,1
» Administração, defesa, saúde e educação — 0,6

Fonte: Idecon-DF/Codeplan


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Três perguntas para

André Clemente, secretário de Economia do Distrito Federal

A que o senhor atribui esse início de uma recuperação?
Todos sabemos que, em todos os países, a vacinação ajuda muito na retomada da economia, e isso tem acontecido aqui no DF. Estamos avançando e permitindo que os setores voltem a abrir. Além disso, foram essenciais para os resultados obtidos as políticas econômicas — adotadas pelo governo (local) no ano passado e neste ano — aliadas às medidas sanitárias.

Que outras medidas o governo estuda implementar neste ano para aquecer a economia?
Estamos estudando o Pró-Economia 2, com ênfase maior na área social. O DF tem uma característica que permite às áreas econômica e social andarem juntas. Vamos contemplar a população em (situação de) vulnerabilidade social e o setor produtivo. Até porque, quando se injeta dinheiro para a população, movimentam-se o comércio local e os negócios. Atualmente, estamos na fase de redação dos atos, que devem sair neste ano. Ainda não estudamos abrir novamente o Programa de Incentivo à Regularização Fiscal (Refis). Mesmo na pandemia, essa iniciativa negociou R$ 3,1 bilhões, o dobro da soma de todos os outros Refis que existiram no DF. Ele teve grande alcance e arrecadação. Os Pró-Economia 1 e 2 vieram para fazer pequenos ajustes de demandas antigas que apareceram na pandemia.

Qual é a expectativa para os próximos meses?
Tivemos um desempenho muito favorável em 2020, quando mantivemos a economia aquecida. A queda não foi tão acentuada quanto a registrada em nível federal. E esse cenário continua em 2021. Temos tido recuperação da arrecadação. Os programas implementados ajudam as empresas a se manterem ativas e em funcionamento. A expectativa, tanto do governo quanto do setor produtivo, é de que haja aquecimento e crescimento da economia, além de aumento da arrecadação, assim como nos primeiros meses do ano.

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