Crônica da Cidade

por Severino Francisco
postado em 27/07/2021 21:47

Brasil e anti-Brasil

Fez muito bem à minha alma assistir a algumas competições das Olimpíadas. Eu estava com saudades do Brasil. Porque, nos últimos anos, o que está em primeiro plano é o anti-Brasil, o que o país tem de pior. Mas, nas Olimpíadas, vimos alguns relances do Brasil verdadeiro. E como é bom quando o Brasil é Brasil.

Mesmo jogando mal, o time de vôlei masculino virou uma partida em que perdia de 2 x 0 contra a Argentina e venceu por 3 x 2 na raça. Não importa, foi uma demonstração de força. E que vitória do Ítalo Ferreira no surfe. Torci muito para ele, principalmente ao saber que começou se exercitando em cima de uma chapa de isopor usada pelo pai para vender peixe no Rio Grande do Norte.

Rebeca deu um show de flexibilidade, de força, de movimento, de elegância e de graça na ginástica artística feminina. Ao utilizar a música Baile de favela, do MC João, ela transformou a apresentação em um ato cultural. A ginástica se desdobrou em dança brasileira.

Quem melhor nos representa é a menina maranhense Rayssa Leal, de 13 anos, que ganhou medalha de prata no skate. Ela desfilou nas plataformas da Olimpíadas com a inocência de um Garrincha. Parecia não ter consciência nem sentir o peso de uma competição em que os olhos do planeta estão atentos a cada movimento dos atletas. Ele flutuou com a leveza de uma sílfide.

Não se intimidou com os holofotes e o mega-aparato de comunicação. Brincou como se estivesse no quintal da casa. Se errava, também não se importava muito. Em alguns momentos, imaginei que era a minha neta Aurora que passeava de skate pela Olimpíada.

Esse é um Brasil que treina, trabalha, batalha, sua. Não é o anti-Brasil dos preguiçosos, dos inertes, dos incompetentes, dos arrogantes e dos capachos. Não é o Brasil fake que nos é imposto em que a bandeira brasileira é usada para referendar atos antidemocráticos. Nas Olimpíadas, não tem procurador, desembargador, senador ou deputado capacho. Pode haver até injustiça, como ocorreu na desclassificação duvidosa de Gabriel Medina.

Isso faz parte do jogo. Mas não tem orçamento paralelo para alugar a consciência dos juízes ou ministro da Defesa para intimidar: “Olha, se o nosso atleta não ganhar a competição, não haverá pódio de premiação”. É muito bom quando alguém nos representa. Não dá para ganhar tudo, mas, de qualquer maneira, serviu para a gente sentir um gostinho de Brasil, um gostinho do que somos e do que podemos ser.

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