Crônica da Cidade

Saia da bolha, Congresso!

Severino Francisco
postado em 09/08/2021 23:05

O Congresso Nacional e, de maneira especial, a Câmara dos Deputados, vive dentro da bolha do orçamento, da bolha do orçamento secreto e da bolha do fundão. Está de costas viradas para o Brasil, para os interesses da nação e do povo brasileiro. A campanha do voto impresso é uma tentativa de golpe, que só prosperou até aqui graças à pusilanimidade do presidente da Câmara, Artur Lira, que posa de machão nordestino, mas age da maneira mais servil e irresponsável.

Ao alugar a consciência para o governo, o Centrão coloca em risco a democracia. Essa proposta de voto impresso é uma farsa que não resiste à menor análise racional. Nosso presidente macaqueia Donald Trump e prepara um golpe anunciado. Todos já viram esse filme e no que ele vai resultar. Quem se omite autoriza o golpe.

Contra todas as evidências, Trump alardeou fraudes nas eleições para presidente nos Estados Unidos, mas é um mentiroso de carteirinha e nunca provou nada. É interessante porque, nos EUA, teria havido fraude, porque o voto é impresso, enquanto, aqui, a suposta maracutaia decorre do fato de que o voto é eletrônico.

Nas últimas eleições para a presidência dos EUA, nós vimos como o sistema de votação norte-americano é uma carroça perto do brasileiro, reconhecido internacionalmente como uma referência de funcionalidade, de agilidade e de segurança. O presidente brasileiro mente de maneira deslavada ao afirmar que só o voto impresso é auditável. O voto eletrônico é auditável.

Como disse uma postagem do STF, uma mentira propagada mil vezes não se transforma em verdade. Está claro que o voto eletrônico é apenas pretexto para uma farsa e uma ameaça à democracia. Para o presidente, se ele não ganhar a eleição, só pode ter havido golpe. Isso só é possível porque ele dispõe de uma poderosa máquina da mentira, que precisa ser estancada.

Qual é a prioridade do voto impresso quando mais de 14 milhões de brasileiros estão desempregados; quando outro tanto de cidadãos luta, diariamente, para ter algo no prato para comer; quando falta vacina e sobram indícios de propina; quando as nossas florestas são devastadas, enquanto o planeta fica mais quente e sofre as consequências apocalípticas do aquecimento global?

Quem apoia o voto impresso é golpista ou covarde. Repito: nada disso prosperaria se o Congresso Nacional não fosse tão omisso e irresponsável. Engana-se quem acha que vai se dar, necessariamente, bem em uma ditadura. Juscelino e Carlos Lacerda apoiaram o golpe militar de 1964 e, logo em seguida, foram cassados e relegados ao ostracismo. Tudo pode acontecer sob a órbita do arbítrio.

O parlamento brasileiro deveria demonstrar, hoje, na votação do voto impresso, que não é constituído apenas por invertebrados que se curvam às bravatas de falastrões e, ao quedarem genuflexos aos desejos dos candidatos a ditadores de republiquetas de banana, humilham toda a nação. Espero que o parlamento tenha um gesto de dignidade e sepulte, de uma vez por todas, essa palhaçada do voto impresso.

E, com isso, abra espaço para o debate sobre as verdadeiras questões relevantes para a nação brasileira, neste momento tão dramático. Saia da bolha, Artur Lira. Honre a origem nordestina. Saiam da bolha do orçamento, excelências. Vossas senhorias nos representam. Não se acovardem, tenham dignidade.

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação