Patrocínio

Superação por meio do esporte

Vítima de uma tentativa de feminicídio em 2003, paratleta faz vaquinha para competir no mundial de vela adaptada , em Palermo, na Itália. Após ser baleada pelo marido, Ana Paula Marques ficou paraplégica e descobriu um novo sentido para a vida

SAMARA SCHWINGEL - PEDRO MARRA
postado em 02/08/2021 00:08
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

O esporte muda vidas, e a atleta Ana Paula Marques, 39 anos, é um desses exemplos de superação. Sobrevivente de uma tentativa de feminicídio, cometida pelo ex-marido dela, a jovem ficou paraplégica aos 20 anos, perdendo todos os movimentos da cintura para baixo. Porém, a tragédia que transformou sua vida para sempre foi encarada como um desafio e despertou uma nova paixão: a vela adaptada e a vela paralímpica.

A descoberta do refúgio ocorreu a partir do tratamento de reabilitação e, desde então, deu a Ana um novo motivo para sonhar, transformando a paciente em uma atleta vitoriosa. Após a conquista do campeonato mundial na vela adaptada, em 2018, Ana está na corrida por recursos para chegar ao deste ano, em Palermo, na Itália, de 2 a 9 de outubro.

O crime do qual Ana foi vítima ocorreu em 2003, na cidade de Alvorada (RS). À época, ela morava com o filho, que tinha 3 anos, e o então marido. “Ele não aceitava o fim do relacionamento e tentou me matar. Disparou duas vezes contra mim. Um dos tiros pegou nas costas”, conta Ana. Ela conseguiu sobreviver, mas perdeu o movimento dos membros inferiores.

“Comecei a fazer tratamento no Hospital Sarah de Brasília. Foi quando conheci a prática de esportes adaptados”, relata. Ana começou pela corrida com cadeira de rodas, seguiu para o tiro com arco, mas foi na vela adaptada que se encontrou. “Eu me identifiquei. Só que, no Sul, essa prática não era muito comum e eu não tinha onde treinar. Mas me mudei para Brasília com meu filho em 2013”, diz a moradora do Guará 2.

Trajetória

O talento para o esporte apresentou a ela um universo, até então, desconhecido. Com a dedicação aos treinos, logo vieram as primeiras conquistas em campeonatos locais. Mas era apenas o início da trajetória de sucesso. Em 2016, Ana conquistou o terceiro lugar feminino do Campeonato Mundial Classe Hansa 303, na Holanda. Em 2017, na Alemanha, ficou com o segundo lugar na competição. Um ano depois, no torneio dos Estados Unidos, a paratleta chegou ao lugar mais alto do pódio e trouxe a medalha de ouro para o Brasil.

“Nos dois primeiros torneios, eu tinha patrocínio. Com a pandemia, a maioria dos campeonatos foi cancelada. O próximo mundial será na Itália, em outubro, e quero muito competir e trazer mais uma medalha para meu país. Peço o apoio de todos, para que me ajudem com qualquer valor”, pede. “Qualquer valor ajuda.” As doações podem ser feitas por meio de um número de Pix (61) 98206-7819. Dos R$ 12 mil necessários, ela conseguiu R$ 6 mil.

Ana Paula treina três vezes por semana, mas sem local fixo. Às terças-feiras, quintas-feiras e aos sábados, ela costuma velejar no Lago Paranoá. Quando está fora do DF, pratica o esporte na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, e na Lagoa dos Ingleses, em Belo Horizonte.

Incentivo

A atleta recorda-se do apoio recebido por um paratleta, que a incentivou na prática desportiva. “Quem me motivou a ir para o esporte foi um paratleta do atletismo de Brasília, o Parré (Ariosvaldo da Silva). Se ele não tivesse me convidado, eu estaria quietinha na minha casa, no Rio Grande do Sul”, brinca Ana Paula.

Além da vaquinha, a paratleta tenta conseguir apoio do governo local, por meio do programa Compete Brasília. “Estou esperando um retorno. A solicitação tem de ser feita 60 dias antes da competição. Vão me dar a resposta no começo de setembro”, finaliza.

 

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