A semana se encerrou com as imagens estarrecedoras do caos político, social e humanitário no Afeganistão e com as ameaças à nossa democracia da parte de quem deveria ser o primeiro a defendê-la: o nosso presidente. Fica cada vez mais claro, até para os eleitores incautos ou para os aliados, que sua excelência não sabe governar; só sabe criar problemas.
Acha que pode resolver qualquer questão com uma fake news ou com uma bravata. Com isso, se isola cada vez mais na bolha do cercadinho virtual. E, na obsessão de permanecer no poder, só lhe resta o perigoso trunfo de um golpe.
A razão da ação desrazoada do presidente é uma só: ele despenca nas pesquisas de avaliação de governo e de intenção de voto. Mesmo com toda a máquina da mentira e os robôs das redes sociais, a avaliação de ruim e péssimo do governo é de 64%, segundo a última sondagem da PoderData. Sessenta e um por cento dizem que não votariam nele de jeito nenhum em 2022.
A falácia do voto impresso foi derrotada na Comissão de Justiça e no plenário da Câmera dos Deputados. Apesar da tentativa de cooptação de excelências mediante verbas turbinadas de 1 bilhão para emendas parlamentares, a proposta fracassou. Se não ganha, só pode haver fraude, só pode ser inconstitucional. Então, ele parte para uma nova farsa.
Agora, o nosso presidente da República entra com um pedido de impeachment contra o ministro do STF Alexandre Moraes. Qual o delito do ministro? Ter cumprido, exemplarmente, a lei: mandou prender, com autorização da Procuradoria-Geral da República, o cantor Sérgio Reis e o deputado Otoni de Paula, que articulavam um ato em Brasília para invadir o STF. Moraes deveria ser impichado por prevaricação se não trancafiasse os que ameaçam a democracia.
Se é para solicitar impeachment, a honra ao mérito caberia ao Procurador-Geral da República, completamente omisso em relação aos desmandos graves contra o Estado de Direito, fato que tem suscitado a indignação dos colegas procuradores em diversas manifestações públicas.
Espero que as Forças Armadas cumpram a sua função constitucional de instituições de Estado permanentes, e não de milícias do ocupante circunstancial da presidência: “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.” Se o próprio presidente acena com o golpe, perde a autoridade moral para dar ordens às Forças Armadas.
Que autoridade moral tem para pedir impedimento de quem quer que seja, um presidente que faz campanha negacionista de imunizantes em meio a uma pandemia, demora a comprar vacinas, zomba da morte de famílias brasileiras destroçadas, desampara as pequenas empresas, ataca a imprensa, conspira contra a democracia diariamente, estimula o desmatamento de nossas florestas, libera as armas, agrava a crise econômica com o desprezo pelas medidas sanitárias, desrespeita o cargo que ocupa, tem empilhados mais de 120 pedidos de impeachment contra ele na Câmara dos Deputados e nos envergonha diante do mundo?
Só haverá golpe se a Câmara dos Deputados e o Senado se acovardarem, se a imprensa vacilar e se as Forças Armadas traírem a Constituição e a pátria, se rebaixando à condição de milícia armada a serviço dos interesses pessoais do presidente. Omitir-se por medo é a pior solução. O Afeganistão não é aqui. Se ele tentar o golpe, que sejam usadas as medidas não farmacológicas cabíveis. E, por falar em grave crise política, alguém viu o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, por aí?
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