Crônica da Cidade

Virou meme

Severino Francisco
postado em 11/08/2021 22:57


O desfile de blindados da Marinha na Esplanada dos Ministérios, precisamente no dia da votação do voto impresso na Câmara dos Deputados, pretendia ser uma demonstração de força, mas não passou de uma demonstração de fraqueza.

É mais uma farsa de um governo que acha que pode resolver qualquer problema com uma manifestação fake. Até o vice-presidente Hamilton Mourão ironizou os blindados depauperados exibidos pela Marinha: “talvez até com o intuito de receber mais recursos para dar uma melhorada”.

Não existem condições objetivas para se aplicar um golpe, não há guerra fria, não há apoio dos Estados Unidos, apoio institucional ou popular que havia no pré-64. Por mais esculhambado que seja e por mais que as instituições sejam lenientes, o Brasil não é uma republiqueta de banana. O desfile fake não intimidou ninguém. Aqueles tanques soltando fumaça pareciam os carros de fumacê para espantar a dengue.

Acuado por denúncias de corrupção na compra de vacinas, responsabilizado por campanhas negacionistas, pela recusa de comprar vacinas seguras e pela volúpia em comprar vacinas que não existiam intermediadas por picaretas e pela morte de mais de 560 mil brasileiros durante a pandemia, o governo ensaiou a pantomima na Esplanada que só serviu para inspirar memes nas redes sociais.

No Senado, a farsa primária não convenceu e o governo foi alvo de duras críticas dos parlamentares daquela Casa. E, na Câmara, a proposta do voto impresso sofreu uma derrota acachapante, mesmo com a pressão, a covardia de algumas excelências, as emendas milionárias do orçamento oficial e do orçamento secreto.

Ao despencar nas pesquisas, o presidente está desesperado porque sabe que vai perder. Enquanto o país agoniza com mais de 15 milhões de desempregados, falta vacina para a retomada segura das atividades econômicas e a mistura de negacionismo com incompetência provocou a morte de milhares de brasileiros na pandemia, o presidente brinca de motociatas ou de aplicar golpe militar.

No entanto, só ostentou o seu isolamento. Nenhum chefe dos outros poderes da República aceitou fazer parte da ópera bufa bélica. A logística da operação desastrada tem a mesma marca de incompetência exercida na gestão da pandemia. Parece que o governo está repleto de estrategistas tão desastrados quanto Pazuello. Mas, se as acusações de fraude nas eleições carecem de provas, as mentiras do presidente são auditáveis. Levantamento da ONG internacional Artigo 19 mostra que o presidente brasileiro mentiu nada menos do que 1682 vezes em 2020 e bateu recorde mundial.

Não é por acaso que a última pesquisa Datafolha mostra que a maioria dos brasileiros (55%) nunca confiam nas declarações do presidente. É a esse personagem que alguns maus militares obedecem cegamente, com uma subserviência constrangedora. Chegam a ter tanto medo que tomam vacina escondidos.

Em vez de estar envolvido em manifestações bufônicas de ameaça ao parlamento e à democracia, em Brasília, o ministério da Defesa deveria se preocupar em proteger as nossas florestas devastadas e invadidas por garimpeiros, as nossas fronteiras por onde passa o contrabando de armas, o controle das armas que param nas mãos de bandidos.

As Forças Armadas são instituições de Estado, precisam estar ao lado da Constituição e não do lado de maus governantes que foram maus militares. Não têm por função constitucional aplicar golpes na democracia. Se gritar pega o Centrão, não sobra um, meu irmão. Acabou a mamata.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação