A Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) segue com as investigações sobre o suposto envolvimento de outras pessoas em crimes praticados por Lázaro Barbosa Sousa, 32 anos. Ontem, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-GO) divulgou uma carta encontrada no bolso do criminoso, logo após ele ser morto durante em confronto com policiais militares da Rotam-GO. Numa folha de papel, sujo de sangue, endereçado a uma pessoa chamada Jil, ele afirmou que não se entregaria e pediu mais munição.
Desde a prisão do fazendeiro Elmi Caetano, 74, — detido em 24 de junho por auxiliar na fuga de Lázaro — e o depoimento do caseiro Alain Reis Santana, 34, as investigações tomaram rumos diferentes. A polícia acredita na existência de uma organização criminosa voltada à prática de crimes violentos, dos quais Lázaro cometeu, e que o fugitivo seria um dos integrantes.
Em entrevista exclusiva ao Correio, o delegado Cléber Martins, titular da 17ª Delegacia Regional de Polícia (DPR), em Águas Lindas (GO), acredita que, ao menos outras duas pessoas além de Lázaro, participaram da chacina que vitimou quatro pessoas da mesma família, no Incra 9 de Ceilândia Norte.
Por meio de nota oficial emitida ontem, a SSP-GO informou que o dinheiro encontrado com Lázaro, um total de R$ 4.440, são indícios de que o criminoso teria recebido um aporte financeiro para a fuga. “De igual forma, já é de conhecimento público que Lázaro teve acesso à internet no período em que estava cometendo crimes na zona rural daquela cidade (Girassol).”
Carta
Logo no primeiro parágrafo da carta, Lázaro refere-se a Jil e diz: “Olha mano, velho eu fui numa fita que deu mó peteco como vc mesmo deve ta vendo o cara tava armado, e antes de eu conseguir enquadrar, a vítima ainda conseguiu avisar uma pessoa que quando eu vi já foi só os tiros”.
Quando Lázaro escreve: “antes de eu conseguir enquadrar, a vítima ainda conseguiu avisar uma pessoa”, ele refere-se supostamente à Cleonice Marques, 43. No dia do crime, em Ceilândia Norte, na madrugada de 9 de junho, ao ver uma pessoa arrombando a porta, a empresária conseguiu ligar rapidamente para um familiar e pedir socorro: “Corre, estão entrando aqui em casa”, disse ela, minutos antes de ser sequestrada.
Pouco menos de 10 minutos depois, o parente da vítima chegou à residência e encontrou Cláudio Vidal, 48, e os dois filhos do casal, Carlos Eduardo Marques Vidal, 15, e Gustavo Marques Vidal, 21, feridos por arma branca. Mesmo agonizando, Cláudio conseguiu dizer algumas palavras: “Levaram a Cleonice”. O corpo da matriarca foi encontrado a cerca de 8km da casa dela, no Córrego das Corujas, no Setor Habitacional Sol Nascente. Antes de morrer, ela foi estuprada e teve a orelha cortada pelo criminoso. “Deu essa porra aí, olha tem um monte de mentira rolando, vejo na TV as vezes, mas isso só daria para falar se fosse pessoalmente. Mano, não vou me entregar, pois além do caso (...) tem muita coisa que tão querendo botar pra mim, e eles tão me caçando como caça viado”, escreveu.
“Zerado de munição”
Em outra parte da carta, Lázaro afirma que participou de dois confrontos com os policiais e está que “zerado de munição”. Em seguida, pede ajuda ao destinatário. “Cara, por favor, arruma o tanto de munição de .38 e .380 para mim. Eu tenho 35 munição de 380 lá naquele barraco que eu tava com a *** (Lázaro omitiu o nome) pra pegar para mim eu vou te adiantar 500 reais por esse corre por favor mano não me deixa na mão não”, suplica.
Ele afirma, ainda, que, caso não arrume as munições, vai ter que ir atrás e, dessa forma, “pode morrer mais gente e isso não pode acontecer”. Por fim, o criminoso diz: “Eu só quero que eles não cheguem perto de mim que são muitos e tão só para matar. Se tu for me ajudar vem pegar a grana se não rasga Falou, to na *** (ocultado por Lázaro)”, finaliza a carta.
Ainda em nota, a SSP-GO esclareceu que a carta encontrada é um dos elementos da investigação. “É ressaltado que a força-tarefa tentou o tempo todo a rendição do foragido, pois sempre foi do interesse da força-tarefa que Lázaro Barbosa Sousa respondesse por seus crimes. A força-tarefa tinha o propósito de restabelecer a paz da população da região, garantir que Lázaro Barbosa Sousa não cometesse mais crimes e que ele fosse capturado”, afirmou a secretaria, em comunicado.
