Novo mercado

Com gasolina cara e pandemia, venda de motos cresce 72% no DF

Vendas de motocicletas registraram crescimento de 72,1% no primeiro semestre do ano, segundo associação das revendedoras. Hoje, mais de 225 mil desse tipo de veículo circulam no DF e representam 11,8% da frota

Luana Patriolino
postado em 18/07/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press                                )
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press )

Mais barata, permite deslocamentos mais ágeis e com maior facilidade para estacionar. Esses são os principais motivos que explicam o crescimento do mercado de motocicletas no Distrito Federal. De acordo com pesquisa da Associação das Empresas Revendedoras de Veículos do Distrito Federal (Agenciauto), no acumulado deste primeiro semestre do ano, o aumento foi de 72,1%. Foram 9.389 motos comercializadas nos primeiros seis meses, contra 5.455 do primeiro semestre de 2020. Enquanto isso, a venda de carros teve aumento de 56,9% em relação ao mesmo período. A pandemia de covid-19 e o preço alto do combustível também influenciaram na escolha do brasiliense, de usuários individuais a empresas.

Segundo dados do Departamento de Trânsito (Detran), atualmente, a capital conta com 225.279 motos circulando pelas vias. Esse número representa 11,8% do total de veículos do quadradinho e cresceu 18,29% de 2016 a 2021. Quem faz parte dessas estatísticas é o advogado Mateus Vitória, 32 anos. Morador da Asa Norte, ele precisa percorrer longa distância da cidade até o Paranoá, onde trabalha. Para vistar a família no Gama e no Park Way, Mateus decidiu trocar o carro por uma moto. Além dos custos, o tempo gasto no trânsito diminuiu. “Comprei uma moto por conta do preço da gasolina — que não abaixou. Desde o início da pandemia, só tem aumentado e ficou impossível andar de carro com esse valor nas alturas. Comprei para economizar. Como ando muito, optei por fazer essa troca”, afirma.

O professor universitário Frederico Cruz, 53 anos, é um apaixonado por motos há mais de 20 anos. Em 2008, ele decidiu abandonar de vez o carro para viver sobre duas rodas. Ele destaca os benefícios dessa escolha. “Comprei para andar nos fins de semana e passear. Mas, seis meses depois, vendi o meu carro e, desde então, só tenho moto”, conta. Frederico garante que investe em seguros e toma todos os cuidados necessários para andar com responsabilidade em Brasília. “Já tive várias motos, e mais de uma ao mesmo tempo. Sempre tive seguro, não dá para sair sem isso. Os equipamentos são caros, além do risco de roubo”, destaca.

O auxiliar em logística Felipe Guedes Monteiro, 60 anos, pretende se juntar ao time dos motociclistas. Atualmente, ele conta apenas com um carro como meio de transporte, mas avalia investir em uma moto até o fim do ano. Os motivos são o alto custo da gasolina e a facilidade de locomoção. “A diferença é muito grande. Os estacionamentos são lotados. Eu e minha esposa saímos muito para locais próximos e, às vezes, por falta de estacionamento, perdemos muito tempo procurando vaga”, explica. “Por ser prática a locomoção dela, a facilidade que nos proporciona, é muito grande”, ressalta. Felipe mora no Guará e trabalha no Aeroporto Internacional de Brasília. São cerca de 30km todos os dias, somando ida e volta. Com o novo veículo, ele pretende reduzir os custos com combustível. “E esse preço já subiu de novo”, revolta-se.

Diferença nos negócios

Muitas empresas trabalham com o próprio sistema de entregas e sentiram a diferença no bolso com o preço da gasolina. Para driblar essa questão, os empreendedores decidiram investir em motos. É o caso da empresária Dayane Freitas, proprietária da Talento Pudim. O restaurante, que fica em Águas Claras, atende clientes de várias cidades do Distrito Federal. “Decidimos terceirizar o serviço de entrega. Financeiramente, neste momento, é o melhor para nós”, explica. “Dá uma grande diferença. No início, fazíamos as entregas de carro. Terceirizando com um motoboy de confiança e cuidadoso, o custo fica bem melhor e mais rápido”, diz.

Na avaliação da gerente Daiane Barros, funcionária da hamburgueria Tá Doido, no Setor Comercial Sul, a troca tem sido vantajosa. “Apenas um motoboy chega a fazer cerca de oito viagens por turno”, diz. Segundo ela, as entregas cresceram durante a pandemia e a empresa precisa lidar com a alta demanda e administração das entregas por meio das motos. Além do delivery próprio, a empresa trabalha com entregadores por aplicativo. “As entregas aumentaram 100%. O nosso desafio é gerar uma ótima experiência para o cliente final, fazendo esse processo cada dia mais ágil e humanizado”, conclui.

Análise

Na avaliação do economista Benito Salomão, a decisão de trocar um carro por uma moto deve variar de acordo com a necessidade de cada pessoa ou empresa. “A vantagem da motocicleta é reduzir o seu tempo no trânsito. Não se perde tanto tempo em filas, a moto agiliza isso. Por outro lado, tem o problema da segurança. Você está mais exposto a acidentes”, destaca.

“Tem de ter seguro de vida ou de saúde, para um eventual acidente. Tudo isso precisa ser levado em conta. Sobre se a moto será mais vantajosa que o carro, tem que pensar qual a finalidade. Para algumas pessoas é vantajoso. Para outras, nem tanto”, pondera. “A moto, sem dúvida nenhuma, reduz custos. O imposto é mais barato, é um veículo mais econômico em termos de consumo de combustível. Mas, se considerar que você vai precisa ter seguros para poder utilizar esse veículo, às vezes, o custo não é tão mais barato assim”, avalia.

Para empresas, Salomão indica que os empreendedores façam um estudo sobre os prós e contras da troca. “Depende do fluxo de clientes, da quantidade de entregas, da distância em que serão feitas as entregas, da quantidade pessoas que teria que ter empregadas para fazer um delivery próprio, por exemplo”, explica. “Isso tudo envolve um conjunto de determinantes que são muito particulares de cada negócio”, ressalta.

Sobre duas rodas

Crescimento na quantidade de motos registradas no Distrito Federal

2016190.440
2017196.292 (+ 3,07%)
2018203.483 (+ 3,6%)
2019212.805 (+ 4,58%)
2020221.298 (+ 3,84 %)
2021225.279 (+ 1,77%)

Fonte: Detran-DF

 

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