Na passagem do Dia do Patrimônio Cultural, em 17 de agosto, e do centenário do modernismo, neste 2022, somos assolados por uma notícia absurda: o Palácio Capanema, antiga sede do Ministério da Educação e da Saúde, no Rio de Janeiro, figura em uma lista de imóveis a serem vendidos pelo governo federal.
A consciência modernista de 1922 despertada na poesia, na ficção e nas artes plásticas se desdobraria na arquitetura na década de 1940. O Palácio Capanema é o edifício-símbolo da fundação do modernismo brasileiro na arquitetura. Com suas inovações e audácias, alinhou o Brasil nas experimentações que se faziam em plano internacional.
Há uma rede de conexões essenciais para o Brasil. Se o Palácio Capanema é o edifício-símbolo do modernismo, a Pampulha é o monumento-símbolo do modernismo e Brasília é o modernismo transformado em cidade.
A versão da venda causa espanto, pois trata-se de um prédio tombado pelo Iphan. Só o edifício é uma preciosidade arquitetônica, construída com a participação de Lucio Costa, Burle Marx, Portinari e Oscar Niemeyer, sob a supervisão de Le Corbusier.
Lucio pediu autorização ao presidente Getúlio Vargas e trouxe Le Corbusier, expoente da arquitetura modernista, para desenhar o projeto do Ministério da Educação e da Saúde. Corbusier só passou 30 dias no Rio, mas isso foi suficiente para marcar os modernistas brasileiros.
O prédio é considerado pelo Ministério da Economia como um edifício desocupado no centro do Rio de Janeiro. Mas essa versão não é verdadeira. O edifício tem 16 andares e está em processo de reformas desde 2011.
Pela dimensão e complexidade, a obra é demorada, sofre com a carência de recursos e depende de verbas conquistadas ano a ano. Por isso, evolui ao sabor dos caprichos da política cultural de sucessivos governos, explicou em artigo para O Globo, Jurema Machado, ex-presidente do Iphan.
Segundo nota do Ministério da Economia, desde junho de 2020, a partir da publicação da Lei 14.011/2020, todos os imóveis públicos federais podem receber uma proposta de aquisição de imóveis por qualquer cidadão interessado na compra. Inclusive os imóveis tombados.
Deve ser uma daquelas boiadas que passaram incólumes em meio à tragédia da pandemia. O ministro Paulo Guedes é um fundamentalista do privatismo. Acha que todos os problemas são resolvidos com a venda dos imóveis.
É um ato de vandalismo cultural inaceitável, em plena celebração do centenário do modernismo. As excelências da Câmara e do Senado deveriam convocar o ministro Paulo Guedes para esclarecimento em sessão pública. Não se pode vender os símbolos do Brasil com tamanha irresponsabilidade.
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