CORONAVÍRUS

Covid-19: idosos do DF aguardam início de vacinação com terceira dose

Pessoas dessa faixa etária receberão mais um reforço contra a covid-19, a partir da chegada de imunizantes ao DF. Anúncio partiu do Ministério da Saúde. Atendimentos devem começar em 15 de setembro, para quem recebeu segunda aplicação há, ao menos, seis meses

Samara Schwingel
postado em 26/08/2021 06:00 / atualizado em 26/08/2021 08:11
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

O anúncio do Ministério da Saúde de aplicar uma terceira dose em idosos acima de 70 anos mexeu com as emoções desse público, na quarta-feira (25/8). No Distrito Federal, muitos que completaram a imunização seguem uma vida com restrições. Em instituições de longa permanência como asilos, os moradores não ganham abraços de visitantes desde o início da crise sanitária. A expectativa, agora, é pela chegada do momento de um novo reforço. A Secretaria de Saúde (SES-DF) aguarda o envio de vacinas para atender esse público, o que deve ocorrer a partir de 15 de setembro, segundo o Governo Federal.

No DF, há 142.131 idosos com 70 anos ou mais (leia No detalhe). O Ministério da Saúde informou que aplicará a terceira dose naqueles que tomaram a segunda há, ao menos, seis meses. O atendimento seguirá ordem decrescente por grupos de idade, dos mais velhos aos mais novos. Eloy Barbosa de Oliveira, 75, mora em Taguatinga e completou a imunização em 12 de maio. Agora, aguarda ansioso pelo reforço, para ficar mais perto da família. “Estou há muito tempo sem ver os netos”, lamenta.

As duas doses foram cruciais para salvar a vida de Eloy. Ele contraiu a covid-19 e ficou internado em estado grave, mas sobreviveu e não teve sequelas. Depois da experiência, ele reforça a importância da atenção às medidas não-farmacológicas de proteção. “Saí do hospital há três dias e continuo me cuidando direitinho, pois acredito que me infectei após um descuido meu. Agora, é máscara, álcool em gel e distanciamento. Só assim para prevenir (a infecção)”, destaca.

Outra pessoa que tomará a terceira dose sem pestanejar é Olavo David, 84. Morador da 112 Norte, ele conta que permanece angustiado por causa da pandemia e das consequências da crise sanitária. “Estou há muito tempo sem me reunir com a família da mesma forma que antes. Fico apavorado de pensar em pegar covid-19 ou de que algum familiar pegue e fique em estado grave”, desabafa. “Mas confio na ciência e na saúde pública. Quero me proteger, sem essa de escolher a vacina. A melhor é a que tem”, completa.

  • Morador da Asa Norte, Olavo David vai se vacinar com terceira dose contra covid-19
    Olavo David sente falta da família, que não vê há muito tempo para evitar riscos de contágio Arquivo Pessoal
  • Vacinação com duas doses salvou a vida de Eloy, que venceu a covid-19
    Vacinação com duas doses salvou a vida de Eloy, que venceu a covid-19 Arquivo Pessoal

Angústia

Em instituições de longa permanência, a realidade não é diferente. O enfermeiro Diogo Pinheiro, 31, atua no Instituto Integridade — o qual inclui dois lares para idosos e uma creche, todos no Núcleo Bandeirante — e relata que os moradores estão ansiosos para voltar à normalidade. “Mesmo com todos daqui com o ciclo vacinal completo, os cuidados continuam. Conversas são apenas virtuais ou com uma distância de, no mínimo, dois metros. Tudo para evitar que os pacientes peguem a doença”, pontua. “Eles (os idosos) ficam tristes com tanto tempo sem ter contato com algum parente ou amigo. Fazemos o máximo para amenizar isso, mas sabemos da importância de protegê-los contra o novo coronavírus.”

Priscila Fernandes, 29, é psicóloga e coordenadora do Lar dos Velhinhos. Ela afirma que o reforço da dose é bem-vindo, principalmente porque passeios e visitas estão suspensos na instituição. “Na vez de eles tomarem a primeira dose foi uma festa, e tenho certeza que será assim com o reforço. São pessoas muito vulneráveis, que precisam de proteção. A maioria daqui é cadeirante ou tem doenças. Para nós, é importante que eles estejam seguros. Nós tínhamos o costume de ir a feiras e parques, mas nem isso podemos fazer mais. É um pouco angustiante ver a situação”, relata.

Adiantamento

Nesta quinta-feira (26/8), começa a antecipação da segunda dose da Pfizer/BioNTech. A medida vale para todos com aplicação marcada para até 3 de setembro. Quem recebeu o imunizante da Oxford/AstraZeneca e deveria tomar o reforço até 31 de agosto também pode antecipá-lo. Os que não receberem a vacina com antecedência terão de aguardar novo calendário de adiantamento, divulgado pela Secretaria de Saúde.

Integrantes da pasta afirmam que a SES-DF faz cálculos semanais, a fim de verificar a possibilidade de novas antecipações. Ainda não há data para a próxima de quem recebeu a primeira dose da Oxford/AstraZeneca, pois a medida depende da quantidade de imunizantes enviada pelo Ministério da Saúde. Por enquanto, os disponíveis no estoque da Rede de Frio Central do Distrito Federal não são suficientes para uma nova etapa de adiantamentos.

No detalhe

Idosos no Distrito Federal

Com 80 anos ou mais: 42.355

De 75 a 79 anos: 38.594

De 70 a 74 anos: 61.182

Fonte: Secretaria de Saúde (SES-DF)

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Três perguntas para

 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 1/2/21)
crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 1/2/21

Anamélia Bocca, professora de imunologia da Universidade de Brasília (UnB)

Ter dose de reforço é algo normal?
Completamente. É um mecanismo usado com diversos outros imunizantes, não só o da covid-19, para melhorar a resposta imunológica. E é uma medida segura, acima de tudo. A diferença, agora, é que temos visto o desenvolvimento das vacinas contra o Sars CoV-2 (novo coronavírus) em tempo real. O que aconteceu é que ainda não sabíamos se seria necessário reforço ou não. Mas concluíram que sim, e acredito que a decisão é acertada. Assim, evita-se que um novo pico da doença se espalhe pelo público atendido: idosos e imunossuprimidos.

A necessidade do reforço indica ineficácia de alguma vacina específica?
Jamais. O reforço é necessário por causa das pessoas, não do imunizante. Como idosos e imunossuprimidos têm o sistema imunológico mais debilitado do que a população em massa, eles têm uma resposta menor dos anticorpos. Assim, a resposta à vacina é menor. Não tem nada a ver com ineficácia de um imunizante ou de outro. Todos que estão em aplicação no Brasil funcionam. É bom que se destaque isso.

Jovens também terão de receber uma dose de reforço?
Identificaram que, com grande parte da população adulta e jovem vacinada com ao menos uma dose, houve aumento da porcentagem de idosos internados com covid-19. Para evitar um novo pico da doença ou descontrole dela, optou-se pela aplicação do reforço. Se os mais novos precisarão de uma terceira dose, só o tempo vai dizer. Ainda não temos resposta acertada para essa pergunta. Porém, pessoalmente, posso dizer que, se as variantes continuarem a surgir e a pandemia não for controlada, provavelmente, todos precisarão de reforço. Será igual à vacina contra a gripe, que precisamos atualizar todo ano.

Longe da imunidade coletiva

Com os brasilienses atendidos nessa quarta-feira (25/8), o Distrito Federal alcançou a marca de 65% dos cerca de 3 milhões de habitantes imunizados com, ao menos, a primeira dose contra a covid-19. Até o momento, a Secretaria de Saúde (SES-DF) deu início ao calendário vacinal de 1,9 milhão de pessoas, das quais 731.116 receberam o reforço. Além delas, 55.971 tomaram o imunizante de dose única.

Mesmo com a aceleração, a infectologista Joana D'Arc Gonçalves lembra que o DF está longe de alcançar a taxa necessária para a imunidade coletiva. “Só vamos atingi-la quando tivermos mais de 70% da população imunizada com duas doses”, ressalta. A especialista acrescenta um agravante: a falta de controle sobre a cepa Delta. “Não há testagem em massa. Logo, não temos um cenário real da (evolução da) pandemia”, completa.

Entre terça (24/8) e quarta-feira (25/8), a SES-DF registrou mais 739 infectados e 18 mortes por covid-19. No total, são 466.294 casos e 9.966 vítimas. Com a atualização, a média móvel de infecções fechou o dia em 69 — 14,2% a mais que o registrado duas semanas antes. O resultado referente às mortes ficou em 14,71, com alta de 8,4% em relação ao mesmo período. A taxa de transmissão está em 0,98.

Vacinação nesta quinta-feira (26/8)

• Pessoas a partir dos 17 anos;

• Aplicação de segunda dose regular;

• Antecipação de segunda dose da Pfizer (doses agendadas para até 3 de setembro);

• Antecipação de segunda dose da AstraZeneca (doses agendadas até a próxima terça-feira, 31/8).

 

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