OBITUÁRIO

Morre Roberto Stuckert, aos 78 anos

Com passagens por veículos como Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Manchete e Associated Press, repórter fotográfico paraibano fez história em Brasília. Ele atuou como fotógrafo oficial da presidência da República, nos últimos anos da ditadura militar

Pedro Marra
postado em 23/08/2021 21:51 / atualizado em 23/08/2021 23:04
 (crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação)
(crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação)

Uma das figuras mais importantes do fotojornalismo brasileiro é como Roberto Stuckert ficou conhecido entre colegas de profissão, amigos e familiares. O repórter fotográfico morreu na madrugada de ontem, aos 78 anos, vítima de uma insuficiência cardíaca que levou a um infarto fulminante. A despedida de Stuckão, como era carinhosamente chamado, será hoje, das 8h às 10h, na Capela 7 do Cemitério Campo da Esperança. Às 11h30, o corpo dele será cremado, em Valparaíso (GO).

No mês passado, Roberto ficou internado por cerca de três semanas, fase em que a família descobriu o quadro de insuficiência cardíaca. Contudo, ao longo da vida, Roberto Stuckert acumulou experiências profissionais. Passou por diversos veículos de comunicação do país e do mundo: trabalhou na sucursal da Folha de S. Paulo em Brasília, no Jornal do Brasil, na agência de notícias Associated Press, na revista Manchete e no Jornal de Brasília. Também foi fotógrafo oficial da presidência da República durante a gestão de João Figueiredo, último militar a comandar o país, entre 1979 e 1985.

Nascido em 24 de maio de 1943, em João Pessoa, Stuckão começou a cobrir esportes aos 16 anos, no Diário Carioca, no qual o pai dele, Eduardo Stuckert, trabalhava. Em abril de 1960, Eduardo indicou o filho para ser fotógrafo na sucursal da Folha do Diário, em Brasília. Em seguida, Roberto partiu para a Folha de S. Paulo, também na capital federal. Lá, ficou por mais de 13 anos, de abril de 1965 a janeiro de 1979.

Em seguida, virou fotógrafo oficial do presidente João Figueiredo, até 1985. Em 1966, Stuckert registrou o marechal Arthur da Costa e Silva em visita oficial ao Congresso Nacional. Dois anos depois, quando o militar se tornou presidente do Brasil, a imagem ganhou a capa da revista Veja. No entanto, a edição saiu de circulação, devido ao Ato Institucional nº 5 (AI-5). A publicação do documento representou um dos períodos mais repressivos da ditadura que começou em 1964 no país. À época, o Congresso Nacional foi fechado, e os fotógrafos tiveram de deixar o comitê de imprensa do edifício.

Legado
Neta do fotógrafo, Roberta Stuckert, 26 anos, publicou uma homenagem ao avô na internet. Ela postou uma foto e um texto em memória de Stuckão. “É assim que sempre lembraremos de você, com o brilho nos olhos e o sorriso no rosto. A oportunidade de conviver com você é única, e sorte de quem pode ter isso”, escreveu.

Sobre os momentos mais marcantes ao lado do avô, a jovem se emocionou ao lembrar de uma das últimas vezes em que conversou com Roberto. “Ele falava assim: ‘Leve sempre a família em primeiro lugar. O resto todo se ajeita’. Meu avô viveu muito bem, conheceu diversos países, participou de copas do mundo como fotógrafo e fez a história dele. Morro de orgulho de falar que sou Roberta Stuckert, neta do incrível Stuckão, um homem nada menos que impressionante”, afirmou ao Correio.

Um dos filhos do fotógrafo, o consultor de imagem e também fotógrafo Roberto Franca Stuckert, 54, citou uma conversa que teve com o pai na juventude. “Ele é tudo em minha vida, principalmente porque me ensinou a profissão dele, a coisa mais linda do mundo. Uma vez, falou para mim: ‘Filho, se um dia você for trabalhar com essa máquina, seu pai estará aqui te ensinando a fotografar. Você vem se quiser. Se não quiser, você não vem’. E eu disse que sim”, relata.

Com o mesmo nome do pai, Roberto ganhou o apelido de Stuca. Na trajetória profissional, recebeu conselhos de perto do antecessor. “Filho, já que você quer ir comigo, você está vendo essa máquina fotográfica e essa bolsa com esse peso todo? Com essa máquina e com essa bolsa, vai você vai rodar o mundo. Ela vai te dar oportunidades que nem uma pessoa rica vai poder conhecer”, disse Stuckão. “O ensinamento que mais guardo na vida é o respeito que ele tinha por nós, pelos colegas de trabalho, pela família, além do amor que tinha pela profissão”, completou o filho.

Atualmente, a família de Stuckão tem 33 fotógrafos, incluindo o pai e o avô dele, além de sete tios e dos filhos: Ricardo, o Stuquinha, e Roberto. Esses dois últimos também atuaram como fotógrafos oficiais da presidência da República, nos governos Lula, de 2003 a 2010, e Dilma, de 2011 a 2016. Em nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal lamentou a morte do fotógrafo e prestou condolências e solidariedade à família Stuckert, bem como aos amigos próximos.

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