Meio ambiente

Incêndio em área preservada de cerrado é reduzido por bombeiros e voluntários

Bombeiros e voluntários combatem, pelo terceiro dia consecutivo, um incêndio que ameaça vasta área de cerrado preservado na Chapada dos Veadeiros. Ação coletiva com moradores locais evita a destruição de casas e minimiza danos ambientais

Fernando Brito
postado em 15/07/2021 06:00 / atualizado em 15/07/2021 06:47
As chamas põem em risco uma área de 400 hectares de cerrado, ambiente rico em biodiversidade -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
As chamas põem em risco uma área de 400 hectares de cerrado, ambiente rico em biodiversidade - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

São João d’Aliança (GO) — Entrou, nessa quarta-feira (14/7), no terceiro dia, o combate às chamas em uma vasta área de Cerrado preservado na Chapada dos Veadeiros. Trecho de cerca de 400 hectares da Serra do Paranã, no município de São João d’Aliança (GO), ainda apresentava diversos focos de incêndio. Segundo grupos que atuam para apagar as chamas, o fogo estaria praticamente controlado. A gravidade da situação foi abrandada graças ao trabalho do Corpo de Bombeiros Militar de Planaltina de Goiás, de integrantes da Rede Contra Fogo — voluntários treinados para este tipo de ocorrência — e de moradores locais. A origem do incêndio é desconhecida.

As dificuldades para se proteger a área, rica em biodiversidade e sede de atrativos naturais, frequentados por pessoas do país inteiro — como as cachoeiras do Label e Complexo Veadeiros —, passam pelas restrições de acesso, pois o relevo é íngreme e acidentado, repleto de pedras, e pelo baixo contingente de bombeiros disponíveis para atuar nesse tipo de caso. Soma-se a insuficiência de equipamentos apropriados.

O batalhão do Corpo de Bombeiro de Planaltina de Goiás, que conta com um total de 38 agentes para todas as tarefas, é responsável por atender ocorrências até o município de Teresina (GO), distante cerca de 230km. Uma vastidão territorial quase impossível de ser coberta por número tão limitado de profissionais. Na noite dessa quarta-feira, no incêndio em São João d’Aliança, cerca que 20 pessoas, entre militares e voluntários, atuavam diretamente no combate às chamas. A precariedade dos equipamentos chamava a atenção. Os moradores da ecovila Condomínio Habitat tiveram de custear um novo pneu para a viatura e comprar gasolina para os sopradores utilizados pelos militares.

“A primeira impressão é de que a quantidade de bombeiros na ação é insuficiente. Mas estamos agindo dentro de um plano estratégico. O combate efetivo ao fogo ocorre à noite, após a análise que realizamos durante o dia, por meio do uso de drones. Dessa forma, conseguimos estabelecer os pontos mais adequados para atacar as chamas. Não adianta muito fazer esse tipo de operação nas horas de maior calor e Sol intenso, pois o fogo, aparentemente extinto, tende a sofrer uma nova ignição”, explicou o sargento Emerson, especialista em incêndios florestais.

Residências em risco


A ação dos militares foi elogiada por quem viu de perto o drama de ter a casa ameaçada pelas chamas. Filhas do biólogo e pesquisador Victor Py-Daniel — autor de inúmeros livros, com 30 anos de trabalho na Amazônia, que vivia na Chapada dos Veadeiros, morto devido à covid-19 no mês passado —, as irmãs Karen, Sarah e Anne contaram que tiveram o patrimônio salvo graças à ação dos bombeiros. “Eles coordenaram o trabalho dos voluntários, deram as orientações certas e lutaram bravamente contra as chamas. O estrago seria muito pior sem a presença deles. Ajudaram a preservar, ao menos, três moradias de onde o fogo realmente se aproximou”, relatou a também bióloga Karen.

Quando souberam do grande incêndio que se iniciava na região, as três irmãs saíram de Brasília, na manhã de terça-feira, e se dirigiram para a ecovila Condomínio Habitat, levando abafadores e materiais para a confecção de chicotes de combate a queimadas na mata. Transformaram a própria casa em um pequeno quartel, de onde saíram suprimentos para abastecer e alimentar as equipes da linha de frente no combate às chamas. “Tínhamos de colaborar da melhor forma possível. Esta chácara é um legado do nosso pai que pretendemos manter”, afirma a arqueóloga Anne.

A mobilização da comunidade no apoio aos bombeiros e aos voluntários foi ponto chave para o avanço positivo da operação. Além de se juntarem ao enfrentamento ao fogo nos momentos mais urgentes, moradores locais ofereceram alimentos e abrigo aos demais combatentes. “É o nosso papel. Temos de ajudar de todas as formas. Eles estão salvando nosso espaço. Temos uma área de reserva preservada de quase 130 hectares, com uma infinidade de espécies vegetais e animais nativos. Estamos aprendendo muito sobre como cuidar melhor desse patrimônio”, revelou a bancária aposentada Lorenis Silva, síndica da ecovila Condomínio Habitat, que levava uma melancia para os bombeiros, pouco antes da planejada investida final contra o incêndio.

Prevenção


O combate às chamas por bombeiros e voluntários da Rede Contra Fogo prosseguiu noite adentro. Por volta das 20h, era possível observar grandes labaredas no topo da Serra do Paranã, em uma linha de fogo de quase 5km. Segundo a prefeita de São João d’Aliança, Débora Domingues, a administração municipal tem intensificado o trabalho de conscientização contra queimadas e de aplicação de multas a infratores nesta época do ano. “Mas temos, ainda, um longo trabalho pela frente, pois há uma forte cultura de queima de pasto e de lixo na região. Continuamos os esforços por aquisição de equipamentos e organização de uma brigada treinada contra incêndios florestais”, destaca a prefeita.

Secretário de Meio Ambiente, Geraldo Bertelli afirmou que o município tem buscado meios para apoiar as ações de combate aos incêndios florestais, oferecendo transporte e equipamentos para voluntários, como no caso atual, além da elaboração de um plano de contingência em situações de emergência. “Mapeamos todos os pontos para captação de água e outras estruturas de apoio necessárias em situações como essa. Mas ainda é preciso avançar no treinamento e até mesmo na contratação de pessoal. É algo que precisa de uma ação coordenada entre o estado e municípios”, defende Geraldo.

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