Deu no caderno Cidades: Maria Damasceno Lima, 48 anos, perdeu o agendamento da vacina e se viu envolvida em uma saga kafkiana de burocracia para reagendar a vacinação. Primeiro, informaram que o prazo era de cinco dias. Quando ela se apresentou ao posto, esclareceram que a duração havia mudado para 10 dias.
O processo de agendamento sempre foi extremamente complicado. O meu filho é nutricionista, tentou por várias vezes e esbarrou na impossibilidade. Simplesmente, não funcionava. Assisti a inúmeras matérias na tevê com pessoas que faziam a mesma reclamação.
Quando você vê e vive situações dramáticas de pessoas próximas ou distantes morrendo por falta da proteção da vacina, isso se torna algo revoltante. Não sou mal-humorado, compreendo que lidar com uma situação de crise sanitária dessa magnitude é um desafio titânico. No entanto, não se trata de um fato isolado, mas de uma situação que se repete de uma maneira rotineira, reiterativa e insistente.
Posso dizer que todas as vezes nas quais me dirigi a um posto ou algum parente tentou agendar a vacinação foi um caos. As confusões e os equívocos são incontáveis. Sem nenhum aviso, mudaram a vacinação do posto da QI 21 para o Parque da Cidade. Só obtive a informação quando já havia esperado duas horas.
Não teria sido mais fácil convocar uma entrevista coletiva ou simplesmente avisar pela televisão? Em outra ocasião, acabou a vacina, depois que havíamos esperado muito tempo na fila. É uma postura de flagrante desrespeito ao cidadão, já estressado pela gestão negacionista e irresponsável dos governantes. Na semana passada, fui com a minha filha, que é professora, ao Parque da Cidade, para que fosse vacinada.
Ela penou para conseguir o agendamento. Finalmente, descobriu que estava em uma lista. Mas se confundiu e só descobriu, no sábado, que devia ser vacinada na sexta-feira. Fomos ao Parque da Cidade, ela explicou o caso ao atendente. O atendente informou que consultaria as chefes.
Discuti com a minha filha, ela não queria que eu reclamasse. Eu disse que reclamaria sim, sou jornalista, não reivindicaria apenas por ela, mas por todos na mesma condição. Felizmente, consentiram que vacinasse. Mas, de qualquer maneira, a matéria do Correio sobre Maria Damasceno mostrou que eu estava certo, isso pode acontecer a qualquer mortal. E, se ela morresse, quem se responsabilizaria?
É absurdo a Secretaria de Saúde impor regras burocráticas tão rígidas como se isso fosse sinônimo de organização. Não é, a vacinação no DF é uma bagunça desorganizada. A cidade ocupa o humilhante décimo sétimo lugar no ranking da vacinação no país. E, como se não bastasse, o governo ainda traz jogos de futebol para o Mané Garrincha, quando até o Rio de Janeiro, com toda a balbúrdia reinante, recusa. Se o vírus já foi superado por que em 29 de junho o governador decretou estado de calamidade pública?
Em vez de promover jogos de futebol, o governo deveria se preocupar em conseguir mais vacinas e em organizar a logística da vacinação. Parece que o general Pazuello fez escola. Colocar em risco a vida de uma pessoa por causa da burocracia é inaceitável. A vacinação tem de ser a mais acessível e desburocratizada.
Considero um crime deixar uma pessoa sem vacinar porque ela perdeu ou se esqueceu do agendamento. Em uma situação de pandemia, qualquer pessoa deveria ser vacinada em um posto, sem a necessidade de nenhum agendamento. A burocracia pela burocracia provoca o absurdo. Ela precisa ter um sentido. A burocracia não pode estar acima da vida em nenhuma circunstância.
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