URBANISMO

Touring vai virar museu

Com aprovação do Projeto de Lei Complementar pelo Conplan, proposta para instalação da obra avança. Projeto será custeado pela iniciativa privada. Prédio abandonado, que já foi posto de gasolina e rodoviária, é cercado de polêmicas

Jéssica Moura
postado em 23/07/2021 21:42
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O prédio abandonado do antigo Touring Club, localizado ao lado da Rodoviária do Plano Piloto, está mais perto de ter uma nova destinação. Nessa semana, o Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan) aprovou o texto do Projeto de Lei Complementar (PLC) que permite um novo uso da edificação, que é tombada. O texto elaborado pela secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) prevê que um museu tecnológico possa funcionar na edificação desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

O projeto será encaminhado ainda neste mês à Câmara Legislativa (CLDF). Se for aprovado em dois turnos pelo plenário da Casa, segue para sanção do governador Ibaneis Rocha (MDB). Depois disso, a obra de restauração, que já foi aprovada pela Secretaria de Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Conplan, pode começar.

Atualmente, esse é o único prédio particular da Esplanada dos Ministérios, e foi comprado pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) em 2019. Foi naquele ano que a organização questionou o governo sobre a possibilidade de instalar ali um museu. O investimento de R$ 160 milhões virá da iniciativa privada. A previsão da Seduh é de que a revitalização deve ser concluída até abril do ano que vem.

“Vai ser um grande presente para Brasília, colocando fim a décadas de subutilização e abandono”, afirmou o secretário Mateus Oliveira. “O museu vai induzir uma nova dinâmica de visitantes e circulação de pessoas para uma área que era até perigosa. Ironicamente, é um lote situado no Setor Cultural Sul, mas que até hoje as suas normas não preveem o uso de museu”, ponderou Oliveira.

Novo uso
O projeto aprovado descreve que o espaço pode ser usado para atividades ligadas à educação e à cultura. O futuro Sesi Lab vai ser um museu voltado para tecnologia e ciência, com quatro galerias de exposições e salas para oficinas, que deve atender, também, escolas públicas. Haverá, ainda, um anfiteatro externo para atividades ao ar livre e um jardim. A proposta permite o uso comercial, com livrarias e papelarias, além de estabelecimentos como restaurantes e cafés. Há, também, a previsão de um estacionamento no subsolo do prédio.

O arquiteto Antônio Carpintero, especialista na história de Brasília, diz que o projeto é positivo, mas defende que a instalação deve prever atividades para atrair o público. “Ali deviam colocar uma grande choperia, bares para ativar o centro urbano de Brasília, vivo, com pessoas passando, para um happy hour no pôr do sol. Colocar cafés e museu não é uma coisa absurda, mas tem que ter uma atividade de lazer. O café devia ser amplo, ocupando uma parte significativa do espaço, para ter público. Museu não tem frequência alta”, argumentou.

Carpintero lembra que a ideia original do urbanista Lucio Costa era que o espaço fosse destinado a uma casa de chá e ópera. “A casa de chá é uma coisa meio elitista de Lucio Costa, mas a proposta pensou a vida urbana ao colocar lazer para as pessoas, não só o monumento”, diz Carpintero.

Uso desvirtuado
Em mais de 60 anos, a destinação ao local nunca foi concretizada. Em 1963, o Governo do Distrito Federal (GDF) cedeu a edificação ao Touring Club. Contudo, em 2005, a associação de automóveis faliu, e o edifício foi a leilão, já muito deteriorado e invadido. Adquirido por outra entidade privada, o prédio ficou abandonado, já que a lei apenas permitia o uso para o “Touring”, o que impedia outras formas de utilização. Por isso, havia a necessidade de uma mudança na legislação, que possibilitasse outras formas de ocupação. Em 2015, o prédio foi tombado pelo Iphan, para preservar o projeto original de Niemeyer. Em 2019, foi comprado pelo Sesi.

Nesse meio tempo, a edificação ainda chegou a ter outros usos, como um posto de gasolina e uma oficina. Entre 2014 e 2019, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) alugou a área provisoriamente para abrigar a rodoviária de ônibus que vinham do Entorno. Em 2016, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) debelou a construção de uma unidade da Igreja Mundial do Poder de Deus, que pretendia se instalar no prédio.

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