Estava assistindo a um jogo da seleção brasileira na Liga das Nações, na Itália, em Rimini, quando levei um susto brasiliense. Em um dos intervalos, antes do saque, o Dj tocou um trecho de Será, da Legião Urbana. Não acreditei nos meus ouvidos e ainda perguntei a meu filho se eu havia escutado mesmo a Legião, mas ele confirmou.
A citação internacional chega no momento em que o STJ tomou decisão definitiva que concede a Dado Villa-Lobos e a Paulo Bonfá o direito de usar o nome Legião Urbana para fazer shows. É uma Vitória dos criadores contra os que querem apenas explorar uma marca comercial. A tentativa de cercear os legítimos criadores da banda era absurda. Mas a pendenga judicial reacendeu-me a memória sobre a história do estagiário.
A notícia caiu como uma bomba nas redações dos jornais e emissoras de tevê naquela manhã de outubro de 1996: ‘Renato Russo morreu!’ Naquele dia de transe, um jornal do Rio de Janeiro convocou toda a equipe e concentrou a maioria dos repórteres na cobertura sobre a morte de Renato, prevendo a comoção popular que suscitaria. Ninguém queria ou podia ficar de fora, nem mesmo os estagiários. E a um deles coube a importante pauta de acompanhar a repercussão nas ruas.
Ocorre que, a partir de certo momento, o comando da redação perdeu o contato com o estagiário. Ligavam para o celular, mas ele estava, invariavelmente, desligado. Enquanto isso, os ponteiros dos relógios avançavam implacáveis. Resolveram telefonar para os amigos, os colegas de universidade e a família. Nada, nenhuma pista do rapaz.
De dramático, o quadro começava a ficar desesperador. Tudo pode acontecer em uma metrópole da magnitude do Rio de Janeiro, tão perigosa e tão permeada de caminhos tortuosos. No sufoco do fechamento, sem saber mais a quem procurar, os chefes da cobertura ligaram a tevê para acompanhar o Jornal Nacional, que dedicou reportagem especial sobre Renato Russo.
Uma das matérias, ao vivo, mostrava uma legião urbana de jovens no centro do Rio de Janeiro, em estado de comoção, cantando Será. E, na primeira fila, com os bracos abertos, um rapaz puxava o coro, derramado em lágrimas. Os chefes do jornal não acreditaram no que viram. Quem comandava a massa era o estagiário desertor. E, vejam só, um estagiário do Correio, fã da Legião, leu esse texto e fez o seguinte comentário: “Se estivesse lá, também seria um estagiário desertor”.
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