Indignados com as condições de trabalho que precisam enfrentar para sobreviver, entregadores de aplicativo fizeram uma manifestação, ontem, no estacionamento do ParkShopping. A categoria decidiu promover o ato depois que o motoboy Elton dos Santos Silva, 31 anos, foi humilhado por um dos sócios do restaurante Abbraccio que fica no centro de compras. Eles também reivindicam pontos de apoio e mais respeito à categoria.
O presidente da Associação dos Motoboys Autônomos e Entregadores (Amae-DF), Alessandro da Conceição, afirmou que os trabalhadores lutam pelo cumprimento da lei distrital que garante a disponibilização de pontos de apoio pelos aplicativos. “Até agora, as empresas nem começaram a fazer. Se tivessem criado, não teria havido toda essa confusão e polêmica com um dos nossos. Sabemos que, às vezes, causa incômodo aos funcionários dos estabelecimentos quando pedimos para usar o banheiro ou carregar o telefone, por exemplo. Mas essa é uma necessidade da categoria pela qual estamos lutando há algum tempo”, ressaltou.
Alessandro faz referência ao caso de Elton. No sábado, um vídeo que circulou nas mídias sociais mostrava o momento em que o motoboy carregava o celular, em um ambiente reservado para entregadores. No entanto, o sócio do Abraccio disse que o trabalhador não poderia ficar no local. “Na minha loja, você não pisa mais, não. Estou neste shopping (ParkShopping) há 15 anos. Não vai chegar motoboy e achar que manda, não”, afirmou o empresário, que não teve o nome divulgado. “Pago R$ 140 mil de aluguel para motoboy sentar aqui? Vou pedir para te excluir do iFood, beleza?”, acrescentou.
O presidente da Amae-DF destacou que o caso pelo qual o motoboy passou não é isolado. “Ter uma filmagem, como nesse caso, é raro. Mas a humilhação é constante. Isso é bem mais comum do que se imagina. É o desrespeito com o nosso trabalho”, lamentou Alessandro. Ontem à tarde, Elton registrou boletim de ocorrência por injúria, na 4ª Delegacia de Polícia (Guará).
Desrespeito
Abel Santos, um dos representantes da Amae-DF, organizou a manifestação de ontem: “A lei que regulamenta a construção dos pontos de apoio, foi aprovada há 180 dias e, até agora, nada. Quando houve restrição das atividades, quem segurou o comércio? Queremos respeito, nada mais”, cobrou. Entregadora de aplicativo, Suelen Silva, 26, participou do ato e relatou as dificuldades para trabalhar nas atuais condições. “A profissão é muito malvista, porém, necessária. Esperamos que as pessoas melhorem o atendimento conosco. Gostam muito de humilhar motoboy, mas, na verdade, dependem muito de nós”, disse a jovem.
O deputado distrital Fábio Felix (Psol) foi ao protesto para prestar apoio aos profissionais. O parlamentar destacou que a classe merece condições dignas de trabalho. “Sorte que alguém filmou o que aconteceu, porque não foi a primeira vez que vimos desrespeito (contra trabalhadores de delivery). Já recebemos uma série de denúncias. E esse vídeo revelou o que acontece com vocês”, disse aos participantes.
Fábio Felix é autor do projeto de lei que se tornou norma no DF e trata da disponibilização dos pontos de apoio. Os espaços devem ter banheiros masculinos e femininos, chuveiros, vestiários, estacionamento para bicicletas e motocicletas, sala para apoio e descanso, além de ponto de espera para veículos de transporte individual privado de passageiros. O não cumprimento da exigência por parte das empresas de aplicativo implica sanções como multa, suspensão e perda do cadastro administrativo junto à Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob).
Ontem, a assessoria do restaurante Abbraccio divulgou novo posicionamento relativo ao caso: “Primeiramente, registramos que respeitamos todo e qualquer tipo de manifestação responsável. Pedimos desculpas, mais uma vez, e afirmamos que o retratado no vídeo não condiz com nossa relação com os profissionais de entrega. O sócio do restaurante foi afastado para que possamos apurar todos os pontos e refazer o processo de orientação do trabalho com os entregadores locais”.
Representantes do shopping também se pronunciaram sobre a polêmica e informaram lamentar “profundamente o ocorrido entre o sócio de uma loja e um entregador, na doca do empreendimento, um local de suporte para trabalhadores das operações de entrega”. “Respeitamos todos os públicos que frequentam o ParkShopping e prezamos pela boa convivência e relacionamento cordial entre lojistas, colaboradores, prestadores de serviço, clientes e todos que circulam e trabalham no shopping”, ressaltaram, em nota.
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